Liberato Veríssimo dos Santos: O legado do “Rei da Pintura”

Reconhecido pela habilidade em pintura automotiva, Liberato Veríssimo dos Santos deixou um impacto duradouro em sua comunidade.
Reconhecido pela habilidade em pintura automotiva, Liberato Veríssimo dos Santos deixou um impacto duradouro em sua comunidade.

Liberato Veríssimo dos Santos, conhecido como “Mestre Liba” e denominado “Rei da Pintura”, conquistou seu título devido à qualidade de seu trabalho na pintura de veículos automotores, em um período em que encontrar a tonalidade exata das tintas era um desafio considerável. Embora tenha falecido, sua obra e o impacto de sua carreira continuam a ressoar. Sem formação acadêmica formal, Liba demonstrou que o verdadeiro aprendizado pode ocorrer fora das salas de aula, evidenciado pelo reconhecimento coletivo de sua dedicação e habilidade.

Nascido em 23 de março de 1918 no distrito de Ipuaçu, que na época era conhecido como Gameleira, Liberato era filho de João Veríssimo Santos e Dona Damiana Santos Souza. Aos dez anos, deixou o distrito, localizado a 14 km da cidade de Princesa, buscando oportunidades no ambiente urbano, onde a vida rural já não oferecia mais perspectivas. Iniciou sua trajetória profissional como entregador de leite, função que exigia pontualidade e responsabilidade, assegurando a satisfação de seus clientes. Em seguida, atuou como auxiliar de sapateiro, reconhecendo a necessidade de aprender uma profissão.

Logo, decidiu seguir sua intuição e se tornar pintor de carros, uma profissão em ascensão, que apresentava desafios em um cenário onde a pistola de pintura começava a substituir os pincéis tradicionais. Em 1937, ingressou na Oficina Cruz Vermelha, propriedade de Miguel Porto, localizada na Praça Fróes da Mota. Ali, Liba deu os primeiros passos no manuseio da pistola de pintura, determinado a fazer seu nome ser reconhecido. A validação de seu talento por parte de Miguel, que afirmava que “o menino é bom”, impulsionou seu crescimento profissional.

O aprendizado sob a tutela de Antônio Sombrinha, um pintor experiente, contribuiu significativamente para sua formação. A relação entre mestre e aluno era marcada pelo interesse e dedicação, refletindo a importância do papel do professor na formação do aprendiz. A busca por melhores oportunidades levou Liberato à Oficina Socorro, um estabelecimento maior que proporcionou um maior campo de atuação. Durante este período, Feira de Santana emergiu como um polo automotivo estratégico, aumentando a demanda por mecânicos e pintores.

Em 1954, Liba decidiu abrir sua própria oficina, a Oficina Liberato, situada na Rua Castro Alves, no centro da cidade. A oficina rapidamente se tornou um local de referência, atraindo uma clientela composta por profissionais de diversas áreas que buscavam a qualidade e o capricho de suas pinturas. A fama de “Mestre Liba” se espalhou, com clientes vindo de cidades como Recife, Maceió, Natal e até mesmo do Rio de Janeiro, em busca de sua especialidade. Ele se destacou na difícil tarefa de pintar ou retocar automóveis sem deixar marcas visíveis, demonstrando maestria na mistura de tintas e na aplicação de acabamentos.

Liberato, que se apresentava de maneira marcante, gostava de aproveitar seu tempo livre com leitura e música. Ele não apenas apreciava as obras de cantores renomados, mas também era ativo na Filarmônica Euterpe Feirense, onde tocava bombo, além de tocar violão em encontros sociais. Em sua oficina, ele valorizava a fluidez do trabalho e sempre enfatizava a importância de cumprir prazos e manter a satisfação do cliente. Seu compromisso em ensinar e formar novos profissionais é evidenciado na trajetória de ex-alunos como Raimundo Cachoeira e Raimundo Santos “Cabeleira”, que se tornaram referências na pintura automotiva.

Liberato, conhecido por sua busca incessante pela perfeição, tornou-se o profissional mais respeitado na área de pintura na Bahia. A importância de sua figura é reforçada pelas palavras de Agenor, um ex-colaborador que afirmou: “Liberato era como um pai. Ele era exigente porque queria um serviço perfeito, mas também ensinava como deveria ser feito. Isso não vou esquecer nunca”. Após 60 anos de atividade, Liberato decidiu encerrar suas atividades, garantindo que todos os direitos de seus funcionários fossem respeitados.

Em 4 de setembro de 2016, aos 98 anos, Liberato Veríssimo dos Santos faleceu, deixando um legado duradouro que se estende além da sua obra. Sua história continua a inspirar muitos que conheceram seu trabalho e sua dedicação.


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