Reeleição de Donald Trump nos EUA preocupa Europa com possíveis impactos na Extrema Direita

Donald Trump é visto como fator de isolamento para a União Europeia e incentivador de políticas populistas globais.
Donald Trump é visto como fator de isolamento para a União Europeia e incentivador de políticas populistas globais.

Com a reeleição de Donald Trump nos Estados Unidos, líderes europeus se mobilizam para enfrentar um cenário político que promete intensificar tensões no continente. A expectativa é de que o novo mandato de Trump influencie a extrema direita europeia, provoque mudanças na aliança transatlântica e aumente incertezas em relação a temas sensíveis como a Guerra na Ucrânia e a estabilidade da OTAN.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, foi uma das primeiras a parabenizar Trump, reiterando a importância da aliança entre a União Europeia e os Estados Unidos. Em seu discurso, Von der Leyen destacou a parceria entre as duas potências, afirmando que o bloco e os EUA compartilham uma aliança baseada em laços econômicos e históricos que envolvem 800 milhões de cidadãos. Apesar da mensagem diplomática, a resposta de Bruxelas reflete a preocupação com possíveis mudanças nas políticas norte-americanas, que podem desestabilizar relações comerciais e diplomáticas que há décadas sustentam a relação entre os continentes.

Uma das principais áreas de preocupação é o comércio. Em seu discurso de campanha, Trump mencionou a possibilidade de aumentar as tarifas sobre importações europeias, o que poderia afetar milhões de empregos e bilhões em investimentos transatlânticos. Esse cenário pressiona a Europa a revisar sua política comercial e preparar uma resposta caso tarifas sejam impostas, situação que pode impactar empresas e consumidores dos dois lados do Atlântico.

Outro ponto de alerta para a Europa é o posicionamento de Trump em relação à Guerra na Ucrânia. Durante a campanha, Trump prometeu encerrar o conflito rapidamente, o que poderia envolver concessões ao presidente russo, Vladimir Putin. Essa possibilidade preocupa líderes europeus, que receiam que um acordo de cessar-fogo unilateral enfraqueça a resistência ucraniana e favoreça interesses russos na região. A posição de Trump, alinhada à postura de líderes europeus de extrema direita como Viktor Orbán, levanta questões sobre o futuro da política de segurança do continente e sobre o comprometimento dos EUA com a integridade territorial da Europa.

Orbán, primeiro-ministro da Hungria, que atualmente preside o Conselho da União Europeia, vê na vitória de Trump um impulso para sua agenda populista e para fortalecer sua posição no cenário europeu. Orbán, que já classificou a reeleição de Trump como um marco na política ocidental, compartilha com ele posições contrárias à imigração e de apoio a Putin, além de críticas à assistência militar da Europa a Kiev. Líderes de outros países europeus, como o primeiro-ministro eslovaco Robert Fico e a primeira-ministra italiana Giorgia Meloni, também veem em Trump um aliado importante e manifestaram apoio à continuidade da relação próxima com os EUA, enfatizando a importância dessa aliança para seus respectivos países.

A questão da segurança e o futuro da OTAN também estão em pauta. Desde seu primeiro mandato, Trump questiona o envolvimento dos EUA na aliança, sugerindo que o país poderia reduzir seu compromisso com a defesa europeia se os membros da OTAN não cumprirem suas metas de investimento militar. Esse posicionamento leva países europeus a reavaliar suas estratégias de defesa, já que o possível afastamento dos EUA da OTAN pode exigir que os membros europeus aumentem seus investimentos em segurança e desenvolvam capacidades de defesa independentes.

Revistas francesas analisam isolamento europeu e avanço do populismo com retorno de Trump

Revistas francesas apresentam análises críticas sobre o retorno de Donald Trump à Casa Branca e suas implicações para a União Europeia (UE) e o cenário global. Em seu editorial, a revista L’Express destaca o risco de isolamento crescente da Europa, que observa as principais potências globais, China e Estados Unidos, disputarem protagonismo em uma competição intensa. Para a publicação, a volta de Trump inaugura uma fase de protecionismo e intensificação de guerras comerciais, o que pode restringir o papel da Europa no comércio e na política global, colocando o bloco em uma posição de expectador diante de mudanças que moldam a ordem internacional.

L’Express alerta que a política externa de Trump deve priorizar a manutenção dos EUA como potência dominante, promovendo um protecionismo agressivo. A revista enfatiza que “o planeta gira e a Europa observa”, um cenário que exige uma resposta estratégica da União Europeia. Segundo o editorial, o caminho viável para o bloco é assumir plenamente sua posição de potência independente, apoiando-se em sua diversidade, nos valores comuns e no potencial de inovação dos 27 países-membros, com uma população total de 450 milhões de habitantes. Esse potencial poderia consolidar a UE como um ator relevante em um mundo em transformação, mas, para isso, seria fundamental reduzir a dependência dos Estados Unidos.

Em uma análise complementar, a revista Le Nouvel Obs publica um artigo da socióloga e cientista política Marie-Cécile Naves, diretora de pesquisas no Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas (IRIS), que examina o impacto do “populismo de segunda geração” representado por Trump. Segundo Naves, o programa “Make America Great Again” (MAGA) opera sobre uma narrativa de violência e exclusão, combinando liberdades econômicas com restrições sociais autoritárias. Para a cientista política, Trump adota um discurso em que o combate à concorrência estrangeira assume o papel central, caracterizando a competição externa como uma ameaça “hostil” aos interesses dos EUA.

Esse fenômeno populista se mostra como uma tendência global que influencia a geopolítica, observa Naves, ao identificar um padrão em que o inimigo externo é utilizado para mobilizar o apoio popular. O populismo que Trump representa enfatiza a ameaça de atores estrangeiros e promove uma postura interna de proteção nacional em detrimento de parcerias e alianças tradicionais.

Outro aspecto destacado nas análises francesas refere-se à recente derrota de Kamala Harris na disputa presidencial, observada pela revista Le Point. O editorial atribui a derrota de Harris a uma repetição da estratégia usada por Hillary Clinton em 2016, que envolveu apoio de setores elitistas, como Hollywood e grandes veículos de mídia, e uma abordagem voltada para grupos identitários específicos. Para a publicação, essa estratégia demonstrou-se pouco eficaz diante de um eleitorado mais inclinado ao discurso unificador de Trump, que enfatizou os Estados Unidos como um todo. Segundo Le Point, o resultado evidencia uma preferência dos eleitores por um discurso patriótico em oposição a estratégias comunitárias segmentadas.

A revista conclui que a campanha de Trump soube conquistar eleitores de diversas origens, inclusive entre minorias, ao focar em uma retórica de fortalecimento nacional e menos centrada em divisões sociais, uma abordagem que lhe rendeu apoio em diferentes grupos.

*Com informações da RFI.


Discover more from Jornal Grande Bahia (JGB)

Subscribe to get the latest posts sent to your email.

Facebook
Threads
WhatsApp
Twitter
LinkedIn

Deixe um comentário

Discover more from Jornal Grande Bahia (JGB)

Subscribe now to keep reading and get access to the full archive.

Continue reading

Privacidade e Cookies: O Jornal Grande Bahia usa cookies. Ao continuar a usar este site, você concorda com o uso deles. Para saber mais, inclusive sobre como controlar os cookies, consulte: Política de Cookies.