Um em cada 3 professores de escolas públicas do Brasil não tem formação adequada, aponta anuário

Estudo revela que um em cada três professores de escolas públicas no Brasil não possui formação adequada para as disciplinas que leciona.
Estudo revela que um em cada três professores de escolas públicas no Brasil não possui formação adequada para as disciplinas que leciona.

Um em cada três professores de escolas públicas no Brasil não possui formação adequada para a disciplina que leciona, segundo o Anuário Brasileiro da Educação Básica, lançado nesta quarta-feira (13/11/2024) pela organização Todos Pela Educação, em parceria com a Fundação Santillana e a Editora Moderna. A publicação reúne dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Ministério da Educação, abordando o panorama da formação docente e condições de trabalho dos professores no país.

O estudo aponta que 68% dos professores da rede pública possuem formação adequada para lecionar na educação infantil e no ensino médio, enquanto nos anos iniciais do ensino fundamental, do 1º ao 5º ano, essa porcentagem é de 79%. Entretanto, nos anos finais do ensino fundamental, do 6º ao 9º ano, o percentual cai para 59%, indicando um déficit significativo na formação especializada dos professores para essas séries.

O gerente de Políticas Educacionais do Todos Pela Educação, Ivan Gontijo, esclarece que para um professor ser considerado adequado à disciplina que leciona, ele deve ter licenciatura específica na área.

“Um professor de química, por exemplo, só é considerado adequado se possuir licenciatura em química. Caso ele seja licenciado em física e esteja lecionando química, sua formação é considerada inadequada”, explica Gontijo.

O levantamento revela também que, em nível nacional e considerando tanto escolas públicas quanto privadas, 12,8% dos professores não possuem graduação. Na educação infantil, esse índice atinge 20,5%, enquanto no ensino médio, 96% dos professores têm algum nível de graduação. Em relação ao percentual de docentes com licenciatura, a média nacional é de 84,5%.

Diante desse cenário, Gontijo aponta que uma das possíveis soluções inclui a alocação de professores em uma única escola com cargas horárias completas e o incentivo para que eles obtenham licenciaturas específicas nas áreas em que atuam.

“É importante que os professores tenham uma jornada adequada em uma única escola e acesso a programas de segundas licenciaturas”, defende.

Em relação aos salários, o anuário mostra que, em 2023, o rendimento médio dos professores com ensino superior na rede pública foi de R$ 4.942, correspondendo a 86% do rendimento de outros profissionais com a mesma escolaridade, que é de R$ 5.747. Esse valor representa uma melhora em relação a 2013, quando o rendimento dos professores era 71% do salário médio dos demais profissionais. No entanto, o regime de contratação dos docentes sofreu mudanças. O estudo destaca o crescimento de contratos temporários nas redes estaduais, onde mais de 50% dos professores são temporários.

O anuário também traz dados sobre o Plano de Cargos e Carreiras dos professores. Segundo o levantamento, 96,3% das redes municipais e 100% das estaduais possuem o plano, que estabelece critérios de progressão e carga horária. Entre os municípios, 82,9% limitam dois terços da carga horária para atividades de interação com estudantes, enquanto o restante é destinado ao planejamento. Nas redes estaduais, essa previsão é de 85,2%.

Outro dado relevante é o aumento do ensino a distância na formação docente. Atualmente, quase dois terços dos licenciandos no Brasil cursam a graduação a distância, correspondendo a 67% do total de matrículas em 2023, um aumento significativo em comparação a 2013, quando havia 446 mil matrículas nessa modalidade. O coordenador-geral do Movimento Profissão Docente, Haroldo Corrêa Rocha, observa que, embora o ensino a distância democratize o acesso ao ensino superior, sua eficácia na formação de professores permanece em discussão.

O Plano Nacional de Educação (PNE), prorrogado até 2025, prevê a formação superior específica para todos os professores da educação básica e a equiparação salarial com profissionais de escolaridade equivalente. A meta salarial deveria ter sido alcançada até 2020. Em resposta às deficiências apontadas, o ministro da Educação, Camilo Santana, anunciou o lançamento de um conjunto de ações para a valorização dos professores, incluindo bolsas para licenciandos, previsto para novembro.

O Anuário Brasileiro da Educação Básica 2024, que contém todos esses dados e análises, está disponível para consulta pública na internet.

*Com informações da Agência Brasil.


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