A vitória de Donald Trump nas eleições dos Estados Unidos trouxe consigo uma série de repercussões políticas, econômicas e sociais não apenas para o país, mas também para o cenário global. O cientista político Thomás Zicman de Barros, da Sciences-Po, analisou o impacto do retorno do ex-presidente à Casa Branca, destacando o fortalecimento dos movimentos de extrema direita e uma possível crise interna no Partido Democrata, especialmente após a derrota de Kamala Harris.
Zicman ressalta que a autocrítica do Partido Democrata é um fator essencial para compreender o triunfo de Trump. Segundo ele, embora a economia americana apresente crescimento e uma redução nas taxas de desemprego, há uma percepção generalizada de que a qualidade dos empregos não tem acompanhado esse progresso.
“A sensação de que o custo de vida aumentou para muitos americanos é real, e o Partido Democrata tem perdido apoio da classe trabalhadora”, aponta o cientista político.
Ele sugere que os democratas se distanciaram da base tradicional de apoio, composta pela classe trabalhadora, ao se tornarem predominantemente um partido de elites urbanas.
Com a eleição de Trump, o Partido Republicano se consolidou ainda mais, com uma base de burocratas experientes e alinhados aos seus interesses. Zicman observa que o retorno do republicano à presidência reflete um crescimento significativo de sua base, inclusive entre grupos tradicionalmente desfavoráveis à sua candidatura, como os eleitores negros e latinos.
“Trump cresceu nesses grupos, e isso se deve ao fato de que ele já foi presidente. Na pior das hipóteses, para alguns eleitores, voltar ao passado parece seguro”, explica o cientista político.
O fortalecimento de Trump dentro do Partido Republicano pode ter implicações profundas para a democracia americana, particularmente com a recente conquista republicana no Senado e o perfil conservador da Suprema Corte.
“A Suprema Corte foi moldada por Trump para apoiar uma visão de poder presidencial com menos limitações. Isso fragiliza a própria democracia americana”, alerta Zicman.
Em uma análise de seus efeitos além das fronteiras dos Estados Unidos, Zicman destaca que a reeleição de Trump pode acelerar retrocessos em políticas de direitos civis, especialmente para mulheres e minorias. O cientista político prevê também um impacto significativo nas relações internacionais, com Trump se posicionando como um “epicentro para a organização da extrema-direita global”. Esse fenômeno poderia ter implicações diretas para países como o Brasil, onde a proximidade entre Trump e Jair Bolsonaro é uma constante.
No campo econômico, o retorno de Trump à presidência pode prejudicar o Brasil, especialmente em sua relação com os Estados Unidos. Trump já havia manifestado sua intenção de aumentar tarifas sobre produtos de países parceiros, o que pode afetar negativamente as exportações brasileiras. Além disso, a crescente guerra comercial com a China, principal parceiro comercial do Brasil, coloca o país diante de um dilema econômico, forçando-o a escolher entre os dois gigantes comerciais.
Outro ponto de preocupação é a questão ambiental. Com a conferência do clima COP 2025 sendo sediada no Brasil, a reeleição de Trump, que durante seu primeiro mandato retirou os Estados Unidos do Acordo de Paris, pode enfraquecer os esforços globais para combater a crise climática. Zicman classifica Trump como um “negacionista climático”, apontando que sua volta à presidência poderá acelerar a deterioração da situação climática global.
*Com informações da RFI.
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