Rebeldes assumem poder na Síria enquanto França e imprensa questionam confiabilidade de novo líder

França condicionou seu apoio à transição política na Síria ao compromisso do grupo rebelde Hayat Tahrir al Sham de romper com práticas extremistas.
França condicionou seu apoio à transição política na Síria ao compromisso do grupo rebelde Hayat Tahrir al Sham de romper com práticas extremistas.

Rebeldes sírios liderados pelo grupo Hayat Tahrir al-Sham (HTS) anunciaram neste domingo (08/12/2024) um toque de recolher em Damasco após tomarem o controle da capital, decretando medidas para assegurar a ordem pública. O líder do HTS, Abu Mohammad al-Jolani, chegou à cidade poucas horas após a queda do regime do presidente Bashar al-Assad, que teria fugido do país, encerrando o governo de décadas da dinastia Assad.

Os rebeldes afirmaram que a ofensiva, iniciada há menos de duas semanas, resultou na derrocada do regime. Abu Mohammad al-Jolani, que pediu para ser chamado por seu nome civil, Ahmed Hussein al-Chareh, foi recebido por multidões na Mesquita dos Omíadas, onde discursou em meio a gritos de apoio. O líder destacou a necessidade de unidade nacional durante o período de transição.

O primeiro-ministro sírio, Mohammad Ghazi al Jalali, anunciou estar disposto a colaborar com a transição e propôs a realização de eleições livres para decidir o futuro político do país. Ele iniciou contatos com os rebeldes para estabelecer as bases de um processo que integre diferentes grupos com interesses divergentes, incluindo islamistas radicais e forças apoiadas por potências internacionais, como Estados Unidos, Rússia e Turquia.

Analistas apontam que a queda do regime Assad foi precipitada por fatores internos e pela perda de apoio internacional. Hasni Abidi, diretor do Centro de Estudos e Pesquisas sobre o Mundo Árabe e Mediterrâneo, destacou que o colapso do Exército sírio e a fragmentação do regime facilitaram a ofensiva rebelde. Segundo ele, os grupos islâmicos que lideraram a tomada de Damasco aprenderam com alianças anteriores e atuaram de forma coordenada para assegurar o avanço.

A Turquia, que apoia os rebeldes, declarou estar pronta para colaborar na reconstrução do país e garantir sua unidade. O ministro das Relações Exteriores turco, Hakan Fidan, afirmou que a estabilidade e a segurança da Síria são prioridades, destacando a importância de viabilizar o retorno de milhões de refugiados sírios. Outros países da região, como Jordânia e Israel, também se manifestaram, enquanto França e União Europeia consideraram os acontecimentos um marco positivo para o futuro do país.

O próximo desafio será estabilizar as áreas sob controle rebelde e definir como a comunidade internacional lidará com a nova administração, na qual o grupo HTS exerce influência significativa. A situação exige negociações delicadas, dada a diversidade de interesses internos e externos envolvidos.

França condiciona apoio à transição política na Síria à ruptura dos rebeldes com extremismo

A França declarou que seu apoio à transição política na Síria dependerá do compromisso do grupo rebelde Hayat Tahrir al Sham (HTS) em romper com o extremismo e organizar um processo inclusivo para todas as minorias do país. Em entrevista à rádio Franceinfo, o chanceler Jean-Noël Barrot destacou a necessidade de respeitar a diversidade étnica, política e religiosa da Síria como condição para estabelecer um Estado forte.

Barrot relembrou a repressão a protestos pacíficos em 2012, que levou ao rompimento das relações diplomáticas entre França e Síria. Ele enfatizou que a transição não deve abrir espaço para extremismo, citando a responsabilidade dos líderes rebeldes em demonstrar intenções claras de afastar o jihadismo do processo político.

O conflito recente resultou na renúncia de Bashar al-Assad, que buscou asilo na Rússia. A ofensiva rebelde iniciada em Idlib culminou na entrada em Damasco, onde manifestações marcaram a celebração do fim de seu governo. O Observatório Sírio de Direitos Humanos relatou mais de 900 mortes durante os combates, além do deslocamento de 370 mil pessoas.

A comunidade internacional reage com cautela. A China pediu uma solução pacífica para a crise, enquanto os Estados Unidos e Israel destacaram a importância de impedir a reorganização do Estado Islâmico na região. O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, ordenou medidas para proteger a fronteira nas Colinas de Golã, enquanto a Rússia garantiu a segurança de suas bases no país.

O líder da coalizão rebelde, Abu Mohammed al-Jolani, anunciou o início de uma nova era na Síria, mas a situação permanece incerta. O secretário-geral da ONU, António Guterres, celebrou o fim do regime, reforçando a necessidade de evitar o caos e divisões futuras.

Imprensa francesa questiona confiabilidade de novo líder sírio após queda de Bashar al-Assad

A imprensa francesa repercute amplamente o desfecho da ditadura da família Assad, encerrada após mais de 50 anos com a queda de Bashar al-Assad. Abu Mohammed al-Jolani, líder do grupo Hayat Tahrir al-Sham (HTS), emerge como a figura central no novo cenário político sírio, após uma ofensiva rebelde que tomou Damasco e forçou Assad ao exílio. Apesar da transição, dúvidas permanecem sobre a confiabilidade de Jolani, cujo verdadeiro nome é Ahmed al-Sharaa, conforme destaca o jornal Le Monde.

Segundo a publicação, Jolani conseguiu disciplinar os rebeldes e evitar represálias contra minorias religiosas durante a ofensiva de 12 dias. No entanto, seu histórico como membro da Al-Qaeda e do Estado Islâmico e seu envolvimento em ações insurgentes contra tropas americanas no Iraque levantam incertezas sobre suas intenções e capacidade de liderar uma transição pacífica.

O jornal também traça um perfil detalhado do líder, destacando sua origem em uma família de classe média alta saudita, sua juventude em Damasco e sua breve passagem pela faculdade de Medicina. Jolani, que adotou seu nome de guerra em homenagem às Colinas de Golã, atualmente ocupadas por Israel, busca consolidar sua liderança no cenário fragmentado da oposição síria.

Enquanto isso, a publicação Libération relata uma atmosfera de celebração entre os sírios, com o retorno de milhares de refugiados aos seus lares. A alegria, no entanto, é acompanhada por incertezas sobre o futuro do país, dado o cenário político fragmentado e a permanência do HTS na lista de organizações terroristas dos países ocidentais.

O ministro das Relações Exteriores da França, Jean-Noel Barrot, destacou a necessidade de responsabilizar Assad pelos crimes cometidos durante seu governo e reafirmou o compromisso com a justiça e a verdade. Apesar disso, as dúvidas sobre o papel de Jolani na transição síria e sua capacidade de articular uma governança inclusiva com outras facções insurgentes continuam a ser objeto de debate.

*Com informações da RFI.


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