A Revolta dos Malês, que ocorreu em 24 de janeiro de 1835 em Salvador, Bahia, marcou a maior insurreição de escravizados na história urbana do Brasil. Durante a rebelião, um grupo de aproximadamente 600 africanos, predominantemente muçulmanos, desafiou as autoridades coloniais e a população branca, levando a uma série de confrontos violentos que duraram mais de três horas. O evento é lembrado não apenas por sua importância no movimento abolicionista, mas também pela forma como os escravizados se organizaram estrategicamente para combater o sistema colonial.
O levante foi articulado por um grupo de muçulmanos africanos, conhecidos como malês, que estavam entre os escravizados urbanos em Salvador. A revolta foi marcada pela tentativa de libertação de Pacífico Licutã, um escravizado que estava preso, e pela intenção de seguir para os engenhos da região. No entanto, a falta de apoio e a repressão brutal pelas forças coloniais impediram a vitória dos insurretos.
De acordo com o historiador Clóvis Moura, a revolta não foi uma explosão repentina, mas um movimento planejado com antecedência. O grupo criou um clube secreto e organizou encontros em diversos pontos da cidade para articular a ação. Moura aponta que o fundo financeiro para financiar o levante, bem como o apoio das irmandades cristãs e terreiros de Candomblé, foram cruciais para o avanço do movimento. A rebelião foi antecipada por uma delação e, embora não tenha logrado êxito, é considerada uma das revoltas mais sérias entre os escravizados nas Américas.
O movimento é lembrado em diversos aspectos culturais até os dias de hoje, como evidenciado pelo bloco afro Malê Debalê, que homenageia a luta dos malês desde 1979. A literatura, como o livro Um Defeito de Cor, de Ana Maria Gonçalves, e o longa-metragem Malês, de Antônio Pitanga, também abordam a Revolta dos Malês, mantendo viva sua memória histórica. Em Salvador, a exposição Eco Malês, que está em cartaz até maio de 2025, reúne 114 obras de arte contemporânea inspiradas no evento, evidenciando sua importância no contexto da luta contra a escravidão.
O episódio de 1835 ainda ecoa como símbolo da resistência escrava e do desafio às estruturas de opressão, refletindo uma resistência que vai além do passado, influenciando movimentos culturais e sociais no presente. A Revolta dos Malês não apenas representou uma tentativa de subversão do status quo colonial, mas também a luta por liberdade e direitos humanos, cuja lembrança se mantém viva no cenário baiano e brasileiro.
*Com informações da Agência Brasil.
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