Risco de golpe ameaçou posse de José Sarney e redemocratização no Brasil, relembra historiador

Em 15 de março de 1985, a posse de José Sarney e a volta da democracia no Brasil estiveram ameaçadas por uma tentativa de golpe.
Em 15 de março de 1985, a posse de José Sarney e a volta da democracia no Brasil estiveram ameaçadas por uma tentativa de golpe.

Em 15 de março de 1985, o Brasil vivia um momento decisivo em sua redemocratização. O presidente eleito, Tancredo Neves, deveria assumir o cargo, mas, devido a complicações de saúde, não pôde ser empossado. Nesse contexto, o vice-presidente eleito, José Sarney, assumiu a presidência interinamente, garantindo a continuidade do processo democrático no país. Contudo, este episódio quase teve um desfecho diferente, pois militares conspiraram para impedir a posse de Sarney, o que poderia ter retardado a redemocratização e dado à ditadura uma sobrevida.

Tancredo Neves, ciente de sua saúde debilitada, havia optado por adiar sua operação para após a posse, visando garantir que a redemocratização fosse consumada. No entanto, no dia 14 de março, ele foi submetido a uma cirurgia de emergência devido a uma crise intestinal e não pôde comparecer à cerimônia de posse. Golpistas nas Forças Armadas aproveitaram essa situação para tentar barrar a posse de Sarney, que até então havia se distanciado dos militares ao filiar-se ao PMDB e apoiar a candidatura de Tancredo.

De acordo com o historiador Antonio Barbosa, os golpistas se dividiram em duas frentes: uma questionando a legalidade da posse de Sarney, uma vez que a legislação não previa uma situação em que o vice-presidente assumisse sem o titular, e outra motivada pela rejeição dos militares ao próprio Sarney, ex-integrante do PDS, partido de apoio à ditadura. Para impedir a posse de Sarney, o presidente João Figueiredo teria solicitado ao ministro do Exército, general Walter Pires, que barrasse o processo.

A tentativa de golpe foi frustrada pela exoneração dos ministros da ditadura, publicada no Diário Oficial, e pela ação do ministro do Exército indicado por Tancredo, Leônidas Pires Gonçalves, que garantiu a repressão aos golpistas, assegurando a posse de Sarney. Figueiredo, por sua vez, se recusou a passar a faixa presidencial para Sarney, mas não impediu formalmente a posse, que aconteceu com base em uma solução política: a apresentação de um laudo médico que atestava a impossibilidade de Tancredo de comparecer ao Parlamento.

A transição política, que teve início com o governo de Ernesto Geisel, passou por etapas como a Lei da Anistia, que beneficiou os agentes da repressão, e a rejeição das eleições diretas em 1984, que restringiram a participação popular nas escolhas presidenciais. Tancredo, com seu temperamento conciliador, foi visto como uma figura de consenso entre os militares e a oposição, e sua eleição representava um passo em direção à democratização. No entanto, sua morte, em 21 de abril de 1985, deixou Sarney como responsável pela finalização da transição.

Sarney, ao convocar a Assembleia Constituinte em 1987, fortaleceu sua imagem como o garante da redemocratização, culminando na Constituição de 1988, que consolidou a democracia no Brasil. Esse processo, marcado pela negociação e ausência de rupturas violentas, foi crucial para a pacífica transição do regime militar para o democrático.

*Com informações da Agência Senado.


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