Especialista explica a reeleição de Daniel Noboa no Equador

Daniel Noboa foi reeleito presidente do Equador em 13 de abril de 2025, após uma campanha marcada por manobras políticas e forte apoio internacional.
Daniel Noboa foi reeleito presidente do Equador em 13 de abril de 2025, após uma campanha marcada por manobras políticas e forte apoio internacional.

O Equador realizou suas eleições presidenciais no último fim de semana (13/04/2025) em um cenário de tensão e incertezas, mas o resultado surpreendeu com a reeleição de Daniel Noboa, que obteve 55,65% dos votos até o momento, com 97,33% das urnas apuradas. A vitória do presidente em exercício veio após uma disputa acirrada no primeiro turno, onde Noboa superou sua principal adversária, Luisa González, por uma diferença de apenas 17 mil votos. A pergunta que surge é: o que mudou em dois meses para a reeleição de Noboa?

Victor Cabral, doutorando em relações internacionais pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), analisou o pleito e apontou que o presidente teve recursos para fortalecer sua posição política.

“O presidente tinha a caneta na mão. Decretou estado de exceção, intensificou a presença militar nas ruas e inaugurou obras públicas nesse intervalo. Ele teve tempo e recursos para se tornar o protagonista da campanha”, disse Cabral.

A legalidade da candidatura de Noboa foi questionada, uma vez que a Constituição do Equador exige que o presidente se desincompatibilize do cargo para concorrer à reeleição. Noboa não fez isso e, ao invés de transferir o cargo para sua vice, Verónica Abad, manobrou politicamente para afastá-la e manter-se no poder.

Após o anúncio da vitória, Luisa González se recusou a reconhecer os resultados e alegou fraude eleitoral, afirmando que o presidente manipulou o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) e usou o estado de exceção para intimidar opositores. Contudo, até o momento, não há evidências concretas que sustentem tais alegações. Cabral ressaltou que, apesar da reclamação de González, organismos internacionais, como a Organização dos Estados Americanos (OEA) e a Conferência Permanente de Partidos Políticos da América Latina e Caribe (COPPPAL), atestaram a normalidade do processo eleitoral.

A análise de Adriano Cerqueira, professor de relações internacionais do Ibmec Belo Horizonte, destaca o contexto internacional como um fator fundamental para a consolidação da candidatura de Noboa. A influência norte-americana na região, especialmente após a vitória de Donald Trump, teve papel relevante. O presidente dos EUA e Noboa mantiveram uma relação diplomática estreita, com destaque para o encontro de Noboa com Trump em Miami e visitas de autoridades dos EUA ao Panamá. Segundo Cerqueira, essa aproximação foi bem recebida pela população equatoriana, especialmente por associar os gestos diplomáticos com o combate ao narcotráfico, tema central da campanha de Noboa.

Outro fator importante foi a crescente violência e insegurança pública no país. A escalada da violência, principalmente em cidades como Guayaquil, fez com que Noboa adotasse medidas de segurança rigorosas. Embora sua popularidade tenha oscilado, ele foi capaz de manter uma imagem de líder firme no enfrentamento da crise.

Cabral ponderou que, apesar das medidas autoritárias adotadas por Noboa, ainda não é possível classificá-lo como autocrático.

“Há riscos quando se brinca com os limites democráticos, mas por enquanto, o Equador segue sendo uma democracia, com desafios evidentes”, afirmou.

Internamente, Noboa enfrentará o desafio de responder à escalada da violência e ao crescimento do narcotráfico. A pressão popular por medidas mais efetivas em relação à segurança é crescente. O professor Cerqueira alerta para o risco de seguir o modelo salvadorenho de combate à criminalidade, que, embora citado como referência, tem sido alvo de críticas devido ao seu caráter autoritário.

“O desafio é enfrentar esses problemas sem romper com o regime democrático”, concluiu Cerqueira.

*Com informações da Sputnik News.


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