Estimativa de rombo previdenciário é questionada por especialistas

Economistas apontam fragilidade nas projeções de longo prazo divulgadas pelo Tesouro Nacional.
Economistas apontam fragilidade nas projeções de longo prazo divulgadas pelo Tesouro Nacional.

Especialistas em economia criticaram as estimativas de crescimento das despesas com a Previdência Social divulgadas no Balanço Geral da União (BGU) de 2024, apontando incertezas nas projeções de longo prazo feitas pelo Tesouro Nacional. O relatório indica que, até o final do século, os gastos com o Regime Geral de Previdência Social (RGPS) podem dobrar, o que reacendeu o debate sobre possíveis reformas previdenciárias.

Divulgado na semana passada, o BGU projeta que os gastos com o RGPS, que inclui aposentadorias e pensões de trabalhadores do setor privado, rural e beneficiários da assistência social, saltarão de 8,17% para 16,98% do Produto Interno Bruto (PIB) entre 2025 e 2100. O relatório também estima que a necessidade de financiamento do sistema aumentará de 2,68% para 11,61% do PIB.

Para chegar aos resultados, foram considerados parâmetros como receita previdenciária constante em 5,38% do PIB e inflação anual de 3%. A base para essas projeções está na Norma Brasileira de Contabilidade de Serviços Públicos (NBC TSP) 29, que recomenda análises de sustentabilidade de benefícios sociais a longo prazo.

Apesar da metodologia, Maurício Andrade Weiss, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), considera as projeções incertas. Segundo ele, mudanças econômicas e demográficas imprevisíveis comprometem a precisão de estimativas com horizonte superior a 70 anos.

Ainda assim, autoridades do Tesouro defenderam uma nova discussão sobre o sistema previdenciário. O subsecretário de contabilidade pública do Tesouro, Heriberto Nascimento, afirmou que o debate deve ocorrer “o mais rápido possível”. Entre as propostas em circulação estão a desvinculação dos benefícios do salário mínimo e a possibilidade de uma nova reforma previdenciária.

De acordo com Róber Iturriet Avila, também professor da UFRGS, os impactos das reformas anteriores ainda estão em curso. A reforma de 2019, por exemplo, terá efeito significativo entre 2036 e 2049, quando a maioria dos beneficiários sob regras anteriores deixará de receber pagamentos.

Os professores também destacaram gastos temporários como auxílio-doença e auxílio-maternidade, que fazem parte do RGPS e nem sempre são considerados nas projeções. Ambos criticaram a possibilidade de novas reformas que aumentem encargos para trabalhadores e empresas.

Weiss destacou ainda o impacto da Desvinculação das Receitas da União (DRU), que permite ao governo federal realocar até 30% das receitas destinadas à Seguridade Social para outras despesas do orçamento. Na visão do economista, essa prática tem contribuído para o aumento do déficit previdenciário.

Outro ponto levantado é o papel assistencial da Previdência, muitas vezes desconsiderado nas análises. Aposentadorias rurais, por exemplo, abrangem trabalhadores informais que não contribuem regularmente, o que inflaciona o gasto total. Com a redução da população rural, esse tipo de despesa tende a diminuir.

Para lidar com os desafios, Weiss defende a ampliação da base de contribuintes, o que exigiria formalização do mercado de trabalho e maior geração de empregos com carteira assinada. Entretanto, o crescimento de atividades informais e da pejotização dificulta esse cenário.

Como alternativa, ele propõe a taxação de grandes fortunas, heranças e dividendos, além da criação de novos tributos sobre imóveis de alto valor como forma de compensação financeira para a Previdência.

Avila sugere uma reformulação no modelo de contribuição, substituindo o sistema atual por um imposto sobre movimentações financeiras, que levaria em conta a renda, independentemente da formalização do trabalhador. A medida, embora polêmica, responderia às transformações do mercado de trabalho.

*Com informações da Sputnik News.


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