Jota Sobrinho e a inusitada parceria com os cupins nas artes plásticas de Feira de Santana

Em 2009, o artista plástico Jota Sobrinho encontrou nos cupins um inusitado aliado para suas obras. Originário de Santa Cruz do Capibaribe, ele transformou a destruição causada pelos insetos em uma técnica inédita nas artes plásticas. O pó gerado pela ação dos cupins sobre a madeira foi utilizado para a criação de colagens, uma técnica que chamou a atenção de diversos artistas. Desde então, suas exposições têm sido marcadas pela curiosidade do público.
Jota Sobrinho ao lado de uma de suas obras feitas com pó de cupim em exposição no CUCA, Feira de Santana.

Na segunda-feira (16/03/2025), Jota Sobrinho, artista plástico natural de Santa Cruz do Capibaribe (PE), reafirma sua posição no cenário artístico nacional ao transformar um antigo problema em inovação. O pernambucano utiliza o pó deixado pelos cupins como matéria-prima para suas obras de arte, uma técnica que, desde 2009, tem despertado curiosidade e admiração em exposições pelo Brasil.

A técnica pioneira e o nascimento da parceria com os cupins

Em 2009, Jota Sobrinho identificou no pó deixado pelos cupins uma oportunidade criativa. A destruição da madeira causada pelos insetos, historicamente vista como prejuízo, foi reinterpretada pelo artista como uma fonte de insumo para colagens e composições artísticas. A iniciativa surgiu de sua experiência prévia como bioquímico, o que o levou a valorizar os resíduos biológicos deixados pelos cupins como pigmentos e texturas naturais.

Sobrinho passou a coletar o pó resultante da ação dos cupins sobre a madeira, aplicando-o em suportes de tela e madeira, criando composições que se assemelham à técnica de pintura a óleo. “Madona” e “Santa Ceia” foram algumas das primeiras obras que utilizaram o pó como base de colagem, destacando-se pela originalidade e pela ressignificação do material.

Repercussão e reconhecimento no meio artístico

Desde 2010, o trabalho de Jota Sobrinho alcançou ampla visibilidade em diversas exposições em espaços culturais de destaque, como o Centro Universitário de Cultura e Arte (CUCA), em Feira de Santana, o SESC e outras instituições em Santo Amaro da Purificação. O ineditismo da técnica atraiu a atenção de curadores, críticos e artistas, ampliando a discussão sobre a sustentabilidade e o reaproveitamento de materiais naturais nas artes plásticas.

Suas obras passaram a retratar temas religiosos e históricos. Personagens como Jesus Cristo, Irmã Dulce, Chico Xavier, Mahatma Gandhi e São Francisco de Assis foram representados nas colagens, marcando a versatilidade do material e da técnica desenvolvida.

Desafios e adaptações

Nos últimos anos, o artista tem enfrentado dificuldades na obtenção da matéria-prima, devido à diminuição da infestação de cupins na região, fator que limitou o fornecimento do pó utilizado em suas obras. Em resposta a esse desafio, Jota Sobrinho buscou alternativas e passou a aplicar sua técnica em projetos como a produção de tapetes para a festa de Corpus Christi, na Avenida Senhor dos Passos. Os tapetes compostos com o pó de cupim foram elogiados por sua similaridade estética e qualidade em comparação com os tradicionais, feitos de arroz, flores e pó de café.

Perspectivas e continuidade da obra

Apesar da escassez do insumo, Jota Sobrinho mantém a produção ativa em seu ateliê, onde continua a explorar novas possibilidades com o pó de cupim e outros materiais naturais. O artista considera ampliar sua expressão artística, aventando a criação de uma canção em homenagem aos cupins, reconhecendo o papel central desses insetos em sua trajetória nas artes visuais.

Sobrinho reforça que a continuidade do processo criativo em seu ateliê é fundamental para a preservação e evolução de sua técnica, mantendo o interesse do público e da crítica em torno de sua obra.


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