A Micareta de Feira de Santana, uma das festas populares mais tradicionais do interior do Brasil, teve sua origem formalizada há 88 anos, consolidando-se como um evento distinto do calendário carnavalesco nacional. Desde então, foi impulsionada por diversas transformações, entre elas a participação ativa dos clubes sociais, cuja contribuição foi essencial para o crescimento do festejo.
O Feira Tênis Clube (1944) e o Clube de Campo Cajueiro (1962) desempenharam papel central na consolidação da festa, oferecendo programação paralela aos eventos de rua, com bailes noturnos, matinais e infantis. Essas atividades fomentaram a presença da sociedade local e atraíram atenção da imprensa nacional e internacional. Com o tempo, a extinção desses clubes marcou uma ruptura no modelo tradicional da Micareta, retirando de cena espaços fundamentais de sociabilidade e difusão cultural.
A configuração urbana da festa também sofreu alterações. Originalmente concentrada no centro da cidade — incluindo a Rua Conselheiro Franco e as praças da Bandeira e J. Pedreira —, a Micareta migrou para a Avenida Getúlio Vargas e, posteriormente, para a Avenida Presidente Dutra. Nesse processo, elementos tradicionais como os desfiles de escolas de samba e o uso de fantasias foram perdendo espaço. A decoração das ruas e a espontaneidade dos blocos comunitários deram lugar a estruturas organizadas com fins comerciais.
O Clube de Campo Cajueiro foi responsável por edições de destaque, como o Baile de Gala de 1973, que contou com a presença de artistas como Chacrinha, Marília Pêra e Carlos Imperial, e também o Baile Caju de Ouro, idealizado por José Olympio Mascarenhas. O evento recebeu nomes como Vinicius de Moraes, Gesse Gessy, Sandra Bréa e Joãosinho Trinta, além de desfiles com fantasias de luxo de personalidades do carnaval carioca, como Clóvis Bornay e Wilza Carla.
No Feira Tênis Clube, situado no centro de Feira de Santana, os bailes reuniam multidões. Um dos mais conhecidos, o Uma Noite no Havay, antecedia a abertura da Micareta. Antes mesmo desses dois clubes, as filarmônicas 25 de Março e Vitória já promoviam grandes bailes, tradição posteriormente ampliada por entidades como Euterpe Feirense, Clube dos Sargentos, Ali Babá e Econolube.
Com o encerramento das atividades dos clubes sociais, os camarotes passaram a ocupar os espaços de destaque durante a festa, ainda que sem a mesma diversidade de atrações culturais. A presença de artistas, antes novidade, tornou-se comum diante da alta exposição midiática. A Micareta, mesmo mantida em sua essência de festa popular, passou por um processo de reconfiguração, cuja dimensão cultural, histórica e simbólica foi marcada pela ausência das entidades sociais que a acompanharam em seu auge.
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