Negociações de paz entre Rússia e Ucrânia se distanciam após bombardeio em Sumy

Ataque russo deixou 34 mortos e 117 feridos no nordeste ucraniano.
Ataque russo deixou 34 mortos e 117 feridos no nordeste ucraniano.

As perspectivas de negociação entre Rússia e Ucrânia se deterioraram após um ataque russo com mísseis de cruzeiro atingir o centro da cidade de Sumy, no nordeste da Ucrânia, na manhã de domingo (13/04/2025). O bombardeio, ocorrido no início da Semana Santa, resultou em 34 mortes, incluindo duas crianças, e 117 feridos, entre eles 15 menores. O ataque teve forte repercussão na imprensa internacional e nas declarações de líderes europeus.

Segundo analistas, a ação militar estaria relacionada à presença de soldados ucranianos em território russo, na região de Koursk, fronteiriça a Sumy. A cidade ucraniana, de acordo com observadores, tornou-se ponto estratégico para operações de vaivém das forças armadas ucranianas. O presidente russo, Vladimir Putin, ainda não se pronunciou diretamente sobre o bombardeio, mas autoridades locais indicam que se tratou de uma retaliação militar.

Nos Estados Unidos, o ex-presidente e pré-candidato republicano Donald Trump afirmou que, segundo fontes russas, o ocorrido foi um “erro terrível”. No entanto, o emissário especial da Casa Branca para a Ucrânia, Keith Kellog, classificou o ataque como “inaceitável” e indicou que ultrapassou os “limites da decência”. A declaração evidencia divisões dentro da representação americana sobre como abordar a atuação da Rússia no conflito.

O bombardeio aconteceu dois dias após o encontro entre o enviado de Trump, Steve Witkoff, e Putin, realizado em São Petersburgo, e um dia após conversas indiretas entre representantes americanos e autoridades iranianas, em Omã. Esses contatos fazem parte de uma articulação diplomática paralela conduzida por aliados de Trump, que buscam influenciar tanto o desfecho da guerra na Ucrânia quanto a situação nuclear do Irã.

O futuro chanceler da Alemanha, Friedrich Merz, manifestou-se sobre o episódio. Em entrevista ao jornal Le Figaro, classificou o ataque a civis como crime de guerra e declarou apoio à entrega de mísseis de longo alcance Taurus à Ucrânia, desde que haja coordenação entre os países europeus aliados de Kiev. A medida, se adotada, representaria um avanço significativo no apoio militar ocidental à Ucrânia.

Oleksandr Merezhko, deputado do partido de Volodymyr Zelensky e presidente da Comissão de Relações Exteriores do Parlamento ucraniano, afirmou ao Le Monde que o ataque em Sumy demonstra que Putin pretende condicionar qualquer cessar-fogo à aceitação de suas exigências. Segundo ele, Trump buscava estabelecer uma trégua até a Páscoa, mas o bombardeio compromete esse objetivo.

No plano internacional, o cientista político francês Gilles Kepel, especialista em relações no Oriente Médio, avalia que os esforços diplomáticos dos Estados Unidos apontam para uma tentativa de redesenhar o cenário geopolítico regional. De acordo com Kepel, o enfraquecimento militar do Irã, após ações israelenses contra Hamas e Hezbollah, pode abrir espaço para que os Estados Unidos e Israel reforcem seu domínio regional, desde que a Rússia se retire do apoio ao regime iraniano.

Ainda segundo Kepel, essa movimentação estratégica poderia permitir que os Estados Unidos delegassem o conflito ucraniano à Europa, concentrando sua atuação no Oriente Médio. Essa hipótese está sendo considerada por analistas diante da reaproximação diplomática entre Washington e Moscou, embora não haja confirmação oficial sobre os termos discutidos.

O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, declarou nesta segunda-feira (14/04) que o encontro entre Putin e Witkoff foi “extremamente útil e eficaz” e destacou a importância do canal direto de diálogo com os Estados Unidos. Segundo o Kremlin, a conversa abordou aspectos da resolução do conflito ucraniano, sem detalhar as condições debatidas.

A próxima rodada de negociações entre representantes dos EUA e Irã ocorrerá em Roma, no sábado (19/04), com foco no programa nuclear iraniano e na flexibilização das sanções americanas. Antes desse encontro, o ministro iraniano das Relações Exteriores, Abbas Araqchi, visitará Moscou para discutir com autoridades russas os resultados dos últimos diálogos com os Estados Unidos.

*Com informações da RFI.


Discover more from Jornal Grande Bahia (JGB)

Subscribe to get the latest posts sent to your email.

Facebook
Threads
WhatsApp
Twitter
LinkedIn

Deixe um comentário

Discover more from Jornal Grande Bahia (JGB)

Subscribe now to keep reading and get access to the full archive.

Continue reading

Privacidade e Cookies: O Jornal Grande Bahia usa cookies. Ao continuar a usar este site, você concorda com o uso deles. Para saber mais, inclusive sobre como controlar os cookies, consulte: Política de Cookies.