Obra de Joseval Carneiro provoca reflexão sobre os ensinamentos atribuídos a Jesus sob a ótica do Espiritismo

Lançado originalmente em 2005 e reeditado em 2021, livro propõe diálogo entre os Evangelhos e a codificação espírita de Allan Kardec.
Livro “O que não disse Jesus”, do jurista e escritor baiano Joseval Carneiro, propõe releitura crítica dos Evangelhos à luz da Doutrina Espírita, com ênfase na razão, reencarnação e ética cristã.

Domingo, 20/04/2025 – Com abordagem analítica e linguagem acessível, o livro “O que não disse Jesus, de autoria de Joseval Carneiro, propõe uma releitura crítica dos principais ensinamentos atribuídos ao Mestre galileu, confrontando-os com os princípios da Doutrina Espírita codificada por Allan Kardec. A obra, publicada pela Editora EME, teve sua segunda edição revista e ampliada lançada em fevereiro de 2021.

Composto por 56 capítulos, o livro se estrutura em torno de comentários sobre trechos específicos dos Evangelhos, como as bem-aventuranças, as parábolas, os milagres e as máximas morais atribuídas a Jesus. O autor analisa cada passagem sob perspectiva filosófica, religiosa e ética, lançando mão de fontes bíblicas, exegese linguística e fundamentos do Espiritismo.

Reencarnação, livre-arbítrio e justiça divina: fundamentos da crítica doutrinária

Entre os temas centrais do livro estão a preexistência da alma, o princípio reencarnacionista e o papel do livre-arbítrio na construção do destino individual. No capítulo “Renascer da água e do espírito”, Joseval Carneiro argumenta que a resposta de Jesus a Nicodemos (João 3:1-12) não se refere exclusivamente ao batismo, mas à reencarnação como mecanismo de progresso espiritual.

O autor cita estudos contemporâneos sobre experiências de quase-morte e regressão a vidas passadas, como os realizados por Raymond Moody, Ian Stevenson e Hernani Guimarães Andrade, para sustentar a hipótese da continuidade da vida e do retorno do espírito à carne. Também destaca que a noção de justiça divina, conforme expressa por Jesus, exige a reencarnação como instrumento de reparação e evolução moral.

Crítica ao formalismo religioso e ao materialismo da fé

Em diversos capítulos, a obra contrapõe o essencialismo ético do Cristo ao ritualismo religioso, como no episódio do “Lavar as mãos”, em que o autor ressalta que Jesus condenava as exterioridades em detrimento da transformação íntima. “A boca fala daquilo que está cheio o coração”, afirma o autor, reafirmando que a verdadeira reforma se dá no campo da consciência.

Outro destaque é a crítica à visão materialista da fé, expressa em frases como “melhor ser do que ter” e no contraste entre a caridade genuína e o doador ostentatório. O autor defende que a verdadeira religião está no gesto silencioso, no perdão repetido e na disposição de transformar o próprio ser como instrumento de bem.

Joseval Carneiro: trajetória jurídica e espiritual

Nascido na Bahia em 1941, Joseval Carneiro é advogado, professor e autor de obras voltadas à espiritualidade e à autoajuda. Com mais de quinze títulos publicados, muitos deles adotando perspectiva doutrinária espírita, o autor constrói em O que não disse Jesus uma obra voltada à interpretação racional da fé, conciliando o Evangelho com os princípios filosóficos do Espiritismo kardecista.

Segundo o prefácio da obra, assinado por Augusto de Lima Bispo, vice-presidente do Tribunal de Justiça da Bahia, trata-se de “uma das melhores obras do autor”, destacando a clareza na abordagem dos ensinamentos evangélicos e a profundidade dos comentários oferecidos.

Atualização doutrinária e fidelidade aos Evangelhos

Embora afirme não pretender ser “dono da verdade”, o autor realiza uma análise crítica de passagens que, em sua avaliação, foram mal compreendidas ou descontextualizadas ao longo dos séculos. Ao mesmo tempo, reafirma sua fidelidade às fontes originais – os Evangelhos – e sua consonância com os postulados da Codificação Espírita, rejeitando interpretações arbitrárias ou reformulações simplistas da obra kardequiana.

Na introdução da obra, Carneiro observa:

“Nossa proposta é mais simples e objetiva: tão somente pinçar alguns aspectos polêmicos […] tentando, tanto quanto possível, esclarecer as dúvidas e ensejar melhor uniformização dos fatos”.

Principais temas abordados no livro "O que não disse Jesus", de Joseval Carneiro. A obra tem ênfase em tópicos como reencarnação, justiça divina, ética cristã, interpretação espiritual das parábolas, além da crítica ao formalismo religioso.
Principais temas abordados no livro “O que não disse Jesus”, de Joseval Carneiro. A obra tem ênfase em tópicos como reencarnação, justiça divina, ética cristã, interpretação espiritual das parábolas, além da crítica ao formalismo religioso.

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