A CPI das Bets ouviu nesta quarta-feira (21/05/2025) o depoimento do padre Patrick Fernandes, que abordou os impactos sociais, morais e de saúde pública relacionados aos jogos de apostas online. O religioso defendeu que influenciadores digitais contrários ao setor devem se mobilizar publicamente, em resposta à ampla divulgação desse tipo de conteúdo nas redes sociais.
O convite foi feito por meio do Requerimento 458/2025, apresentado pelo senador Dr. Hiran (PP-RR), presidente da comissão. O parlamentar justificou a convocação devido à relevância do padre como figura pública nas redes sociais, onde possui 6,6 milhões de seguidores.
Durante o depoimento, Patrick afirmou que observa um crescimento expressivo na busca por tratamento de pessoas com vício em apostas, destacando que o transtorno gera impactos diretos em famílias e comunidades. Segundo ele, o problema não se limita à legalidade das plataformas, mas atinge dimensões morais e de saúde pública, equiparando o vício a transtornos como ansiedade e depressão.
Defesa do fim da publicidade de apostas
O padre sugeriu que a publicidade de apostas seja proibida, especialmente aquela realizada por influenciadores digitais. A proposta contraria o que estabelece atualmente a Lei 14.790/2023 e a Portaria 1.231/2024 do Ministério da Fazenda, que regulam o setor e suas práticas publicitárias.
Entre as vedações previstas, estão a proibição de promessas falsas de ganhos e a proteção do público infantil. No entanto, segundo Patrick, essas medidas são insuficientes para conter os danos sociais e psicológicos gerados pelas apostas online.
“O que falta é uma mobilização dos que se opõem. Se há quem ganhe para divulgar, deve haver quem se posicione publicamente contra, independentemente do número de seguidores”, afirmou o religioso.
Debate entre senadores
O senador Izalci Lucas (PL-DF) apoiou a participação do padre, destacando que o debate não pode se restringir a questões econômicas. Já o senador Cleitinho (Republicanos-MG) defendeu o fim da publicidade de apostas e criticou o que chamou de “cancelamento coletivo” dos influenciadores, citando a influenciadora Virgínia Fonseca, que já prestou depoimento à CPI.
Cleitinho, autor do Projeto de Lei 2.372/2025, que propõe proibir a propaganda de apostas, afirmou: “Se não conseguimos acabar com os jogos, a melhor alternativa é extinguir a propaganda.”
Aumento da demanda por tratamento
O padre também relatou que, na cidade de Parauapebas (PA), onde atua, tem observado um aumento significativo na procura por ajuda de familiares de pessoas viciadas em apostas. Ele afirmou que, atualmente, recebe de uma a duas solicitações de ajuda por semana, especialmente de homens adultos, o que não ocorria com a mesma frequência há dois anos.
Denúncia de extorsão gera conflito
A sessão também foi marcada por um conflito envolvendo o senador Eduardo Girão (Novo-CE), que citou uma reportagem da revista Veja (dezembro de 2024) sobre uma suposta tentativa de extorsão praticada pelo lobista Silvio Assis contra empresários do setor de apostas.
A relatora da CPI, senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS), reagiu à citação, acusando Girão de calúnia e difamação, uma vez que a matéria jornalística vinculava seu nome ao episódio. Soraya afirmou que o tema deve ser tratado no Conselho de Ética do Senado, e não no âmbito da CPI.
Novos requerimentos aprovados
Ao final da reunião, os senadores aprovaram a convocação do influenciador Carlinhos Maia (REQ 462/2025) e também requerimentos para obtenção de Relatórios de Inteligência Financeira (RIF) junto ao Coaf sobre os influenciadores Virgínia Fonseca e Rico Melquiades (REQ 448 e 459/2025), que envolvem análise de dados bancários e fiscais.
*Com informações da Agência Câmara de Notícias.
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