A ameaça da praga fúngica monilíase às lavouras de cacau e os esforços para impedir sua propagação foram temas de audiência pública realizada pela Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA) nesta quarta-feira (11/06/2025). Durante o debate, especialistas e representantes do setor produtivo destacaram a necessidade de um esforço integrado para controle da doença, agilidade na aplicação de recursos públicos e campanhas educativas voltadas à prevenção.
A audiência foi convocada por meio do Requerimento 17/2025 – CRA, de autoria do senador Zequinha Marinho (Podemos-PA). Em sua fala inicial, Zequinha destacou que o fungo Moniliophthora roreri, causador da monilíase, é amplamente disseminado em países da América do Sul e representa um risco severo à cadeia produtiva do cacau no Brasil. A praga foi identificada pela primeira vez no país em julho de 2021, no estado do Acre.
Atualmente, segundo o senador, a monilíase está restrita a áreas não comerciais e urbanas no Acre e no Amazonas, mas o risco de disseminação para outras regiões ainda existe. Ele alertou que eventos como o Festival do Chocolate em Altamira (PA) podem representar vias indiretas de contaminação, caso protocolos fitossanitários não sejam implementados.
Representantes da Associação Nacional dos Produtores de Cacau (ANPC) defenderam o lançamento de campanhas educativas, o desenvolvimento de cultivares resistentes à monilíase e a criação de um plano de contingência emergencial sob coordenação do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). A vice-presidente da entidade, Eunice Gutzeit, reforçou que há riscos elevados de contaminação em eventos que recebem pessoas oriundas de regiões afetadas, como Acre e Amazonas.
A presidente da ANPC, Vanuza Lima Barroso, destacou que o Brasil é fundamental para suprir o déficit global de cacau, mas denunciou o enfraquecimento das ações de controle no Alto Solimões em 2024. Ela solicitou que as normativas do Mapa sejam adaptadas à realidade dos pequenos produtores, que muitas vezes não têm acesso às medidas preventivas recomendadas.
O coordenador-geral de proteção de plantas do Mapa, Ricardo Hilman, informou que a instrução normativa do plano nacional de prevenção contra a monilíase foi publicada em 2020, antes da identificação da praga no Brasil. Ele avaliou como positivo o plano até o momento, afirmando que permitiu a detecção precoce da doença durante a pandemia. Hilman também esclareceu que a redução das ações no Alto Solimões em 2024 foi consequência de fatores logísticos e climáticos, e garantiu que os esforços de combate já foram retomados.
Paulo Lima, gerente do Programa Amazônia da Fundação Solidaridad, afirmou que a monilíase pode causar perdas entre 70% e 100% da produção de cacau, com impacto direto na renda de famílias produtoras. Ele defendeu ações de capacitação técnica para que os agricultores possam lidar com a doença de forma sustentável, especialmente em estados com baixa disseminação da informação.
A coordenadora-geral de pesquisa e inovação da Ceplac, Karina Peres Gramacho, explicou a forma de propagação do fungo e ressaltou que nenhuma região produtora está livre do risco. Ela pontuou que o controle da praga exige combinação de estratégias químicas, biológicas e culturais, além de ampla conscientização dos produtores.
O auditor fiscal da Ceplac, Paulo Albuquerque, afirmou que existem ferramentas eficazes para o controle da praga, mas a eficácia depende da alocação adequada de recursos orçamentários. Ele argumentou que, com continuidade nas ações, a cacauicultura poderá resistir ao desafio representado pela monilíase.
Durante a audiência, o senador Beto Faro (PT-PA) defendeu a realização de concurso público para recompor o quadro técnico da Ceplac e chamou atenção para a baixa percepção de risco entre novos produtores de cacau em seu estado, propondo uma ampla campanha de informação.
Chiquinho do Cacau, extensionista da Emater de Rondônia, destacou que o acesso à informação é essencial para preservar as lavouras, e criticou barreiras que dificultam o acesso dos agricultores ao crédito rural. O técnico Pedro Santos, da Fundação Solidaridad, reforçou que os esforços devem ser direcionados à proteção do produtor rural.
*Com informações da Agência Senado.
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