A memória cultural de Feira de Santana relembra a tradição das serestas, que marcaram profundamente a vida social do município até meados do século XX. As apresentações, realizadas em ruas, praças e calçadas, reuniam vozes, violões e bandolins, promovendo encontros musicais e manifestações de afeto.
Durante esse período, Milton Brito, Silton Brandão, Raimundo Lopes, Ivanito Rocha, David Silva, Donga Carvalho, Tuita, Antônio Moreira e Nelito estiveram entre os principais seresteiros que atuaram na cidade, contribuindo para consolidar uma tradição que encantou gerações.
As apresentações ocorriam, geralmente, após as 22 horas, em noites de céu limpo e enluarado, com a cidade em silêncio. O som de um violão marcava o início, seguido de interpretações de samba-canção, bolero e outros gêneros românticos, populares na época.
“O repertório incluía músicas de Nelson Gonçalves, Carlos Galhardo, Francisco Alves, Anísio Silva, Cauby Peixoto, Trio Irakitan, Trio Los Panchos, entre outros artistas que fizeram sucesso nas décadas de 1940, 1950 e 1960”, relata um dos músicos da época.
Além de demonstrações de amor, as serestas também representavam encontros culturais. Cantores e instrumentistas percorriam as ruas de Feira de Santana, formando grupos que levavam música aos lares e às praças públicas, tendo a Lua como única iluminação natural.
Entre os nomes que ganharam reconhecimento fora do município está Milton Brito, que, no Rio de Janeiro, se destacou como cantor, assinando contrato com a gravadora RCA Victor. Atuou em casas noturnas e restaurantes como Bar Michel, Le Rond Point, Boate Plaza e Restaurante Cabana, espaços reservados aos principais intérpretes brasileiros.
“Apesar do sucesso na música, Milton Brito optou por seguir a carreira de advogado, conciliando sua formação acadêmica com apresentações em programas de televisão no eixo Rio-São Paulo”, informam registros da época.
Outros seresteiros também marcaram presença nas noites feirenses, como Leo Ramos (Leopoldo Ramos), Dourival Oliveira, Antônio Batista, Raimundo Oliveira, Raimundo Almeida, Carlos Santiago e Audízio Carvalho. Grupos vocais como Os Divinais, formado por Geraldo Morais (Valtinho Pitangueira), Dida e Missinho, e o Quarteto Irapajós, com Valtinho Pitangueira, Nelito, João Lins e Zete, também se destacaram.
O movimento das serestas foi acompanhado por músicos especializados em instrumentos de corda. Entre eles estavam Mirinho, Lili, Miranda, Dinho, Toninho, Clarival, Tonho, Carlito, Maninho, Didi e Amadeu, responsáveis por garantir a base harmônica e rítmica das apresentações.
O avanço tecnológico e as mudanças nos hábitos culturais impactaram diretamente essa tradição. Com o surgimento de novos gêneros musicais, meios digitais e transformações sociais, as serestas foram gradualmente perdendo espaço, permanecendo apenas na memória de quem vivenciou esse período.
“A seresta foi um meio legítimo de comunicação e expressão, especialmente numa época em que a cidade não dispunha dos recursos atuais de comunicação”, explica um dos músicos remanescentes do movimento.
Atualmente, as serestas fazem parte do patrimônio imaterial de Feira de Santana, representando um período em que a manifestação artística estava diretamente ligada às relações sociais, afetivas e à vida comunitária.
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