A Organização Internacional do Trabalho (OIT) estabelece diretrizes claras para a proteção do trabalhador contra doenças decorrentes das atividades laborais, especialmente em razão de jornadas excessivas ou da execução de tarefas sob condições adversas. Tais orientações abrangem desde os exames admissionais até os procedimentos demissionais, assegurando que o vínculo empregatício ocorra dentro dos parâmetros de saúde e segurança ocupacional.
Em consonância com essas normas, o empregador, via de regra, fornece Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), investe em alimentação equilibrada, climatização dos ambientes, instalação de pisos antiderrapantes, controle de ruídos e outros cuidados técnicos. No entanto, há um fator preventivo e subjetivo, muitas vezes negligenciado: a harmonização no ambiente de trabalho.
Bem-estar e integração psicossocial
Em diversas nações, observa-se que, antes mesmo do início da jornada, é comum a promoção de interações psicossomáticas breves, que envolvem exercícios corporais simples, realizados no próprio posto de trabalho, além de mensagens motivacionais com foco nas metas coletivas e no valor da contribuição individual, ainda que modesta. Essas práticas fortalecem o vínculo psicológico entre o trabalhador e o propósito da empresa.
A experiência da antiga ITT – International Telegraph and Telephone Company é ilustrativa. A companhia conduziu um experimento com sua equipe de produção: na primeira semana, solicitou o desligamento dos aparelhos de ar-condicionado; na segunda, reduziu em 30% a iluminação; e, na terceira, suspendeu a trilha sonora ambiente. Ao fim de cada etapa, a produtividade foi medida. Surpreendentemente, houve melhora progressiva, culminando no melhor desempenho na semana de maior privação sensorial. O estudo concluiu que a motivação intrínseca do trabalhador foi o diferencial mais relevante, mesmo diante de condições físicas menos confortáveis.
Estresse e doenças emocionais: um problema silencioso
Dados recentes indicam que os afastamentos do trabalho por doenças emocionais são alarmantes: 28,6% por estresse, 27,4% por ansiedade e 25,1% por depressão. Tais números revelam uma epidemia silenciosa, cujos fatores são, em grande parte, previsíveis e passíveis de intervenções profiláticas. Promover a coesão grupal, o acolhimento psicológico e o equilíbrio entre corpo e mente pode reduzir drasticamente o absenteísmo.
Nesse contexto, destaca-se a importância do acesso facilitado ao psicólogo organizacional e ao setor de Recursos Humanos (RH), que deve estar preparado para agir no momento oportuno, antes que o sofrimento mental resulte em afastamento.
Exemplo prático: a experiência da Translor
A empresa Translor, operadora de transporte em São Paulo, adota uma política exemplar: nenhum motorista segue viagem caso esteja enfrentando dificuldades familiares ou emocionais. Além disso, a companhia realiza visitas regulares às residências de seus funcionários, mantendo um canal constante de comunicação com seus familiares. Trata-se de um modelo que compreende que o colaborador não se dissocia da sua realidade pessoal ao vestir o uniforme.
Os bens materiais transportados por esses profissionais são valiosos, assim como os equipamentos operados por diversos trabalhadores no setor industrial. No entanto, todos esses ativos são, em última instância, substituíveis. Já o fator humano, não. Seu valor reside na experiência acumulada, no comprometimento e na capacidade de adaptação, elementos que levam tempo para serem cultivados e que nenhuma máquina pode replicar.
Sobre o autor
Joseval Carneiro (joseval@plenus.net) é Bacharel em Administração pelo CEUB – Centro de Ensino Unificado de Brasília, membro da OAB, do IAB e da ABI, além de Vice-Presidente da Academia de Cultura da Bahia.
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