O governo brasileiro anunciou apoio formal à ação da África do Sul contra Israel na Corte Internacional de Justiça (CIJ), que acusa o país de genocídio na Faixa de Gaza. A decisão ocorre às vésperas da entrada em vigor de tarifas de 50% impostas pelos Estados Unidos sobre exportações brasileiras, medida considerada punitiva pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva.
Em nota, o Ministério das Relações Exteriores afirmou que “a comunidade internacional não pode permanecer inerte diante das atrocidades em curso” e que “já não há espaço para ambiguidade moral nem omissão política”. Segundo o Itamaraty, a impunidade compromete a legalidade internacional e a credibilidade do sistema multilateral.
Especialistas apontam sobreposição de agendas
Bruno Lima Rocha, cientista político e professor de relações internacionais, considera que as movimentações do Brasil em relação à guerra em Gaza e ao tarifaço norte-americano são “agendas concomitantes”. Para ele, há uma conexão entre o posicionamento humanitário e a reação ao intervencionismo econômico dos EUA, especialmente sob a liderança de Donald Trump.
Segundo Rocha, não há indícios de que o apoio à ação na CIJ seja motivado por cálculo eleitoral, embora reconheça que o gesto possa impactar a popularidade do governo. Ele também observa que os Estados Unidos vêm adotando modelos de intervenção distintos a cada ciclo de poder, citando como exemplo a Operação Lava Jato na década passada e as pressões comerciais e ideológicas mais recentes.
Ação reflete princípios históricos da diplomacia brasileira
De acordo com Vinícius Guilherme Rodrigues Vieira, professor da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), o apoio à ação contra Israel está alinhado aos princípios clássicos da política externa brasileira, como a defesa do multilateralismo. Vieira destaca que a medida não deve ser interpretada como provocação direta aos EUA, mas como continuidade da atuação internacional do Brasil em fóruns multilaterais.
Vieira afirma ainda que a adesão à causa palestina pode não gerar ganhos de popularidade para Lula, especialmente entre grupos evangélicos com afinidade com o governo israelense. Ele também destaca que a movimentação brasileira busca revigorar o papel do direito internacional, frente à supremacia de acordos bilaterais promovida pelos EUA.
Implicações políticas e geopolíticas
Josué Medeiros, cientista político da UFRJ e coordenador do Observatório Político e Eleitoral, vê o movimento como parte de uma estratégia de reafirmação da soberania brasileira e da diplomacia multilateral, frente às ameaças comerciais de Trump. Para ele, a adesão à ação na CIJ amplia o embate diplomático, mas também demonstra o alinhamento com parceiros do BRICS, como África do Sul.
Medeiros alerta que as tarifas anunciadas pelos EUA podem ter efeitos internos negativos no próprio país, prejudicando empresas e consumidores. Ele também destaca que a gravidade da crise humanitária em Gaza pode mobilizar a opinião pública internacional e aumentar a pressão sobre o governo de Benjamin Netanyahu.
Além disso, o especialista enfatiza que o cenário atual exige fortalecimento das articulações regionais e da mobilização interna da sociedade brasileira em defesa da soberania nacional. Segundo ele, é necessário enfrentar não apenas as tarifas, mas também a influência de Trump no Brasil, o legado de Jair Bolsonaro e o papel das big techs na democracia.
*Com informações da Sputnik News.
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