A proposta de criação de uma bolsa de grãos pelos países do BRICS foi debatida durante a Cúpula de Kazan, com o objetivo de aumentar o controle dos países produtores sobre a economia agrícola mundial. A medida visa reduzir a influência da Bolsa de Chicago, principal referência global nas transações de commodities agrícolas, e estimular o comércio em moedas locais.
Brasil, China, Índia e Rússia, quatro dos cinco maiores produtores de grãos do mundo, integram o BRICS e são responsáveis por quase metade da produção global. Apesar disso, os preços e contratos do setor continuam sendo determinados em grande parte por instituições financeiras dos Estados Unidos, com forte influência da cotação do dólar e da Bolsa de Chicago.
Proposta russa e desdolarização
Durante a presidência russa do BRICS, foi apresentada a proposta de criação de uma bolsa de grãos do bloco. A iniciativa tem como finalidade permitir aos países membros negociar sua produção sem intermediação ocidental, além de valorizar as moedas locais e estimular mecanismos de financiamento próprios.
De acordo com o historiador Rodrigo Ruperto, membro do Núcleo de Estudos Avançados de Política Internacional (NEAPI) e do BRICS+, o modelo atual impõe aos países do Sul Global condições que não refletem sua realidade produtiva. Ele ressalta que a dominação da Bolsa de Chicago impacta diretamente as decisões agrícolas na América Latina.
“É fundamental criar instituições alternativas de financiamento, como o Novo Banco de Desenvolvimento, para garantir autonomia financeira e econômica ao Sul Global”, afirmou Ruperto.
Impactos sobre o dólar e o comércio internacional
A substituição do dólar nas transações entre os países do BRICS poderia enfraquecer a hegemonia da moeda norte-americana. Ruperto explica que, ao negociar grãos em moedas locais, os países do bloco atacariam uma engrenagem central do sistema financeiro internacional, o que poderia causar repercussões econômicas nos Estados Unidos, incluindo risco inflacionário.
Segundo o sociólogo e diretor do iBRICS+, Douglas Meira Ferreira, a nova bolsa também funcionaria como mecanismo para contornar sanções ocidentais, como as impostas à Rússia desde 2022. Ele defende a criação de mecanismos próprios de comércio entre os países do Sul Global, sem a imposição de medidas externas.
“Sanções unilaterais afetam o mercado global como um todo. Com uma bolsa autônoma, os países ganham soberania e protegem suas economias de variações externas”, destacou Ferreira.
Desafios estruturais e vantagens para o Brasil
Apesar do potencial impacto positivo, a criação de uma bolsa de grãos enfrenta obstáculos institucionais, como a presença de grandes corporações, intermediários e estruturas regulatórias consolidadas. No entanto, especialistas afirmam que a força produtiva dos países do BRICS pode impulsionar a formação de novos padrões comerciais.
Ferreira observa que a nova estrutura poderia ajudar a estabilizar os preços dos alimentos, inclusive nos mercados internos, ao eliminar a dependência de oscilações cambiais e financeiras externas. Para o Brasil, a medida abriria oportunidades para o agronegócio, especialmente ao permitir transações em real, reduzindo a exposição ao dólar.
Ruperto destaca que a substituição do dólar por moedas locais no comércio de insumos agrícolas, como fertilizantes e maquinário, poderia gerar economia e estimular o crescimento do setor agrícola nacional nos próximos anos.
Ferreira relembra que a inflação alimentar registrada no Brasil em 2022, após sanções ocidentais à Rússia, prejudicou principalmente a população de baixa renda. Por isso, reforça a importância de alternativas que promovam estabilidade nos preços e menor vulnerabilidade externa.
*Com informações da Sputnik News.
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