A reflexão sobre os fundamentos da justiça e moral na sociedade contemporânea mostra-se cada vez mais necessária diante do avanço dos conflitos, desigualdades e sofrimentos. O versículo “Bem-aventurados os aflitos, porque serão consolados”, muitas vezes restrito à retórica religiosa, é reinterpretado por Joseval Carneiro, em O que não disse Jesus, como expressão de um princípio universal de educação espiritual pela dor e de justiça moral reencarnatória, com aplicações concretas ao mundo atual.
O sofrimento como instrumento de equilíbrio moral
Para Joseval, a dor não deve ser compreendida como castigo, mas como mecanismo legítimo de reparação e aprendizado. O aflito é bem-aventurado porque encontra no sofrimento a oportunidade de superação moral.
- No plano espiritual, a dor cumpre função de provas e expiações reparadoras;
- No plano social, contribui para reequilibrar abusos, orgulho ou desvios de vidas passadas.
Essa concepção substitui a lógica da punição pela educação da consciência, em que o sofrimento é visto como via de evolução espiritual e equilíbrio coletivo.
Moral cristã e justiça social
Segundo Joseval, o Sermão da Montanha apresenta um roteiro de regeneração individual e coletiva, que não visa à ruptura da ordem civil, mas ao fortalecimento da ética cristã como guia da vida prática.
A bem-aventurança dos aflitos reafirma:
- A superioridade moral da vítima sobre o agressor;
- A certeza de que o sofrimento suportado com dignidade é fonte de libertação interior;
- O chamado à tolerância, pacificação e compaixão, mesmo diante da injustiça aparente.
O papel da resignação ativa
A resignação proposta por Jesus não é passividade, mas resistência interior e disciplina emocional diante do inevitável. Joseval resume essa postura:
“Devemos apoiar-nos na prece e na fé em Deus, como ele nos ensinou. Sem desânimo. Dominando os impulsos da cólera, do desespero.”
Essa atitude espiritual deve refletir-se em ações sociais concretas de empatia, solidariedade e reconstrução de vínculos, transformando a dor em força capaz de romper o ciclo da violência sem desconsiderar a justiça humana.
Crítica ao moralismo vazio e à impunidade
Joseval alerta contra o moralismo superficial, que transforma a dor em instrumento de manipulação política ou religiosa. O sofrimento não redime por si só: só ganha valor quando orienta a renovação pessoal e a prática do bem.
A dor é legítima quando:
- Integra-se a um esforço consciente de transformação interior;
- Contribui para o exercício de uma ética prática no trato social;
- Reforça a proteção aos mais vulneráveis.
Justiça contemporânea: ética sem vingança
Em uma sociedade marcada por desigualdades estruturais, ressentimentos históricos e violência urbana, o ensinamento de Jesus aos aflitos propõe caminhos aplicáveis à realidade contemporânea:
- Superar a cultura da vingança e o revanchismo;
- Incentivar a justiça restaurativa como mecanismo de reconciliação social;
- Promover a educação moral e espiritual em escolas, prisões e políticas públicas assistenciais.
Trata-se de deslocar o eixo do castigo para a reconstrução da consciência e das relações sociais, reforçando uma ética da compaixão e da responsabilidade.
Referência espiritual
“A bem-aventurança pregada por Jesus teve em mente a felicidade do homem, mesmo enquanto encarnado, na Terra.”
(O que não disse Jesus, Joseval Carneiro, cap. 3)
Perfil do autor
Joseval Carneiro (joseval@plenus.net) é ex-diretor do DETRAN-DF e do Conselho Estadual de Trânsito da Bahia, delegado de Polícia aposentado com especialização nos Estados Unidos, membro da Associação Bahiana de Imprensa (ABI) e vice-presidente da Academia de Cultura da Bahia.
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