Mulheres no comando das motos: crescimento, desafios e impacto social são abordados por Joseval Carneiro

A crescente presença feminina no universo das motocicletas no Brasil reflete mudanças sociais, econômicas e culturais. Com produção recorde e adesão em massa, as motos representam independência, mobilidade e segurança para muitas mulheres. No entanto, o avanço desse segmento também impõe desafios urgentes, como o fortalecimento da educação no trânsito e a criação de políticas públicas para reduzir riscos e consolidar essa transformação social.
Mulheres pilotando motocicletas se tornam presença cada vez mais comum no Brasil, transformando o trânsito e ampliando debates sobre mobilidade, segurança e inclusão.

O que antes era um cenário dominado por jovens em busca de velocidade e adrenalina hoje ganha um novo contorno: as mulheres sobre duas rodas. Cada vez mais presentes no trânsito, elas vêm ocupando espaço em um segmento que cresce de forma acelerada no país, mudando a percepção sobre mobilidade e segurança, comenta o especialista Joseval Carneiro.

Segundo dados da indústria, a produção nacional de motocicletas alcançou 1,141 milhão de unidades em 2025, o melhor resultado em 14 anos, representando uma alta de 12,4% em relação a 2024. Com um terço dos veículos motorizados em circulação sendo motos, o impacto desse crescimento é visível tanto nas ruas quanto no mercado de transportes.

Mobilidade e independência feminina

A entrada maciça das mulheres no universo das motos se relaciona não apenas à praticidade e ao baixo custo, mas também a um fator social: a busca por autonomia e segurança. Ao optar por motocicletas, muitas brasileiras encontram uma alternativa para evitar situações de assédio em transportes coletivos superlotados.

Além disso, o uso das motos facilita a rotina de quem precisa conciliar deslocamentos para trabalho, estudos e vida pessoal, ampliando a percepção da moto como instrumento de liberdade feminina.

Comparações internacionais: Holanda e França como referências

O fenômeno brasileiro dialoga com tendências internacionais. Na Holanda, por exemplo, o protagonismo não está nas motos, mas nas bicicletas, que chegam a causar engarrafamentos. A prática é estimulada por políticas públicas voltadas à saúde, ao meio ambiente e à mobilidade urbana.

Em Paris, as bicicletas ganharam espaço com ciclofaixas exclusivas e ruas restritas ao tráfego pesado, transformando a paisagem urbana. A comparação destaca como diferentes países adotam soluções diversas para promover meios de transporte ágeis, seguros e inclusivos.

Desafios de segurança e formação de condutores

Apesar do crescimento expressivo, a expansão do mercado de motocicletas no Brasil enfrenta um desafio recorrente: a segurança no trânsito. Muitos condutores ainda subestimam a importância de frequentar Centros de Formação de Condutores (CFCs), onde são ensinadas noções fundamentais de direção defensiva, manobrabilidade e respeito às normas de trânsito.

Joseval Carneiro alerta para o problema:

“Conquanto dispensadas de cursarem artigos em Auto Escolas (Centros de Formação de Condutores), é importante aos futuros motociclistas não dispensarem esse importante aprendizado, capacitando-os a manterem convenientemente as conversões e cuidados mínimos de maneabilidade ao dirigir.”

A presença feminina como fator transformador

A presença crescente das mulheres pilotando motocicletas traz um efeito simbólico e social. Para além da função prática, elas contribuem para um trânsito mais diversificado e humanizado, incentivando motoristas a adotarem atitudes mais respeitosas.

Segundo Carneiro, “por detrás dos capacetes, cabelos longos escorrendo sobre os ombros colorem milhares de motos pelo país, convidando motoristas em geral a serem mais respeitosos, atenciosos e cuidadosos com o sexo frágil.”

Esse movimento ajuda a romper estigmas de gênero ainda presentes na cultura brasileira, reafirmando o papel da mulher como agente transformador nos espaços públicos e, agora, também no universo da mobilidade motorizada.

Avanço das mulheres no comando das motos

O avanço das mulheres no comando das motos representa uma transformação cultural de grande relevância, mas também expõe fragilidades históricas da gestão de trânsito no Brasil. Para ele, “as motos vieram para ficar. Seu baixo custo, praticidade e mobilidade oferecem à mulherada alternativa vantajosa para se livrarem dos assédios nos coletivos entupidos.”

No entanto, o especialista alerta que a ausência de campanhas educativas consistentes e de incentivos à formação de condutores reforça um problema estrutural: a mobilidade cresce em velocidade maior do que a capacidade institucional de regulamentá-la com segurança. O desafio, conclui, é equilibrar inclusão e liberdade com políticas que assegurem ordem e preservação da vida.

Perfil do autor

Joseval Carneiro (joseval@plenus.net) é ex-diretor do DETRAN-DF e do Conselho Estadual de Trânsito da Bahia, delegado de Polícia aposentado com especialização nos Estados Unidos, membro da Associação Bahiana de Imprensa (ABI) e vice-presidente da Academia de Cultura da Bahia.


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