Setembro Amarelo: quando um gesto se transforma em movimento mundial | Por Thiago Vieira

O Setembro Amarelo, movimento global de prevenção ao suicídio iniciado nos EUA em 1994, foi adotado oficialmente no Brasil em 2014 pela ABP e CFM. Em 2022, o país registrou mais de 16 mil suicídios e, em 2023, mais de 11 mil internações por tentativas. A campanha busca quebrar tabus, incentivar a busca por ajuda e fortalecer redes de apoio, destacando a importância da identificação precoce e do acesso à saúde mental.
Setembro Amarelo reforça a prevenção ao suicídio no Brasil, alerta para aumento entre jovens e destaca a importância da rede de apoio e da busca por ajuda.

“Se precisar, peça ajuda.” Essa frase simples deu origem a um dos maiores movimentos de prevenção ao suicídio no mundo.

A história começa em 1994, nos Estados Unidos, com a morte do jovem Mike Emme, de apenas 17 anos. Conhecido por sua generosidade e pelo carinho dedicado a um Mustang amarelo que ele próprio restaurara, Mike se suicidou em setembro daquele ano. No funeral, amigos e familiares distribuíram cartões e fitas amarelas com a mensagem “Se precisar, peça ajuda”, que se tornaria símbolo de esperança.

O gesto se espalhou e inspirou a adoção do amarelo como cor de referência mundial na luta contra o suicídio.

No Brasil, o Setembro Amarelo foi oficialmente instituído em 2014, por iniciativa da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM). Desde então, o 10 de setembro, Dia Mundial de Prevenção do Suicídio, é marcado por ações de conscientização em todo o país.

Ao longo do mês, prédios e monumentos são iluminados, escolas e empresas promovem palestras, e campanhas ganham destaque nas redes sociais e meios de comunicação, sempre com o mesmo objetivo: quebrar o tabu, reduzir o estigma e incentivar as pessoas a buscar ajuda.

A urgência dessa mobilização se explica pelos números alarmantes. O suicídio é responsável por cerca de 1 milhão de mortes ao ano no mundo e, no Brasil, a realidade também preocupa. Em 2022, foram registrados 16.262 suicídios no país — uma média de 44 por dia. Entre 2011 e 2022, o Brasil somou quase 148 mil mortes por suicídio, com aumento expressivo entre jovens: taxas cresceram 6% ao ano nesse grupo.

As tentativas também preocupam. Em 2023, o SUS registrou 11.502 internações por tentativas de suicídio — 31 por dia, com maior concentração entre adolescentes e jovens adultos. Paralelamente, o Centro de Valorização da Vida (CVV) recebeu quase 3 milhões de ligações entre março de 2023 e março de 2024 — mais de 8 mil por dia.

Entre os principais fatores de risco estão: tentativa prévia, doenças mentais como depressão, transtorno bipolar, esquizofrenia, abuso de substâncias e transtornos de personalidade. Outros elementos elevam o risco: desesperança, impulsividade, doenças crônicas, histórico familiar, isolamento social, questões econômicas e o gênero masculino.

Por outro lado, existem fatores de proteção: apoio familiar e social, religiosidade, autoestima elevada, emprego, filhos, boa relação terapêutica e acesso a cuidados em saúde mental.

Identificação precoce e acesso ao cuidado

Apesar de suas múltiplas causas — biológicas, psicológicas, sociais e culturais — o suicídio é prevenível. Um dos passos mais importantes é a identificação precoce de sinais de risco, como isolamento repentino, falas sobre morte, perda de interesse por atividades habituais, mudanças de comportamento ou abuso de álcool e drogas.

Quando identificados, esses sinais devem levar ao encaminhamento imediato para serviços de saúde, como Unidades Básicas de Saúde, Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e serviços de emergência psiquiátrica. O diagnóstico precoce de doenças psiquiátricas como depressão, transtorno bipolar ou esquizofrenia pode evitar o agravamento do sofrimento e reduzir drasticamente o risco de suicídio.

A importância da rede de apoio

Nenhuma pessoa deve enfrentar sozinha a dor emocional. O suporte da família, amigos, comunidade e profissionais de saúde é determinante para fortalecer a autoestima, aumentar a adesão ao tratamento e criar um ambiente de acolhimento.

Além disso, escolas, locais de trabalho, igrejas e organizações sociais podem atuar como redes de proteção, identificando situações de vulnerabilidade e oferecendo apoio contínuo.

O Setembro Amarelo nasceu de uma tragédia pessoal, mas transformou-se em um movimento global pela vida. Mais do que lembrar da dor, ele reforça a esperança: buscar ajuda é um ato de coragem, e apoiar alguém que sofre pode salvar vidas.

*Thiago Vieira, médico oncologista clínico, atua no diagnóstico e tratamento de diversos tipos de câncer. Comprometido com a assistência integral ao paciente oncológico, dedica-se também à educação em saúde e à divulgação científica, com o propósito de tornar a informação médica mais acessível e próxima da comunidade.

*Contato através do e-mail: thiagosanvieira@hotmail.com


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