Começou nesta quinta-feira (06/11/2025) o julgamento do caso conhecido como “Cadernos da Corrupção”, considerado o maior processo de corrupção da história da Argentina. O caso tem como principal ré a ex-presidente Cristina Kirchner (2007–2015), acusada de liderar uma organização criminosa voltada à arrecadação ilegal de recursos de empresários em troca de contratos públicos. As audiências ocorrerão de forma virtual e poderão se estender por vários anos.
Estrutura do julgamento e número de envolvidos
A acusação aponta que o esquema teria sido criado pelo ex-presidente Néstor Kirchner (2003–2007) e mantido por Cristina após sua morte, em 2010. No total, 87 pessoas são acusadas, incluindo 19 ex-funcionários públicos — entre ministros e secretários —, dois motoristas e 65 empresários ligados aos setores de construção civil, energia e transporte.
Cristina Kirchner é acusada de ser coautora de 204 casos e partícipe em outro, dentro de um conjunto de 304 episódios conectados a seis processos judiciais. As acusações incluem encobrimento, suborno e corrupção ativa e passiva.
Segundo a promotora pública Fabiana León, trata-se do “maior mecanismo de corrupção dos últimos 20 anos” e da “investigação judicial mais extensa da história argentina”.
Julgamento por videoconferência
Diante da dimensão do processo, o julgamento será realizado por videoconferência e transmitido pelo YouTube. A fase inicial, dedicada à leitura das acusações e provas, deve durar até o final do ano. Em 2026, será iniciada a etapa de depoimentos de testemunhas e peritos, com sessões restritas à imprensa credenciada.
As defesas e o veredito final serão abertos ao público, mas a sentença pode levar anos para ser anunciada, segundo o Ministério Público.
O mecanismo de corrupção
As investigações, iniciadas em 2016, baseiam-se em oito cadernos escritos pelo motorista Oscar Centeno, do Ministério do Planejamento, que se tornou delator premiado. Ele registrava datas, locais e nomes de empresários e funcionários envolvidos em pagamentos de propina.
O esquema incluía a atribuição de obras públicas e concessões ferroviárias e rodoviárias mediante o pagamento de subornos. Os empresários ajustavam preços 20% acima do valor real para incluir a propina, segundo o financista Ernesto Clarens, colaborador próximo dos Kirchner.
Entre os principais nomes do governo apontados pela acusação estão o ex-ministro Julio de Vido, o subsecretário Roberto Baratta e o ex-secretário de Transportes Ricardo Jaime.
Delatores e mudanças legais
A figura do “arrependido”, equivalente à delação premiada, foi introduzida na legislação argentina apenas em 2016, durante o governo de Mauricio Macri (2015–2019). Isso permitiu que empresários participassem das investigações em troca de colaboração judicial.
No total, 47 empresários e quatro ex-funcionários tentaram evitar o julgamento oferecendo US$ 13 milhões em ressarcimento, valor considerado insuficiente pela promotoria.
Alguns acusados, como o empreiteiro Angelo Calcaterra, primo de Mauricio Macri, tentaram transferir os casos à Justiça Eleitoral, alegando financiamento ilegal de campanhas. Embora a tese tenha sido aceita em primeira instância, foi posteriormente anulada, mas ainda cabe recurso.
Papel da imprensa e impacto institucional
Os cadernos foram inicialmente entregues ao jornalista Diego Cabot, do La Nación, que revelou o conteúdo e deu início às investigações. O material foi encaminhado ao promotor Carlos Stornelli e ao juiz Claudio Bonadío, ambos responsáveis pela instrução do caso.
Com o passar dos anos, o processo tornou-se símbolo do uso inédito de provas documentais e colaborações premiadas em um caso de corrupção na Argentina.
Cristina Kirchner, hoje condenada a seis anos de prisão domiciliar em outro processo, afirma que “não há provas” contra ela e que as acusações têm motivação política.
Possíveis desfechos
O julgamento dos “Cadernos da Corrupção” poderá se estender por vários anos, com penas previstas de um a seis anos de prisão para empresários e ex-funcionários condenados. Dos 91 acusados originais, quatro já morreram durante o curso do processo.
*Com informações da RFI.
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