CPI do Crime Organizado debate integração policial e atuação do Judiciário em enfrentamento às facções

Diretor de Inteligência da PF detalha diagnóstico, integração e desafios estruturais no combate ao crime organizado.
Diretor de Inteligência da PF detalha diagnóstico, integração e desafios estruturais no combate ao crime organizado.

O diretor de Inteligência da Polícia Federal, Leandro Almada da Costa, afirmou nesta terça-feira (25/11/2025), durante depoimento na CPI do Crime Organizado, que é necessário um diagnóstico aprofundado, maior integração entre as forças policiais e alocação eficiente de recursos para conter o avanço das facções. O diretor também comentou decisões do Poder Judiciário que, segundo ele, impactam operações contra grupos criminosos.

A PF organiza sua estratégia em três eixos principais: descapitalização das organizações, prisão e isolamento de lideranças e cooperação integrada entre forças nacionais e internacionais. Almada afirmou que tais pilares orientam ações para reduzir a capacidade de articulação interna e externa das facções.

O diretor destacou ainda que alguns julgamentos judiciais estariam produzindo efeitos operacionais que dificultam o alcance de resultados estratégicos. Segundo ele, decisões que flexibilizam restrições impostas a lideranças criminosas têm permitido a reestruturação de atividades ilícitas mesmo após prisões.

Integração entre forças policiais

A integração operacional ocorre principalmente por meio da Força Integrada de Combate ao Crime Organizado (Ficco). O modelo reúne policiais federais, civis, militares e agentes penitenciários federais, compartilhando inteligência e coordenando ações ostensivas. Atualmente, o país possui 34 Ficcos ativas, sem a recusa de nenhum estado.

O relator da CPI, senador Alessandro Vieira (MDB-SE), questionou se seria necessária atualização legislativa para ampliar a efetividade do modelo. Almada afirmou que não é preciso alterar a legislação, defendendo que a integração depende de coordenação institucional e vontade política.

Ele ressaltou que a cooperação entre forças reduz duplicidades, agiliza operações e evita disputas administrativas. Para o diretor, a integração deve ser tratada como “questão de sobrevivência” na área de segurança pública.

Estrutura, capacidades estaduais e propostas legislativas

O diretor destacou que o enfrentamento ao crime organizado exige valorização das polícias estaduais e fortalecimento das estruturas de investigação nos estados. Para ele, sem esse suporte, a política nacional de combate a facções não alcançará avanços consistentes.

Durante o debate, o senador Sergio Moro (União-PR) levantou a possibilidade de criação de uma agência nacional antimáfia para coordenar ações. Almada avaliou que PF, Ministérios Públicos e polícias estaduais já dispõem de capacidade de integração, e que a criação de um novo órgão poderia gerar sobreposição de funções e disputas internas.

O diretor também afirmou que o compartilhamento de informações é padrão na PF, salvo quando há sigilo legal necessário. A corporação, segundo ele, mantém cooperação com estados e outros países, ainda que algumas nações apresentem limitações históricas no fornecimento de dados.

Milícias e infiltração financeira

Almada destacou que o fenômeno das milícias é reconhecido institucionalmente apenas no Rio de Janeiro, e defendeu ações preventivas para evitar a expansão do modelo para outros estados.

O diretor alertou ainda para a capacidade financeira de infiltração do crime organizado — incluindo tráfico, milícia e contravenção — em estruturas públicas. Segundo ele, a movimentação de recursos ilícitos cria condições para interferências indevidas em órgãos de investigação.

Ele afirmou que o enfrentamento desse ciclo exige articulação administrativa, controle institucional e fortalecimento de mecanismos de investigação patrimonial.

Atuação do Judiciário e reorganização criminosa

Almada citou como exemplo uma operação realizada em São Paulo, na qual a PF identificou uma fábrica clandestina com produção anual estimada em 3,5 mil fuzis. Mesmo após a prisão do líder do grupo, decisões judiciais permitiram que ele retomasse a coordenação de atividades ilícitas.

O diretor defendeu maior alinhamento entre instituições policiais e o sistema de Justiça para evitar a reestruturação de redes criminosas durante processos penais.

Financiamento da Polícia Federal

Almada classificou a Amazônia como um dos maiores desafios operacionais devido à extensão territorial, fronteiras e necessidade de cooperação com países vizinhos. Ele defendeu financiamento adequado, integração entre órgãos de fiscalização e investimento contínuo em infraestrutura tecnológica e bases de dados.

O diretor expressou preocupação com propostas que reduzam recursos da PF, afirmando que isso pode prejudicar operações e comprometer a política de enfrentamento a facções. Ele mencionou as discussões sobre o projeto antifacção (PL 5.582/2025), ressaltando que eventuais cortes representariam desvantagem estratégica.

Criptomoedas, fintechs e inteligência financeira

O relator questionou lacunas na legislação envolvendo fintechs e criptomoedas. Almada explicou que, diante da ampliação do uso desses sistemas por facções, a PF criou um modelo de inteligência financeira para dialogar diretamente com representantes do mercado.

O diretor citou o uso de contas-bolsão, mecanismo utilizado pelo PCC para lavar recursos sem identificação dos usuários finais. Após articulação entre instituições, o Banco Central publicou, no início de novembro, uma resolução que estabelece critérios para melhorar o rastreamento dessas operações.

Segundo Almada, a regulamentação uniforme impõe barreiras a práticas que ofereciam anonimato operacional e dificultavam a atuação de órgãos de controle.

*Com informações da Agência Senado.


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