A violência contra mulheres permanece uma emergência global, segundo novo relatório da Organização Mundial da Saúde e parceiros da ONU. A publicação mostra que uma em cada três mulheres, cerca de 840 milhões de pessoas, já sofreu violência física ou sexual ao longo da vida, enquanto 316 milhões foram vitimadas apenas no último ano por parceiros íntimos.
O documento inclui, pela primeira vez, estimativas nacionais e regionais de violência praticada por agressores que não são parceiros, revelando que 263 milhões de mulheres sofreram agressões sexuais desde os 15 anos. Especialistas afirmam que a subnotificação persiste devido ao estigma e ao medo de denunciar.
Os dados foram compilados entre 2000 e 2023, abrangendo 168 países, e antecedem o Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra as Mulheres. A análise destaca que a crise é agravada por instabilidade, desigualdades e mudanças tecnológicas que ampliam vulnerabilidades.
Falta de financiamento e pressão sobre políticas públicas
O relatório aponta queda expressiva no financiamento global destinado à prevenção da violência. Em 2022, apenas 0,2% da ajuda ao desenvolvimento foi direcionada ao tema, e em 2024 o volume caiu ainda mais. A ONU alerta que o recuo compromete iniciativas estruturais e pressiona governos e organizações a operar com recursos insuficientes.
O diretor-geral da OMS, Tedros Ghebreyesus, destacou que cada dado representa vidas permanentemente impactadas. De acordo com o relatório, a violência sexual relacionada a conflitos continua sendo utilizada como arma de guerra, ampliando riscos e profundidade dos danos.
A análise também mostra que mulheres expostas à violência enfrentam maior risco de gravidez indesejada, infeções sexualmente transmissíveis e depressão. A exposição começa cedo: 12,5 milhões de adolescentes entre 15 e 19 anos, ou 16%, sofreram violência por parceiro íntimo no último ano.
Padrões regionais e dados dos países lusófonos
Em regiões com instabilidade ou vulnerabilidade climática, a prevalência de violência é mais elevada. A Oceania, excluindo Austrália e Nova Zelândia, registrou 38% de violência por parceiros no último ano, mais que o triplo da média global de 11%.
Entre países de língua portuguesa, os dados também são expressivos. Timor-Leste apresenta prevalência de 41,7%, seguido por Angola (33,9%), São Tomé e Príncipe (30,4%), Moçambique (24,4%), Brasil (19,3%) e Cabo Verde (17,3%). Portugal registra 9,8%.
No caso da violência cometida por não parceiros ao longo da vida, os índices são menores. Brasil (6,4%), Portugal (5%) e São Tomé e Príncipe (2,9%) lideram, enquanto Angola, Moçambique e Timor-Leste apresentam taxas entre 1,5% e 2,1%.
Avanços, compromissos e planos nacionais
Apesar das lacunas, o relatório identifica avanços pontuais sustentados por políticas públicas e financiamento interno. O Camboja implementa projeto nacional que revisa legislação, melhora serviços e utiliza soluções digitais para prevenção em escolas e comunidades.
Equador, Libéria, Trinidad e Tobago e Uganda anunciaram planos nacionais com financiamento dedicado, indicando fortalecimento de compromissos mesmo diante da redução do apoio internacional.
Apelo global por medidas urgentes
A ONU afirma que acelerar o progresso exige ações imediatas, incluindo ampliação de programas de prevenção, reforço de serviços de saúde, assistência social e suporte legal. O relatório também recomenda investimentos em sistemas de dados e monitorização, além da aplicação eficaz de legislações que garantam proteção às mulheres e meninas.
A mensagem final da agência é direta: romper o silêncio e fortalecer compromissos governamentais é fundamental para enfrentar a violência e reduzir riscos estruturais ainda persistentes.
*Com informações da ONU News.
Share this:
- Click to print (Opens in new window) Print
- Click to email a link to a friend (Opens in new window) Email
- Click to share on X (Opens in new window) X
- Click to share on LinkedIn (Opens in new window) LinkedIn
- Click to share on Facebook (Opens in new window) Facebook
- Click to share on WhatsApp (Opens in new window) WhatsApp
- Click to share on Telegram (Opens in new window) Telegram
Relacionado
Discover more from Jornal Grande Bahia (JGB)
Subscribe to get the latest posts sent to your email.




