A intensificação dos ataques no norte de Moçambique resultou na fuga de quase 100 mil pessoas em duas semanas, segundo atualização divulgada pela Agência da ONU para Refugiados (Acnur). A escalada de violência alcança distritos antes considerados seguros, pressiona estruturas humanitárias e amplia a vulnerabilidade de famílias deslocadas repetidas vezes ao longo de 2025.
Relatos de moradores indicam que grupos armados têm invadido aldeias, principalmente durante a noite, incendiando casas e atacando civis. A movimentação forçada ocorre em meio ao pânico, com famílias sendo separadas e idosos ficando para trás durante a fuga. Parte dessas pessoas enfrenta o terceiro deslocamento apenas neste ano.
A Acnur destaca que a resposta humanitária permanece insuficiente diante do aumento das necessidades. A ausência de documentos civis e de acesso a serviços básicos agrava os desafios para quem abandona suas comunidades em longas caminhadas sem garantia de segurança ou assistência.
Impactos diretos sobre mulheres, crianças e pessoas com deficiência
A falta de rotas seguras e de abrigo adequado eleva a exposição a riscos de exploração, violência sexual e violência de gênero, especialmente para mulheres e meninas. A ausência de iluminação e privacidade em centros comunitários aumenta a sensação de insegurança.
Em muitos casos, crianças se encontram desacompanhadas, e pessoas com deficiência ficam sem apoio para enfrentar deslocamentos prolongados. A precariedade das instalações afeta o acesso a necessidades básicas, como higiene, mobilidade e suporte psicológico.
Depoimentos coletados pelo Acnur incluem situações de fuga imediata após o parto, como o caso relatado por Isadora Zoni, oficial de comunicação da agência em Moçambique. Segundo ela, a predominância de crianças nos centros de acolhimento evidencia a dimensão do impacto sobre famílias com alta vulnerabilidade.
Demanda crescente por recursos para 2026
O Acnur estima que serão necessários US$ 38,2 milhões para atender às demandas de proteção em 2026. No entanto, em 2025, apenas 50% do orçamento previsto foi recebido, o que compromete a capacidade de resposta diante do avanço dos ataques.
Para mitigar danos, a agência atua em parceria com autoridades locais na criação de postos de atendimento que oferecem apoio psicossocial, distribuição de kits de dignidade, equipamentos de mobilidade e assistência para reposição de documentos civis.
A violência, iniciada em Cabo Delgado em 2017, já provocou o deslocamento de mais de 1,3 milhão de pessoas. Em 2025, os ataques passaram a atingir também a província de Nampula, ampliando o impacto sobre comunidades que anteriormente acolhiam famílias deslocadas.
Expansão do conflito e novos deslocamentos
A ampliação das áreas afetadas indica um cenário de instabilidade prolongada, com aumento na pressão sobre serviços locais de acolhimento. A chegada de novos grupos deslocados compromete a capacidade das estruturas já existentes, que operam com recursos limitados.
Organizações humanitárias relatam que a continuidade dos ataques dificulta o planejamento de rotas seguras e a entrega de auxílio. A mobilidade reduzida torna ainda mais complexa a distribuição de alimentos, água, medicamentos e itens básicos em regiões remotas.
A insegurança também afeta comunidades anfitriãs, que passam a lidar com o aumento da demanda por abrigo e serviços essenciais. A sobrecarga impacta diretamente a capacidade de resposta das autoridades locais e das organizações parceiras.
Consequências para comunidades historicamente vulneráveis
O avanço do conflito para novas áreas coloca em risco comunidades consideradas estáveis, alterando a dinâmica de apoio entre distritos vizinhos. Regiões antes receptoras de famílias deslocadas agora enfrentam ataques diretos, ampliando a necessidade de assistência emergencial.
A ausência de estabilidade territorial dificulta o retorno de famílias às suas áreas de origem, prolongando a permanência em abrigos temporários. A falta de infraestrutura adequada para acolher populações em movimento reforça a necessidade de mobilização de recursos internacionais.
Organizações humanitárias enfatizam que a continuidade da violência compromete o acesso a educação, saúde e documentação civil, com impactos duradouros sobre crianças e jovens.
*Com informações da ONU News.
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