Papa Leão XIV reforça apelo por reconciliação durante visita ao Líbano em meio a crise, tensões regionais e mobilização multiconfessional

Multidões recebem o pontífice sob forte chuva enquanto o país enfrenta crise econômica, divisões confessionais e temor de novo conflito.
Multidões recebem o pontífice sob forte chuva enquanto o país enfrenta crise econômica, divisões confessionais e temor de novo conflito.

A visita do papa Leão XIV mobilizou milhares de pessoas nesta segunda-feira (01/12/2025), quando o pontífice percorreu o Líbano com mensagens de esperança, permanência no país e reconciliação. O evento ocorreu em meio à crise econômica, à fragmentação política e ao receio de uma escalada militar na fronteira com Israel, tornando-se um raro momento de convergência entre comunidades religiosas.

No trajeto entre Beirute e Annaya, fiéis lotaram ruas e mosteiros, elevaram cartazes e entoaram cantos que ressaltavam a relevância simbólica da presença papal. Durante uma oração no santuário de São Charbel, Leão XIV reiterou o apelo para que os libaneses preservem a confiança no futuro nacional.

A celebração foi acompanhada por peregrinos que descreveram a visita como um incentivo ao país em meio às dificuldades sociais e econômicas. O governo decretou dois dias de feriado nacional devido à presença do líder católico.

Estrutura política e sistema confessional

As manifestações ocorreram enquanto o papa comentava as características do sistema político libanês, organizado por confissões religiosas e baseado em um pacto que distribui cargos de Estado de acordo com a fé. Pela tradição, o presidente é cristão maronita, o(a) primeiro-ministro(a) é muçulmano(a) sunita e o chefe do Parlamento é muçulmano xiita.

Com estimativas que apontam cerca de 67,8% da população como muçulmana e 32,4% como cristã, o arranjo confessional continua determinante para a composição e para a disputa institucional. A afirmação do papa sobre a necessidade de fortalecer o serviço público buscou direcionar o debate para o funcionamento das instituições e para a urgência de reformas.

Tensões regionais e crise econômica

A visita também ocorreu sob o impacto de bombardeios recentes na fronteira sul e do temor de que o cessar-fogo firmado no ano anterior possa ruir. Em discurso no santuário de Harissa, Leão XIV pediu que a população mantenha a esperança diante da instabilidade.

A crise econômica iniciada em 2019, citada pelo pontífice e por autoridades locais, provocou forte migração de jovens e trabalhadores especializados. Estimativas independentes indicam que mais de 800 mil libaneses deixaram o país desde 2012, agravando desafios sociais e demográficos.

Agenda papal e mobilização inter-religiosa

A programação incluiu encontros com representantes de diversas comunidades, participação em cerimônias religiosas e visitas a espaços simbólicos de Beirute. Na praça dos Mártires, palco de mobilizações históricas, o papa reforçou o compromisso com o diálogo inter-religioso.

Religiosos presentes destacaram que a visita reativou o debate sobre coexistência e sobre os esforços necessários para a estabilidade interna. Líderes comunitários enfatizaram a necessidade de união diante das dificuldades, apontando a mobilização popular como sinal de que a sociedade permanece aberta à busca por soluções comuns.

Reuniões com autoridades e apelos por reconciliação

No palácio presidencial, Leão XIV chamou governantes a priorizar o interesse coletivo e a adotar medidas que favoreçam a recuperação do país. Ele destacou que a reconstrução institucional depende de ações contínuas para superar tensões acumuladas desde a guerra civil (1975–1990).

O presidente Joseph Aoun afirmou que a preservação do modelo libanês de coexistência é essencial para a região. O encontro consolidou uma mensagem de cooperação e reforçou a proposta de diálogo para enfrentar desafios internos e externos.

Continuidade da viagem internacional

A passagem pelo Líbano é a segunda etapa da primeira viagem internacional de Leão XIV, iniciada na Turquia. Em Istambul, o papa celebrou uma missa com a comunidade católica local, reuniu-se com líderes ortodoxos e visitou a Mesquita Azul, reforçando o compromisso com o diálogo inter-religioso.

A visita ao país vizinho foi acompanhada por um esquema de segurança ampliado, mas gerou grande mobilização entre grupos religiosos e comunitários que buscaram acompanhar os eventos.

*Com informações da RFI.


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