França enfrenta sexto dia de greve nacional em um ano; Refinarias estão bloqueadas

Trabalhadores franceses da gigante petrolífera francesa TotalEnergies participam de uma manifestação contra o plano de reforma do governo francês em Saint-Nazaire.
Trabalhadores franceses da gigante petrolífera francesa TotalEnergies participam de uma manifestação contra o plano de reforma do governo francês em Saint-Nazaire.

A França enfrenta o sexto dia de greve nacional este ano, em protesto contra a reforma da Previdência. Os jornais desta terça-feira (07/03/2023) destacam a ação dos sindicatos contra o projeto do governo que pretende alterar, entre outras medidas, a idade mínima para a aposentadoria. Dos transportes à educação, passando pela energia, a mobilização é massiva: são cerca de 300 protestos em todo país, com bloqueio de refinarias e uma participação prevista de mais de 1,5 milhão de grevistas.

“O primeiro dia do resto da greve”: essa é a manchete de capa inteira do jornal Libération. O diário salienta que “a greve entra numa nova fase” e poderá ser contínua em alguns setores, como refinarias, distribuição de energia e gás e coleta de lixo.

O setor ferroviário e o transporte público de Paris sofrem perturbações desde a noite de segunda-feira (6), com uma média de um metrô sobre cinco circulando e 80% dos trens de alta velocidade cancelados. A situação é parecida em outras grandes cidades como Marselha, Nice e Bordeaux.

Os sindicatos convocaram uma “paralisação” do país inteiro para bloquear o projeto do presidente Emmanuel Macron que prevê o aumento da idade mínima para a aposentadoria de 62 para 64 anos. O texto está atualmente em análise no Senado francês.

Enquanto os governistas se preocupam com as consequências de um bloqueio a longo prazo, a oposição diz estar pronta para dar sequência o movimento “até colocar a economia de joelhos”. O ministro das contas Públicas francês, Gabriel Attal, diz que isso seria “colocar os trabalhadores de joelhos”, cita o texto.

O jornal Libération também destaca a expectativa de uma adesão massiva na área da educação, com participação de 60% dos funcionários do setor e 20 bloqueios em universidades, além de uma forte participação estudantil nos protestos.

O jornal Le Figaro traz na capa uma foto de uma estação de trem vazia e a manchete: “Os sindicatos vão para o vale-tudo”. O diário traz uma longa cobertura sobre o movimento grevista, apontando que governo e manisfestantes chegam “à hora da verdade”. A batalha, que se estende desde o início do ano, é descrita pelo jornal como uma “guerra de trincheiras sociais”.

Refinarias bloqueadas

Os grevistas fazem piquetes nas ruas e bloqueiam acessos rodoviários, como em Rennes, no oeste da França. Os bloqueios impedem a saída de combustível de todas as refinarias do país nesta manhã, informou o sindicato da categoria. O abastecimento, contudo, está garantido nas bombas porque além do combustível nas refinarias, a França possui 200 depósitos que possibilitam manter os postos abertos, de acordo com o porta-voz do sindicato dos petroleiros.

O tráfego sofre perturbações, também registradas nos aeroportos metropolitanos. A Direção Geral de Aviação fala em uma redução dos voos em até 30%. Na Air France, a previsão é de 20% dos voos cancelados nesta terça-feira.

A reportagem do Figaro antecipa os riscos de depredações durante as manifestações que, segundo o texto, devem reunir cerca de 1,5 milhão de pessoas, entre elas “vândalos oriundos da extrema esquerda e do movimento dos coletes amarelos”, o que é descrito como “um coquetel potencialmente explosivo”. O serviço de inteligência da polícia francesa, citado pelo diário, diz esperar entre 400 a 800 “grevistas radicais”.

O jornal também fez as contas: um dia de greve na empresa pública de trens SNCF custa € 20 milhões e € 8 milhões para a companhia aérea Air France.

Estratégias do governo

O jornal Le Monde destaca as estratégias do governo para dissuadir os franceses de participarem da greve. Nos últimos dias, o porta-voz do executivo, Olivier Véran, falou que parar a França acentuaria “os riscos de uma catástrofe ecológica, agrícola, sanitária e até humanitária”. De acordo com o diário, o governo “dramatiza” os efeitos da mobilização e trata com eufemismo os principais pontos da reforma, que é vendida à população como garantia de “justiça e progresso”, segundo o jornal, que também destaca a possibilidade de continuidade do movimento grevista por vários dias.

A primeira-ministra Elisabeth Borne pediu que os franceses não sejam penalizados com a paralisação. Enquanto isso, as centrais sindicais buscam apoio para uma mobilização extremamente forte. Os sindicatos prometem um “tsunami social”. A previsão é de que até 90 mil trabalhadores devam parar só em Paris.

Ao que tudo indica, a mobilização não deve bater recorde de participação nesta terça-feira. Até o momento, o protesto do dia 31 de janeiro, foi o que conseguiu reunir o maior número de pessoas. Na ocasião, 2,5 milhões de manifestantes saíram às ruas em toda a França, de acordo com os números das centrais sindicais, 1,27 milhão, segundo as autoridades.

Depois de não ter sido votado na Assembleia Nacional, o projeto da reforma da Previdência seguiu para análise no Senado. O governo pode optar por um polêmico procedimento parlamentar que limita o tempo de debate e permite aplicar as medidas, caso as duas Câmaras do Parlamento não aprovem o mesmo texto, até 26 de março.

A França tem, atualmente, uma das menores idades mínimas para a aposentadoria da Europa. O governo alega que, com as mudanças, pretende evitar um déficit da Previdência. Especialistas sobre a questão apontam para o contrário, apontando que um equilíbrio é possível aliando o nível de produtividade às cotizações ao Estado.

A reforma da Previdência enfrenta forte resistência entre a população. Dois em cada três franceses, segundo as últimas pesquisas, são contrários ao projeto.

*Com informações da RFI.


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