Em entrevista televisiva nesta quarta-feira (22/03/2023) às 13 horas, nesta que foi a sua primeira intervenção pública em dois meses de mobilização contra a sua polêmica reforma elevando de 62 para 64 anos a idade mínima de aposentação, o Presidente francês Emmanuel Macron, defendeu este dispositivo, renovou a sua confiança à sua Primeira-ministra e denunciou as “facções e os facciosos”.
“É preciso que a lei entre e vigor até ao final do ano, mas para já é preciso esperar pela decisão do conselho constitucional” começou por dizer o Presidente que por outro lado também evocou a polémica desencadeada por declarações suas ontem em que denunciou a atitude de “multidões sem legitimidade”.
“Proferi ontem declarações a alguns parlamentares que foram alvo de ataques inaceitáveis. Há uma legitimidade que existe. Os sindicatos têm legitimidade e quando manifestam têm legitimidade. Quando se opõem a esta reforma, eles têm o meu respeito porque defendem um ponto de vista. Quando alguns grupos cometem actos de extrema violência para agredir eleitos parlamentares, usam dessa violência porque estão descontentes, isso já não é aceitável. Não posso aceitar nem actos, nem opiniões parciais. No entanto, é preciso ouvi-los e ouvir os descontentamentos e responder-lhes”, disse o Presidente em alusão nomeadamente à vandalização da permanência do líder dos Republicanos, Eric Ciotti, em Nice no sul, no passado fim-de-semana.
“Pensam que fico feliz por fazer esta reforma? Não. Esta reforma não é um prazer, não é um luxo, é uma necessidade”, martelou Emmanuel Macron que muito embora tenha lamentado não ter conseguido convencer os franceses, não deu sinais do mais ínfimo recuo face aos protestos populares.
As declarações do chefe de Estado francês estão a ser bastante comentadas, senão mesmo criticadas por boa parte do microcosmo social e político aqui em França, o termo “desprezo” sendo decerto o qualificativo que mais se ouve nestas últimas horas para descrever o discurso de Emmanuel Macron.
Tal é o caso do lado dos sindicatos. As palavras de Macron são uma marca de “desprezo para com os milhões de pessoas que manifestam” segundo Philippe Martinez, líder do sindicato CGT. No mesmo sentido, Laurent Berger, presidente do sindicato CFDT, acusou quanto a si o Presidente de “negação” e “mentira” quando este último referiu hoje que os sindicatos não propuseram compromissos.
À esquerda do xadrez político, o líder da França Insubmissa (LFI), Jean-Luc Mélenchon, também falou em “desprezo” e considerou que “Macron vive fora da realidade”. Para Olivier Faure, líder dos socialistas, “o Presidente francês colocou mais explosivos num fogo já bem aceso”. Para os verdes, o Presidente deu provas da sua “auto-satisfação”.
À direita, Eric Ciotti, líder dos republicanos que até agora garantiam estabilidade ao executivo mas cujos eleitos aderiram em parte às moções de censura, lamentou que o Presidente “não tenha proposto soluções à altura da crise”. Na extrema-direita, Marine le Pen, quanto a si, considerou que “Macron confortou o sentimento de desprezo” para com os seus concidadãos.
Em vésperas da nona jornada de greve nacional amanhã, os bloqueios continuam em várias refinarias, a zona portuária de Marselha, no sul, tendo sido bloqueada hoje.
Incêndio social em França continua depois do fracasso das duas moções de censura
A situação social continua tensa depois da adoção efetiva ontem da polêmica reforma do sistema de aposentações, depois do fracasso de duas moções de censura contra o governo. O executivo não deixa, contudo, de estar numa posição difícil, já que uma das moções conduzida por partidos do centro e da esquerda falhou apenas por nove votos. Uma demissão da primeira-ministra está, todavia, excluída, segundo o porta-voz do governo, Olivier Véran.
Apesar de o seu governo não ter sido derrubado por pouco ontem no parlamento, uma demissão de Elisabeth Borne não está na ordem do dia, disse hoje Olivier Véran, porta-voz do governo, nem tão-pouco uma dissolução do parlamento, um referendo sobre o sistema de aposentações, ou uma remodelação do executivo, segundo membros do partido presidencial que participaram numa reunião com Emmanuel Macron esta manhã.
O presidente francês, que deve intervir esta quarta-feira na televisão às 13 horas para evocar nomeadamente a polêmica reforma que faz passar a idade mínima de aposentação de 62 para 64 anos, está a efetuar uma série de consultas. Depois de um encontro hoje com os presidentes do Senado e do Parlamento, ele recebe no final do dia os membros da sua maioria, numa altura em que algumas vozes se expressam inclusivamente no seu campo para reclamar a suspensão da reforma.
Na oposição, cada bancada contra-ataca. Os deputados do grupo NUPES e os senadores socialistas anunciaram a sua intenção de apresentar os seus respectivos recursos contra a reforma governamental junto do Conselho Constitucional. A extrema-direita de Marine le Pen, entretanto, já entregou o seu recurso.
Na rua, a mobilização também continua, nomeadamente em Paris, Nantes, Estrasburgo e Lille, no norte. No âmbito destes protestos marcados por alguma tensão, fontes policiais avançam que um total de 287 pessoas foram detidas ontem à noite, das quais 234 em Paris.
Antes da nona jornada de greve no dia 23, continuam igualmente bloqueios esporádicos por parte de trabalhadores do sector da eletricidade, mas também e sobretudo, várias refinarias estão paradas, nomeadamente uma das principais, em Fos-sur-Mer, no sul. Uma situação perante a qual o governo já anunciou hoje que iria proceder à requisição de trabalhadores.
*Com informações da RFI.
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