Após a invasão da Ucrânia pela Rússia em 24 de fevereiro de 2022, o Ocidente impôs severas sanções a Moscou, visando cortar sua capacidade de financiar a guerra. As medidas incluíram o congelamento de reservas em moeda estrangeira, restrição ao acesso a tecnologia ocidental e exclusão de bancos russos do sistema internacional de transações bancárias Swift. Inicialmente, essas sanções fizeram o rublo despencar e a economia russa encolher 1,2% em 2022. Entretanto, no ano seguinte, o crescimento econômico da Rússia superou o dos Estados Unidos e da União Europeia, atingindo 3,6%, com expectativas de continuidade do crescimento em 2024.
Grande parte desse crescimento é atribuída ao comércio com a China, que recusou impor sanções à Rússia e se tornou um importante comprador de energia russa. A China, sob pressão dos EUA e da Europa, aprofundou sua aliança com a Rússia desde o início da guerra na Ucrânia. Em 2023, o presidente chinês, Xi Jinping, destacou uma “nova era” nas relações sino-russas, e o presidente russo, Vladimir Putin, visitou Pequim pela terceira vez no ano, participando da 8ª Expo China-Rússia em Harbin.
Para a Rússia, sitiada por sanções e isolamento global, a China tem sido vital. Segundo Philipp Ivanov, fundador da Geopolitical Risks + Strategy Practice, a China é o principal destino do comércio de energia russo e grande fornecedora de equipamentos e tecnologias críticas. Com a saída de marcas europeias e americanas do mercado russo para evitar sanções, Moscou intensificou a aquisição de mercadorias chinesas, elevando o comércio bilateral para 240 bilhões de dólares em 2023, um aumento de mais de 25% em relação ao ano anterior, de acordo com dados da alfândega chinesa.
Embora a Rússia tenha se tornado o principal fornecedor de petróleo bruto para a China, analistas indicam que as exportações de tecnologia são as principais responsáveis pelo aumento no comércio bilateral. Acordos energéticos frequentemente envolvem descontos consideráveis, já que o Ocidente deixou de confiar no petróleo e gás russos. Alicia García-Herrero, economista-chefe para a Ásia-Pacífico do Natixis, afirmou que a Rússia depende da China para caminhões, chips eletrônicos, drones e bens intermediários, já que é o único país que exporta esses produtos para os russos atualmente.
Os pagamentos comerciais para a Rússia são realizados em renminbi, a moeda chinesa, através do sistema chinês de pagamentos internacionais, dificultando o rastreamento das transações. Em dezembro, o presidente Joe Biden assinou uma ordem executiva permitindo sanções secundárias contra instituições bancárias estrangeiras que negociem com a Rússia. Essas sanções poderiam isolar essas instituições do sistema financeiro global baseado no dólar americano.
Desde o início de 2024, vários bancos chineses reduziram transações com clientes russos para evitar o risco de sanções. Negócios transnacionais estão sendo submetidos a verificações adicionais, o que pode prejudicar exportadores menores. García-Herrero destacou a importância de manter a pressão para que sanções incluam companhias que exportam produtos de uso dual para a Rússia e bancos que financiam esses acordos.
Durante visita recente a Pequim, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, acusou a China de “alimentar” a máquina bélica russa com eletrônicos, produtos químicos para munições e propulsores de foguetes, sugerindo novas medidas punitivas caso a China não restrinja essas exportações. Pequim tem rechaçado repetidamente as acusações.
A perspectiva de uma mudança significativa na postura chinesa é improvável. Ivanov afirma que Moscou e Pequim estão “agindo de modo concertado para minar o sistema global atual” e buscam “assegurar suas economias para o futuro”, em um cenário geopolítico multipolar. A China provavelmente buscará canais mais discretos para apoiar economicamente a Rússia, utilizando países terceiros como trânsito, especialmente na Ásia Central.
*Com informações da DW.
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