Livro de jornalista brasileira lançado nos EUA revela expansão do movimento evangélico no Sul Global

Adriana Carranca apresenta sua obra "Soul by Soul", que analisa a crescente presença de missionários evangélicos brasileiros em regiões de maioria muçulmana.

O movimento pentecostal, originado nos Estados Unidos no início do século XX, experimentou uma rápida expansão pelo Sul Global, levando a Igreja Católica a intensificar seus esforços de evangelização, especialmente após os atentados de 11 de setembro de 2001. Com o aumento da insegurança para missionários americanos em regiões como o Afeganistão e o Iraque, missionários latino-americanos foram mobilizados para continuar essa missão global.

No livro Soul by Soul (Columbia Global Reports, 2023), a jornalista Adriana Carranca explora essa expansão do cristianismo evangélico pentecostal através da narrativa de uma família missionária brasileira que se muda para o Afeganistão. Carranca, que é reconhecida por seu trabalho como correspondente de guerra, tem experiência na cobertura de conflitos no Oriente Médio, na Ásia e na África, além de temas relacionados a direitos humanos, gênero e política internacional. Durante o lançamento de sua obra em inglês no teatro Martin E. Segal, na Universidade da Cidade de Nova York, ela discutiu as motivações por trás do crescimento do número de missionários brasileiros, tanto no Brasil quanto no exterior.

Carranca observou que um movimento menos conhecido tem crescido nos últimos anos, com famílias brasileiras indo clandestinamente para países de maioria muçulmana, como Afeganistão, Iraque e Síria, com o intuito de evangelizar esses povos. Ao encontrar um casal brasileiro que administrava uma pizzaria em Cabul, a jornalista inicialmente suspeitou que se tratava de mercenários ou traficantes, dada a notoriedade da região. No entanto, logo se tornou evidente que seu objetivo era a disseminação da fé cristã em áreas de difícil acesso.

Embora o Brasil possua uma forte tradição católica, o país destaca-se como o segundo maior exportador de missionários evangélicos. A autora menciona que esse aumento é resultado do movimento pentecostal, que se espalhou pela América Latina com a premissa de que a palavra de Deus estava sendo distorcida pela Igreja Católica. Essa corrente religiosa começou a traduzir a Bíblia para várias línguas, buscando disseminar a palavra de Deus.

O pentecostalismo encontrou terreno fértil na América Latina, influenciado por uma mescla de tradições culturais e religiosas. Carranca destaca que essa denominação foi bem recebida devido à sua proposta de igualdade, onde todos são considerados filhos de Deus, independentemente de sua formação. Esse modelo atraiu muitos, especialmente em comunidades vulneráveis, onde a mensagem de que qualquer um pode se tornar pastor, mesmo sem formação acadêmica, ressoou fortemente.

A expansão do movimento pentecostal foi significativa, levando líderes religiosos a considerar o envio de missionários latino-americanos para regiões de conflito a partir de 2002 e 2003. As circunstâncias perigosas para missionários americanos levaram a essa reavaliação. A partir de então, missionários latino-americanos começaram a ser enviados em massa para o Oriente Médio e a Ásia. Esses missionários, muitas vezes autossuficientes, não dependiam de recursos das igrejas americanas, encontrando formas de se manter durante suas missões.

Entretanto, o trabalho missionário em regiões como o Afeganistão apresenta complexidades. Muitos dos novos convertidos são membros da minoria hazara, historicamente perseguida pelos talibãs. Carranca aponta que as conversões podem ocorrer em busca de segurança, ajuda humanitária e um sentimento de abandono por parte da comunidade muçulmana. O quadro de violência e pobreza, embora alarmante, não é tão impactante para os missionários brasileiros quanto seria para seus colegas americanos, devido à realidade de violência e desigualdade social que os brasileiros já enfrentam em seu próprio país.

Além do Oriente Médio, muitos missionários brasileiros identificam oportunidades de evangelização na crise dos refugiados na Europa, considerando essa situação uma bênção. Para esses missionários, as circunstâncias adversas fazem parte de um plano divino maior, que norteia suas ações e motivações.

O livro de Carranca oferece uma visão aprofundada sobre a intersecção entre religião e política em contextos de conflito, revelando as dinâmicas do movimento evangélico no Sul Global e seu impacto na sociedade contemporânea.

*Com informações da RFI.


Discover more from Jornal Grande Bahia (JGB)

Subscribe to get the latest posts sent to your email.

Facebook
Threads
WhatsApp
Twitter
LinkedIn

Deixe um comentário

Discover more from Jornal Grande Bahia (JGB)

Subscribe now to keep reading and get access to the full archive.

Continue reading

Privacidade e Cookies: O Jornal Grande Bahia usa cookies. Ao continuar a usar este site, você concorda com o uso deles. Para saber mais, inclusive sobre como controlar os cookies, consulte: Política de Cookies.