Da visita à Amazônia à “ecologia integral”, como o Papa Francisco impulsionou a preservação do planeta

O pontífice argentino adotou a causa ambiental como uma das principais bandeiras de seu pontificado.
O pontífice argentino adotou a causa ambiental como uma das principais bandeiras de seu pontificado.

O papa Francisco, ao longo de seu papado, se destacou como um dos principais defensores da preservação ambiental, com um foco central na crise ecológica global. Suas iniciativas, baseadas no diálogo com a ciência, buscaram conscientizar o mundo sobre os impactos do aquecimento global e a necessidade urgente de uma mudança no comportamento humano, especialmente em relação à exploração dos recursos naturais.

Em 2015, no mesmo ano da assinatura do Acordo de Paris sobre o Clima, o pontífice publicou a Carta Encíclica Laudato Si’, onde introduziu o conceito de “ecologia integral”. Este termo, segundo Francisco, descreve a interconexão entre os sistemas naturais e sociais, destacando a responsabilidade da humanidade em cuidar da “nossa casa comum”. Para ele, a destruição do meio ambiente tem repercussões que afetam tanto as populações mais vulneráveis quanto o equilíbrio do planeta como um todo.

O padre jesuíta Adelson Araújo dos Santos, professor de Teologia na Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma, explica que o papa sempre enfatizou a conexão entre fé e ação ambiental. “A humanidade perde uma grande liderança que buscava nos sensibilizar para o cuidado da casa comum e para a noção de que tudo está interligado”, afirmou. Ele ressaltou ainda a visão de Francisco de que os seres humanos não são proprietários do mundo, mas apenas administradores da criação divina.

A proximidade com a Ciência

O pontífice manteve uma estreita relação com o mundo científico, buscando o diálogo para fundamentar suas abordagens sobre a crise climática. O cientista Virgilio Viana, superintendente da Fundação Amazônia Sustentável, foi um dos especialistas que teve a oportunidade de debater com o papa sobre as questões ambientais. Viana, que foi o primeiro brasileiro a integrar a Pontifícia Academia de Ciências Sociais do Vaticano, destacou que o papa não se limitou a uma visão ambientalista, mas adotou uma perspectiva holística. “O papa fala da necessidade de repensarmos a economia, nossos hábitos de consumo e estilo de vida, que estão diretamente conectados com a crise global”, afirmou.

O papa Francisco também se destacou ao apoiar o conceito de ecologia integral, que analisa o impacto das decisões humanas em uma escala global, envolvendo tanto questões sociais quanto ambientais. O teólogo Adelson Araújo dos Santos afirmou que o pontífice estabeleceu um compromisso contínuo com a preservação do meio ambiente, algo que é uma extensão de sua fé, como explicitado em suas mensagens enviadas para conferências climáticas internacionais, como as COPs.

Sínodo para a Amazônia e valorização dos povos indígenas

O compromisso de Francisco com a causa ambiental ganhou maior visibilidade em 2019, com a realização do Sínodo para a Amazônia, uma iniciativa inédita da Igreja Católica. Durante esse evento, o papa deu voz aos povos indígenas, que são diretamente impactados pela degradação ambiental, especialmente na região amazônica. Em sua visita histórica à Amazônia, Francisco escutou as preocupações dos povos indígenas sobre a destruição de suas terras e o impacto da poluição dos rios e do desmatamento das florestas.

Adelson Araújo dos Santos, ligado à arquidiocese de Manaus, observou que a postura do papa foi uma demonstração de sensibilidade e abertura.

“Ele percebeu a sabedoria nas tradições indígenas e reconheceu a importância de suas visões sobre a natureza e a preservação ambiental”, disse.

Perspectivas futuras e desafios

Apesar das dificuldades políticas e da crescente resistência de setores mais conservadores da Igreja, que criticam a ênfase de Francisco no “pecado ecológico”, o Vaticano não deve recuar de seu compromisso com a causa ambiental. Segundo Virgilio Viana, o pontificado de Francisco é um legado que deverá ser mantido, independentemente de quem o suceder.

“A doutrina de Francisco se baseia não só na ciência, mas também nas Escrituras, que ensinam que o homem não tem direito de explorar a natureza de maneira indiscriminada”, conclui.

O papa, em suas mensagens mais recentes, incluiu a crise climática como uma questão de fé, algo que ainda precisa ser amplamente debatido dentro da Igreja. Segundo o padre Adelson Araújo dos Santos, muitos fiéis e líderes católicos ainda não internalizaram totalmente o significado do cuidado com a natureza como parte da conversão espiritual. Ele destaca que a verdadeira mudança requer uma reavaliação dos paradigmas de desenvolvimento e uma maior sensibilização para as questões ambientais.

*Com informações da RFI.


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