Declaração de Bogotá reforça coordenação entre países amazônicos, mas não define metas

Documento foi aprovado durante encontro de líderes da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA) na Colômbia.
Documento foi aprovado durante encontro de líderes da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA) na Colômbia.

A Declaração de Bogotá, divulgada neste sábado (23/08/2025), marcou o encerramento do quinto encontro de líderes da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), realizado na capital da Colômbia. O evento contou com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e buscou alinhar compromissos regionais para a proteção da Amazônia e a preparação para a COP30, que ocorrerá em Belém (PA).

Segundo o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), o texto aprovado reafirma a Declaração de Belém (2023) como quadro de referência da cooperação regional e estabelece direções para ações imediatas em áreas como clima, biodiversidade, restauração florestal, bioeconomia, proteção de povos indígenas e segurança ambiental.

Ponto de não retorno

A declaração reforça a urgência de ações conjuntas contra o desmatamento e a perda de biodiversidade, alinhadas ao Acordo de Paris. No entanto, a ausência de metas concretas foi criticada por representantes da sociedade civil. Para João Pedro Galvão Ramalho, coordenador do coletivo Pororoka e integrante do Fórum Social Pan-Amazônico (FOSPA), a falta de compromissos claros ocorre em um momento em que especialistas e comunidades locais já avaliam que a floresta atingiu o chamado ponto de não retorno.

O MMA, por sua vez, destacou que não há consenso científico sobre quando a Amazônia cruzaria esse limite. Nesse sentido, ressaltou a criação do Painel Intergovernamental Técnico-Científico da Amazônia, estabelecido em 2023, como espaço para aprofundar os estudos sobre o tema.

Combustíveis fósseis e transição energética

Outro ponto de divergência entre os países foi a exploração de combustíveis fósseis. O texto final cita apenas, em seu preâmbulo, a necessidade de avançar em uma transição energética justa e ordenada. Enquanto a Colômbia defendeu a redução da dependência de petróleo e gás, o Brasil manteve posição mais cautelosa. Peru, Equador e Venezuela se opuseram a menções mais incisivas sobre o assunto.

Segundo Ramalho, a expansão da exploração na Amazônia representa um risco adicional para o bioma, já que parte das novas descobertas de petróleo no mundo entre 2022 e 2024 ocorreu na região, muitas vezes sobrepostos a territórios indígenas ou áreas de conservação.

Mecanismos de participação

A Declaração de Bogotá também registrou avanços na integração da sociedade civil ao processo decisório da OTCA. O presidente Lula citou a proposta de criação da OTCA Social, que permitirá participação permanente de organizações sociais. Outro instrumento destacado foi o Mecanismo Amazônico de Povos Indígenas, voltado à representação indígena nas instâncias regionais.

O documento ainda tratou de medidas de cooperação policial e judicial, rastreamento do ouro, combate à mineração ilegal e ao tráfico de fauna e flora. Em nível institucional, foi aprovado o protocolo que eleva a reunião de presidentes à instância máxima da OTCA, além do fortalecimento da Secretaria Permanente.

Povos indígenas e financiamento

Entre os compromissos reafirmados estão a proteção de Povos Indígenas em Isolamento e Contato Inicial (PIACI) e a valorização de conhecimentos tradicionais ligados à sustentabilidade amazônica. O bloco também apoiou o lançamento do Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), previsto para ser apresentado oficialmente na COP30, que deve beneficiar cerca de 70 países na preservação de áreas florestais.

*Com informações da Agência Brasil.


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