Os estimados 500 mil patetas, com seus filhos a tiracolo, para lá se dirigiram. Foi o caos generalizado. Em um domingo nublado era impossível o deslocamento nestas plagas.
Compramos gato por lebre. Com pompa e circunstância foi anunciado exaustivamente um evento que mexeu com a imaginação das crianças e dos pais patetas. Um desfile de personagens Disney nas ruas da Orla de Salvador.
Milhares para lá se dirigiram, conduzindo automóveis ou a pé, pois a metrópole de três milhões de habitantes (pasmem!) não dispõe de sistema de transporte de massas.
Foi o caos generalizado. Em um domingo nublado era impossível o deslocamento nestas plagas. Assim como na segunda, terça, quarta… Salvador está paralisada. Parada nos congestionamentos. Engarrafamentos permanentes que infelicitam a vida dos citadinos e a outrora bela e mágica Cidade da Bahia está insuportável de se viver. A qualidade de vida urbana despenca a zero (Leiam “O Congestionamento final”, link abaixo).
Enquanto isso, o péssimo alcaide que elegemos (eu não, cara pálida!) leiloa os espaços densificados da cidade com uma agressiva, selvagem e verticalizada ocupação acompanhando o boom da construção civil.
Mas… voltando ao mico do ano: Salvador, capital dos grandes eventos públicos, do carnaval de sete dias e trios elétricos milionários, espetaculares, esta mesma Cidade do Salvador foi convidada para uma festa pobre.
Os estimados 500 mil patetas, com seus filhos a tiracolo, se deslocaram para um lugar onde não viram um punhado de atores de rua, mais meia dúzia de pequenos e modestos carros alegóricos, parcamente sonorizados, desfilarem por 2,5 km de ruas entre os bairros da Armação e Boca do Rio.
Um colega e amigo, douto jurisconsulto, que para lá se dirigiu com sua prole, foi quem cunhou o providencial apodo:
– Éramos 500 mil patetas!
Um outro professor amigo, empresário do setor do ensino privado, descreveu comicamente as aventuras vividas:
– O filho menor eu carreguei nos ombros, mas o gordinho de dez anos de idade… esse aí não deu pra carregar!
Estou falando das elites que se iludiram com o pretenso espetáculo primeiromundista. Imaginem o que sofreu a classe trabalhadora. Maior foi a minha surpresa quando um amigo de infância, nascido e criado no mesmo bairro proletário que eu, na península itapagipana, confessou que acalentava um sonho de infância: ver algo assim como a Disneylândia.
Como?! Até hoje estou boquiaberto com tal soberbo sonho. No acanhado limite do bairro pobre da infância nós não tínhamos sequer o direito de uma rápida visita ao Farol da Barra…
Bem, fica a lição para as próximas efemérides a serem anunciadas.
Caríssimos edis que (não) me lêem: necessita ser promulgada uma nova lei municipal, pela qual os organizadores alienígenas de eventos deste tipo, que prometerem sonho e darem pesadelo, serão regiamente multados. Todavia, como vivemos na cidade que tem um logradouro com o sugestivo nome de Pelourinho, não é demais pensar em transformar a penalidade em uma boa coça nestes picaretas.
Que acham, seus patetas?
O Congestionamento final
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