O mais recente cavalo de batalha de Nossopresidente é o chamado paradoxo da parcimônia – já identificado por Keynes. De fato, a redução de consumo determina a redução da produção; este fato acarreta desemprego, diminuição de consumo e assim sucessivamente. Com isso, a virtude individual transforma-se em tolice macroeconômica. Mas é preciso “combinar com os russos”, para evitar o perigoso “sifu”. Com razão o presidente do BC afirma não haver razão para pânico, mas entre profecias auto-realizáveis e discursos triunfalistas há de haver um meio-termo virtuoso.
Já que estamos falando em reativar, acelerar, dinamizar, vitaminar enfim nossa economia, bem faria Nossopresidente se procurasse junto aos seus assessores alguma dica a respeito da curva de Lafer. Segundo esse economista (Arthur Lafer), à medida que a carga tributária aumenta – seja por conta do aumento das alíquotas, seja motivada pela criação de novos impostos e contribuições -, a arrecadação cresce, até passar por um máximo e, a seguir, decresce – ou para utilizar um termo na moda ‘despenca’, pela asfixia causada nos agentes econômicos. A diminuição da carga tributária – objetivo atingível, mesmo sem a aprovação da tão decantada reforma tributária, já que alguns encargos podem ser introduzidos, suprimidos ou alterados por meros decretos – seria um passo importante para aumentar a probabilidade de o paradoxo da parcimônia entrar em jogo. De qualquer maneira, não seria inútil o lembrete do presidente Lincoln: ”Os governos não deveriam intervir onde os indivíduos podem desenredar-se sozinhos”.
Apesar de ser um assunto delicado, com todo o respeito que o BC merece, em função dos resultados conseguidos até agora, mal algum faria se houvesse a percepção de que amarrar a visualização do futuro a curto prazo a dados macroeconômicos relativos a um período maior que os últimos três meses poderá levar a erros graves. Falar hoje em pressão de uma demanda aquecida por um lado, e conclamar a população a consumir, por outro lado não é um prodígio de lógica cartesiana. É sabido que os efeitos dos cortes ou aumentos da SELIC não são instantâneos, de modo que não parece insensato iniciar já uma temporada de cortes. Postergá-los e deixar as reações da economia por conta de uma ata, de cuja leitura, capaz de causar inveja ao oráculo de Delfos, com aqueles miseráveis advérbios, como o já famoso “tempestivamente”, constitui um risco, neste momento. O corte na taxa SELIC, cedo ou tarde – de preferência seria cedo – acaba influindo sobre os juros na ponta.
E por falar em corte, se houver, por que não dar vazão à criatividade? Não está escrito em lugar algum que ele deva ser de 0,25 pontos percentuais ou múltiplos desse. Poderá o COPOM, a exemplo do BC chinês introduzir cortes de 0,27 ou 0,38, 1,07 etc. Isso dará um toque pessoal de independência às nossas decisões. Já em 1750, Marie de Vichy-Chamrond, marquesa de Deffand afirmava que apenas o primeiro passo é difícil.
Uma última palavra a respeito do apelo presidencial aos empresários, pedindo preços e juros mais baixos. Seria de bom-tom se Sua Excelência deixasse de confundir ganância com prudência. O cliente classificado como excelente ontem, já pode inspirar dúvidas hoje. Ou, por acaso, – com todo o respeito e apenas para exemplificar – o risco de vender ou emprestar à Aracruz não se alterou ultimamente? Reclamar da “liquidez empoçada” é fácil , mas por acaso, é factível obrigar pessoas físicas e jurídicas a endividarem-se?
Antes de falar na luz do fim do túnel, é preciso chegar ao túnel.
Alexandru Solomon, formado pelo ITA em Engenharia Eletrônica e mestrado em Finanças na Fundação Getúlio Vargas, é autor de ´Almanaque Anacrônico`, ´Versos Anacrônicos`, ´Apetite Famélico`, ´Mãos Outonais`, ´Sessão da Tarde`, ´Desespero Provisório` , ´Não basta sonhar` e o recente livro/peça ´Um Triângulo de Bermudas`. (Ed. Totalidade).
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