Um governo na contramão | Por Astrid Prange

Nesta quinta-feira, 30 de maio de 2019, mais uma vez as ruas se agitaram em manifestação crítica ao governo Bolsonaro. Foram 208 cidades de 26 estados e mais 10 países levando mais de 1,8 milhão de pessoas às ruas. Mobilizada especialmente por estudantes e educadores atingidos pelos cortes na Educação, a pauta se multiplicou nas ruas.
Nesta quinta-feira, 30 de maio de 2019, mais uma vez as ruas se agitaram em manifestação crítica ao governo Bolsonaro. Foram 208 cidades de 26 estados e mais 10 países levando mais de 1,8 milhão de pessoas às ruas. Mobilizada especialmente por estudantes e educadores atingidos pelos cortes na Educação, a pauta se multiplicou nas ruas.
Nesta quinta-feira, 30 de maio de 2019, mais uma vez as ruas se agitaram em manifestação crítica ao governo Bolsonaro. Foram 208 cidades de 26 estados e mais 10 países levando mais de 1,8 milhão de pessoas às ruas. Mobilizada especialmente por estudantes e educadores atingidos pelos cortes na Educação, a pauta se multiplicou nas ruas.
Nesta quinta-feira, 30 de maio de 2019, mais uma vez as ruas se agitaram em manifestação crítica ao governo Bolsonaro. Foram 208 cidades de 26 estados e mais 10 países levando mais de 1,8 milhão de pessoas às ruas. Mobilizada especialmente por estudantes e educadores atingidos pelos cortes na Educação, a pauta se multiplicou nas ruas.

Admiro-me com a persistência de vocês que saem às ruas protestando contra os cortes na educação. Parece que o povo brasileiro está mais ciente do valor da educação para o futuro do país do que o seu próprio governo.

Atrás da hashtag #tsunamidaeducacao, que chama para novas manifestações, se revela a indignação justa com um governo no qual muitos membros usufruíram do privilégio de ter acesso aos mais altos níveis de educação, mas negam o direito de acesso à educação básica aos seus cidadãos.

O governo atual parece estar na contramão da globalização: enquanto no mundo inteiro países competem para atrair os cérebros mais inteligentes e superar a escassez de mão de obra especializada para sobreviver à quarta revolução industrial, o governo brasileiro está em marcha a ré. Manda médicos cubanos para casa, anuncia cortes em todos os níveis de educação e aposta na exportação de umas poucas matérias-primas.

Para um presidente que venceu as eleições com uma campanha eleitoral quase completamente digital, isso é mais estranho ainda. O “tsunami” da manipulação digital causou um terremoto político no Brasil. Será que o “tsunami da educação” pode causar mais um?

É provável. Pois o mundo digital é mais amplo que o universo das fake news. Antes da eleições, viralizou a raiva de bolsonaristas em torno de temas como o “kit gay” e as urnas eletrônicas que supostamente sugerem um candidato. Agora, é a raiva dos estudantes e alunos que não querem ser chamados de “idiotas úteis” por um presidente da República, e não querem precisar sair do seu país para poder se formar.

Sinto muito, ministro Abraham Weintraub, mas não concordo com a sua afirmação de que “o ensino superior é um setor onde o país está, entre aspas, bem”. O Relatório de Competitividade Digitaldivulgado pelo Núcleo de Inovação e Empreendedorismo da Fundação Dom Cabral não deixa dúvidas: a defasagem educacional no Brasil está em todas as áreas.

O ensino superior não escapa: segundo o relatório, enquanto na Índia o percentual dos graduados nas áreas de ciências, tecnologia, engenharia e matemática alcança 31%, no Brasil somente chega a 15%. Mesmo em comparação com outros países latino-americanos esse desempenho é fraco. A taxa no México é 27%, no Chile é de 20%, e no Peru, de 18%.

No ensino fundamental, o cenário não é melhor: Segundo a OCDE, a média em matemática dos alunos brasileiros é bem inferior à média geral da avaliação (Brasil 377 pontos, média dos países avaliados: 490), ficando o Brasil próximo apenas de países como Peru (387 pontos), Indonésia (386 pontos) e Jordânia (380 pontos).

Diante dessas estatísticas, chego a uma certa desilusão: pessoas que tiveram acesso à educação não são necessariamente educadas e, infelizmente, nem sempre tomam sempre decisões baseadas no conhecimento. Mas isso não quer dizer que não vale a pena investir na área de educação.

Pelo contrário: para monitorar dirigentes e políticos que tomam decisões importantes e às vezes se baseiam mais em convicções ideológicas ou políticas do que em evidências científicas, é preciso um povo cada vez mais educado. E de uma educação que não se restrinja aos conhecimentos técnicos, mas se baseie em valores de cidadania e do bem comum. “Brasil acima de tudo”? Sem educação, o Brasil vai ficar abaixo de tudo e de todos.

*Astrid Prange de Oliveira foi para o Rio de Janeiro solteira. De lá, escreveu por oito anos para o diário taz de Berlim e outros jornais e rádios. Voltou à Alemanha com uma família carioca e, por isso, considera o Rio sua segunda casa. Hoje ela escreve sobre o Brasil e a América Latina para a Deutsche Welle.


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