Premiê da Itália renuncia e denuncia Matteo Salvini por queda do governo

Matteo Salvini, vice-primeiro-ministro.
Matteo Salvini, vice-primeiro-ministro.
Giuseppe Conte, primeiro-ministro da Itália.
Giuseppe Conte, primeiro-ministro da Itália.

O primeiro-ministro da Itália, Giuseppe Conte, anunciou sua renúncia nesta terça-feira (20/08/2019) após acusar o ministro do Interior, Matteo Salvini, de arruinar a coalizão do governo e arriscar a economia do país por interesses pessoais e políticos.

Dirigindo-se ao Parlamento após o recesso de verão para decidir o futuro do governo, Conte acusou o líder da Liga de se aproveitar da própria popularidade.

“(Salvini) tem demonstrado que está seguindo os próprios interesses e os de seu partido”, disse Conte ao Senado, enquanto Salvini sentava a seu lado com expressão impassível. “Suas decisões trazem sérios riscos a este país.”

Conte, que não pertence aos partidos da coalizão, deve efetivar sua renúncia ainda nesta terça-feira, levando o presidente da Itália a iniciar consultar formais com os partidos para avaliar se uma nova coalizão pode se formar.

Caso essa possibilidade não se concretize, o presidente italiano, Sergio Mattarella, dissolveria o Parlamento.

Sentado próximo a Conte, também estava Luigi Di Maio, chefe do Movimento 5-Estrelas, que fora caracterizado como obstrucionista por Salvini nos últimos 12 dias, desde que ele desistiu da coalizão.

Salvini exigiu eleições antecipadas, três anos e meio antes do previsto, confiante de que sua crescente popularidade o leve a ser o novo primeiro-ministro da Itália e transforme o 5-Estrelas, ex-parceiro de coalizão, em opositor.

Renúncia 

“A decisão da Liga Norte de propor uma moção de censura, a imediata ‘calendarização’ e as declarações e comportamentos claros me levam a interromper essa experiência de governo”, disse Conte, em um pronunciamento no Senado. “No fim deste discurso, irei ao presidente para renunciar. A crise atual compromete a ação deste governo, que termina aqui”, completou o premier.

Conte era aguardado no Parlamento italiano nesta terça-feira para fazer um discurso no qual poderia defender a continuidade do governo ou apresentar sua renúncia.

O jurista era o primeiro-ministro da Itália há 14 meses. Ele assumiu o posto por ser uma indicação neutra e consensual entre a Liga Norte e o Movimento 5 Estrelas (M5S). Os dois partidos foram os mais votados nas últimas eleições e, apesar de adotarem posicionamentos políticos diferentes, decidiram se unir e formar uma coalizão de governo baseada em um “pacto político”.

Em diversos momentos, porém, o M5S e a Liga Norte deram sinais de que a aliança estava se enfraquecendo e entraram em confronto sobre vários temas políticos, como um decreto de segurança proposto pelo ministro do Interior, Matteo Salvini, da Liga Norte, e com um projeto de construção do trem de alta velocidade (TAV), entre Turim e Lyon.

Foi justamente uma votação no Parlamento sobre o TAV que causou o racha definitivo no governo no início de agosto. A Liga e o M5S votaram em posições opostas, o que fez com que Salvini decretasse de maneira unilateral o fim da coalizão.

Analistas políticos acreditam que a manobra de encerrar a aliança com o M5S é uma estratégia da Liga Norte de tentar formar um governo sozinha na Itália, pois o partido foi o mais votado neste ano no país para as eleições ao Parlamento Europeu.

Apoiada pelas pesquisas de intenção de voto que lhe dão 38% das preferências em caso de uma eleição antecipada na Itália, a legenda nacionalista e anti-imigratória poderia formar um novo governo apenas com o apoio de pequenos e médios partidos de direita.

Discurso de Conte

O premier demissionário da Itália chegou ao Parlamento por volta das 15h locais (10h de Brasília). A maior parte do seu discurso serviu para atacar Salvini, quem Conte chamou de oportunista e irresponsável.

“A decisão de provocar a crise é irresponsável. O ministro do Interior mostrou que está seguindo interesses pessoais e do partido”, disse Conte. “Fazer os cidadãos votarem é a essência da democracia, mas pedir para que votem todo ano é irresponsabilidade”, ressaltou.

O tom usado por Conte surpreendeu o próprio Salvini, que acompanhou pessoalmente a sessão no Senado e reagiu às declarações balançando a cabeça.

“Os comportamentos adotados nos últimos dias pelo ministro do Interior revelam falta de responsabilidade institucional e grave carência de cultura constitucional. Eu assumo a responsabilidade pelo que eu digo”, criticou Conte.

O premier também afirmou que a decisão de Salvini de colocar fim à aliança com o M5S foi tomada “logo após [a Liga Norte] obter o voto de confiança no projeto de lei de ‘segurança bis’, com uma coincidência eleitoral que sugere oportunismo político”.

Em seu discurso, Conte, por fim, alertou que a convocação de eleições antecipadas na Itália apresenta riscos ao país. Segundo ele, além de obstruir o funcionamento do Parlamento no segundo semestre, prejudicaria a Itália nas negociações com a União Europeia.

“Esta crise ocorre em um momento delicado da interlocução com as instituições da União Europeia. Nos próximos dias, estão para serem concluídas as tratativas para os comissários europeus e eu estou trabalhando para garantir à Itália um papel central. É evidente que a Itália corre o risco de participar dessa tratativa em condições de fraqueza”, afirmou.

“O país precisa urgentemente que sejam finalizadas as medidas para crescimento econômico e investimentos. Caro ministro do Interior, promovendo essa crise no governo, você assume grande responsabilidade diante do país. Já te ouvi pedir ‘plenos poderes’ e invocar as praças, mas essa sua concepção me preocupa”, criticou Conte, dirigindo-se a Salvini.

O discurso de Conte foi aplaudido pelos políticos do M5S e do Partido Democrático, de esquerda. Pela manhã, o líder do M5S, Luigi di Maio, demonstrou apoio a Conte e disse que, se o premier enfrentasse uma moção de censura, o partido votaria a seu favor. O apoio declarado, porém, não foi o suficiente para poupar o M5S de críticas feitas por Conte também.

“Quando o presidente do Conselho de Ministros comparece a uma sessão, o respeito às instituições orienta que se permaneça na sala para escutá-lo. E não há razão que justifique a ausência”, alfinetou Conte, referindo-se a um episódio em que parlamentares do M5S não acompanharam um pronunciamento seu no plenário.

Reações

Salvini disse que “faria tudo de novo”, ao responder as críticas de seria o responsável pela crise política.

“Obrigado e finalmente: faria de novo tudo que fiz”, disse o líder do partido nacionalista Liga Norte, em um pronunciamento no Senado, logo após o discurso de Conte.

“Estou aqui com a grande força de ser um homem livre. Isso quer dizer que não tenho medo do julgamento dos italianos. Nesta sala, há mulheres e homens livres, e mulheres e homens menos livres. Quem tem medo do julgamento do povo italiano não é um homem ou mulher livre”, rebateu Salvini.

“É uma novidade o que aconteceu hoje. Lamento que o presidente do Conselho de Ministros tenha tido que me suportar por um ano”, disse Salvini, em tom de ironia. “Perigoso, autoritário, preocupante, ineficaz, inconsciente. Bastava o [jornalista Roberto] Saviano ou [Matteo] Renzi para me fazer tantos insultos, mas não o presidente do Conselho”, disse.

Salvini também tentou se defender dos ataques e argumentou que o governo terminou porque “no Parlamento, nas Comissões, em todo governo eram ‘muitos ‘nãos’ [aos projetos e propostas]”.

O líder da Liga Norte disse ainda que não teme uma aliança entre o Movimento 5 Estrelas e o opositor Partido Democrático. “Se quiserem completar as reformas, estamos aqui. Se quiserem governar com Renzi, boa sorte”, disse Salvini, referindo-se ao ex-parceiro de coalizão, Luigi Di Maio.

Já na saída do Senado, em entrevista à ANSA, Salvini também afirmou que “não se preocupa” com a dureza do discurso de Conte e acrescentou que não lamenta de ter ficado ao lado do premier do país europeu.(ANSA)

*Com informações da Agência Reuters e ANSA.

Matteo Salvini, vice-primeiro-ministro.
Matteo Salvini, vice-primeiro-ministro.

Discover more from Jornal Grande Bahia (JGB)

Subscribe to get the latest posts sent to your email.

Facebook
Threads
WhatsApp
Twitter
LinkedIn

Discover more from Jornal Grande Bahia (JGB)

Subscribe now to keep reading and get access to the full archive.

Continue reading

Privacidade e Cookies: O Jornal Grande Bahia usa cookies. Ao continuar a usar este site, você concorda com o uso deles. Para saber mais, inclusive sobre como controlar os cookies, consulte: Política de Cookies.