
A Polícia Civil do Rio de Janeiro teve acesso ao caderno de visitas do condomínio Vivendas da Barra, na Zona Oeste do Rio, onde têm casa o presidente Jair Bolsonaro e o ex-policial militar Ronnie Lessa, acusado da morte da vereadora Marielle Franco. No dia 14 março de 2018, horas antes do crime, o ex-PM Élcio Queiroz, outro suspeito do crime, anunciou na portaria do condomínio que iria visitar Jair Bolsonaro e acabou indo até a casa de Lessa, segundo informações divulgadas pelo Jornal Nacional nesta terça-feira (30/10/2019).
O caderno de registros do condomínio informa que, às 17h10 do dia do crime, uma pessoa de nome Élcio a bordo de um Logan prata anunciou que iria até a casa número 58, que pertence ao presidente Jair Bolsonaro. No condomínio, também mora o filho Carlos Bolsonaro na casa 36.
À polícia, o porteiro afirmou que ligou para a casa 58. E que uma pessoa que ele identificou como sendo o “seu Jair” liberou a entrada de Élcio Queiroz. O suspeito, no entanto, foi até a casa 66, onde mora Ronnie Lessa. O porteiro, então, telefonou novamente, e o mesmo “seu Jair” teria dito que sabia para onde ele estava indo. Conforme a reportagem, no dia da visita, no entanto, Bolsonaro estava em Brasília e não em sua casa no Rio de Janeiro. O então deputado federal registrou a presença em duas votações na Câmara.
Lessa é acusado pela polícia de ser o autor dos disparos que mataram Marielle o seu motorista, Anderson Gomes; e Queiroz é suspeito de ser o motorista do carro que levava o matador. Os dois foram presos no dia 12 de março deste ano.
Segundo o Jornal Nacional, a citação a Bolsonaro pode levar a investigação da morte de Marielle ao Supremo Tribunal Federal (STF) pelo fato de o presidente ter foro privilegiado. Representantes do Ministério Público do Rio que investigam o caso foram até Brasília no último dia 17 de outubro para consultar o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Dias Toffoli, sobre se poderiam continuar com a investigação. Eles, no entanto, ainda não obtiveram resposta.
À reportagem, o advogado de Jair Bolsonaro, Frederick Wassef, afirmou que o depoimento do porteiro é “mentiroso” e que isso é passível de “investigação por falso testemunho”.
Presidente Jair Bolsonaro nega contato com acusado pela morte de Marielle Franco e se coloca à disposição de delegado
O presidente Jair Bolsonaro negou na noite de terça-feira ter autorizado a entrada em seu condomínio de um dos suspeitos de ter assassinado a vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco no dia do crime, e disse que deseja ser ouvido pelo delegado do caso para se defender.
Bolsonaro fez uma transmissão de vídeo ao vivo em sua página no Facebook de madrugada na Arábia Saudita, onde está em visita oficial, após reportagem do Jornal Nacional, da TV Globo, afirmar que um dos suspeitos da morte de Marielle entrou no condomínio de Bolsonaro dizendo que iria à casa do então deputado, mas que, na verdade, foi para a residência do ex-policial Ronnie Lessa, acusado de ser o autor dos disparos que mataram a vereadora e seu motorista, Anderson Gomes, em março do ano passado.
Segundo a reportagem, que cita o depoimento de um porteiro do condomínio à polícia, esse porteiro teria dito que um homem com a voz de Bolsonaro teria autorizado pelo interfone a entrada no condomínio de Élcio Queiroz, acusado de dirigir o carro usado no crime de Marielle, mas o presidente disse que sequer estava no Rio de Janeiro no dia do crime.
A reportagem da TV Globo também ressalvou que o sistema da Câmara registra a presença de Bolsonaro no Congresso no dia da visita de Élcio Queiroz.
“Eu tenho registrado no painel eletrônica da Câmara 17h41, ou seja, 31 minutos depois da entrada desse elemento no condomínio, e tenho também 19h36, e tenho também registrado no dia anterior e no dia posterior as minhas digitais no painel de votação”, disse Bolsonaro no vídeo em uma resposta exaltada.
“O que cheira isso aqui, não quero bater o martelo, o que parece: ou o porteiro mentiu, ou induziram o porteiro a cometer um falso testemunho ou escreveram algo no inquérito que o porteiro não leu e assinou embaixo em confiança ao delegado ou àquele que foi ouvi-lo na portaria”, acrescentou.
O presidente disse que quer falar com o delegado responsável pelo inquérito para se defender, e acrescentou que vai tornar público seu depoimento, independentemente de o processo correr em sigilo.
“Eu quero falar sobre esse processo. Vou chegar na madrugada de quinta-feita, a partir dessa madrugada estou à disposição de vocês. Senhor delegado, quero te ouvir, olhar nos seus olhos, e que o senhor faça perguntas para mim, quero te responder”, afirmou.
Bolsonaro também acusou o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), de ter vazado as informações do inquérito para a imprensa, segundo o presidente, com a intenção de “destruir a família Bolsonaro” de olho nas eleições presidenciais de 2022.
Em nota oficial, Witzel afirmou que não compactua com vazamentos e negou interferência política nas investigações.
“Lamento profundamente a manifestação intempestiva do presidente Jair Bolsonaro. Ressalto que jamais houve qualquer tipo de interferência política nas investigações conduzidas pelo Ministério Público a cargo da Polícia Civil”, afirmou.
A TV Globo afirmou, também por meio de nota, que revelou a existência do depoimento do porteiro e das afirmações que ele fez, mas que ressaltou “com ênfase e por apuração própria” que as afirmações se chocavam com os registros de presença do então deputado em Brasília naquele dia.
“O depoimento do porteiro, com ou sem contradição, é importante, porque diz respeito a um fato que ocorreu com um dos principais acusados, no dia do crime. Além disso, a mera citação do nome do presidente leva o Supremo Tribunal Federal a analisar a situação”, acrescentou a emissora.
*Com informações do Estadão e de Pedro Fonseca, Eduardo Simões, Ricardo Brito, Maria Pia Palermo e com informações do Estadão.
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