Crise no PT, alianças lideradas pelo governador Jaques Wagner e disputa pelos royalties do pré-sal agitam cenário político nacional e estadual

Durante evento no município de Milagres, o governador Jaques Wagner respondeu a críticas do ministro Geddel Vieira Lima, defendeu sua trajetória política e reforçou novas alianças visando as eleições de 2010. A possível entrada de Otto Alencar na base aliada e a disputa sobre os royalties do pré-sal revelam a complexidade da conjuntura política estadual e nacional. Enquanto isso, Dilma Rousseff enfrenta dificuldades para consolidar sua candidatura à Presidência.
Governador Jaques Wagner reage a críticas de Geddel Vieira Lima em Milagres e reforça articulações políticas com novos aliados para as eleições de 2010.

O governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), respondeu publicamente aos ataques do ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima (PMDB), durante evento realizado no município de Milagres, no interior do estado. Com declarações incisivas, Wagner utilizou metáforas e referências pessoais para criticar o que chamou de ingratidão política.

Em seu discurso, Wagner afirmou que “há quem coma em sua casa e depois fale mal da comida”, em alusão à ruptura com antigos aliados, principalmente Geddel. Evocando valores familiares, mencionou ensinamentos do pai sobre vergonha e dignidade, sugerindo que a deslealdade compromete o caráter público dos adversários. O governador também criticou políticos que, segundo ele, só cresceram politicamente ao se associar ao seu governo e ao do presidente Lula.

Reconfiguração de alianças e movimentações estratégicas

Com o afastamento do PMDB da base aliada, Wagner deu início a uma estratégia de recomposição política. Atraiu lideranças historicamente ligadas ao carlismo, como forma de ampliar sua base rumo às eleições de 2010. Entre os nomes incorporados ao seu projeto estão políticos como João Leão, Eliana Boaventura e Jairo Carneiro. Além disso, costurou apoio nacional junto ao PDT, articulando diretamente com o ministro Carlos Lupi, e afastando o deputado federal Severiano Alves da liderança do partido na Bahia.

Essa movimentação amplia o leque de alianças partidárias do governador e indica uma reorientação pragmática de sua administração, antes centrada no discurso da renovação política. Há expectativa de que o presidente Lula intervenha para realocar Geddel Vieira Lima na corrida eleitoral, possivelmente como candidato ao Senado Federal em uma chapa encabeçada por Wagner.

Otto Alencar: trajetória, ideologia e retorno ao centro do poder

Otto Alencar, ex-governador da Bahia, ex-secretário estadual e atual conselheiro do Tribunal de Contas dos Municípios (TCM), é outro nome cogitado para compor a chapa majoritária liderada por Wagner. Embora sua trajetória esteja associada à direita tradicional baiana, especialmente ao grupo de Antônio Carlos Magalhães, Alencar tem sido cortejado por aliados do PT, com possibilidade de filiação ao Partido Progressista (PP).

Em entrevista recente, Otto destacou sua lealdade ao legado de ACM, mas sua movimentação atual indica uma tentativa de retorno ao centro do poder, independentemente da coloração ideológica. Sua eventual candidatura evidencia o caráter pragmático e não ideológico das novas alianças costuradas pelo governo Wagner.

É importante destacar que Otto foi citado pela revista Veja na reportagem “O rei da cocada preta”, que tratou da atuação de ex-governadores com influência sobre aparelhos de Estado. A matéria o relacionou a casos de escuta clandestina durante sua gestão, fato que ainda reverbera nos debates sobre moralidade administrativa na política baiana.

Debate sobre os royalties do pré-sal: redistribuição federativa em pauta

Outro tema de destaque na conjuntura nacional é a distribuição dos royalties do pré-sal. A Agência Nacional do Petróleo (ANP) define os royalties como compensação financeira devida pelas empresas exploradoras ao Estado. A discussão atual gira em torno do critério de partilha desses recursos, especialmente entre os estados produtores e os demais entes federativos.

Há pressão para que os royalties sejam distribuídos com base no critério populacional e no princípio da equidade federativa, o que beneficiaria estados menos desenvolvidos, como os do Norte e Nordeste, em detrimento das regiões Sudeste e Sul. A proposta visa combater desigualdades históricas, promovendo maior equilíbrio regional no financiamento de políticas públicas.

Dilma Rousseff enfrenta crise de credibilidade

No cenário nacional, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), enfrenta dificuldades para consolidar sua candidatura à sucessão presidencial. O episódio envolvendo a ex-secretária da Receita Federal, Lina Vieira, prejudicou sua imagem e levantou dúvidas sobre sua transparência. O embate provocou retração estratégica da ministra, que passou a evitar exposições públicas, segundo informações de bastidores.

Internamente, o PT discute alternativas à candidatura de Dilma, caso seu desempenho continue aquém das expectativas. Entre os nomes mais mencionados estão Aloizio Mercadante, Tarso Genro, Patrus Ananias e Jaques Wagner — todos com trajetória marcada por conduta ética e experiência administrativa. Entretanto, o ex-ministro Antônio Palocci, também citado como plano B, ainda enfrenta resistência devido às acusações que o afastaram do governo, apesar da absolvição judicial.

Crítica à condução da candidatura petista

O processo de escolha da candidatura de Dilma Rousseff tem gerado críticas entre militantes e observadores políticos. A imposição de seu nome pelo presidente Lula é comparada ao estilo centralizador de ACM, símbolo da antiga política baiana. A ausência de debate interno e a falta de legitimidade orgânica fragilizam o projeto eleitoral do partido. A construção de lideranças exige legitimidade partidária e debate interno, não imposição de cima para baixo.


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