A sobrevivência do euro está em xeque | Por Joseph Eugene Stiglitz

Joseph Eugene Stiglitz (Gary, 9 de Fevereiro de 1943) é um economista estadunidense. Foi presidente do Conselho de Assessores Econômicos (Council of Economic Advisers) [1] no governo do Presidente Clinton (1995-1997).
Joseph Eugene Stiglitz (Gary, 9 de Fevereiro de 1943) é um economista estadunidense. Foi presidente do Conselho de Assessores Econômicos (Council of Economic Advisers) [1] no governo do Presidente Clinton (1995-1997).
Joseph Eugene Stiglitz (Gary, 9 de Fevereiro de 1943) é um economista estadunidense. Foi presidente do Conselho de Assessores Econômicos (Council of Economic Advisers) [1] no governo do Presidente Clinton (1995-1997).
Joseph Eugene Stiglitz (Gary, 9 de Fevereiro de 1943) é um economista estadunidense. Foi presidente do Conselho de Assessores Econômicos (Council of Economic Advisers) [1] no governo do Presidente Clinton (1995-1997).

A crise financeira grega pôs em xeque a sobrevivência do euro.

Quando de sua criação, muitos temeram pela viabilidade a longo prazo. Enquanto tudo correu bem, a preocupação foi esquecida.

Mas ficou no ar a questão: como seriam feitos os ajustes se parte da zona do euro fosse atingida por um forte choque adverso? Fixar o câmbio e delegar a política monetária ao Banco Central Europeu eliminaram dois instrumentos usados pelos governos nacionais para estimular suas economias e evitar recessões.

O que pode substituí-los? O prêmio Nobel Robert Mundell formulou as condições em que a moeda única poderia funcionar. A Europa não as cumpriu a tempo; não as cumpre ainda. A remoção de barreiras legais à movimentação dos trabalhadores criou um mercado único, mas as diferenças linguísticas e culturais tornam inatingível a mobilidade ao estilo americano da força de trabalho.

Ademais, a Europa não tem como ajudar os países que hoje enfrentam graves problemas. Tomemos a Espanha, com um desemprego de 20% — e mais de 40% entre os jovens. O país tinha superávit fiscal antes da crise. Depois, seu déficit superou 11% do PIB.

Pelas regras da União Europeia, o país está obrigado a cortar gastos, o que exacerbará o desemprego. Com a economia em marcha lenta, a melhoria da situação fiscal pode ser mínima.

Alguns acreditaram que a tragédia grega pudesse convencer os formuladores de política de que o euro não poderia dar certo sem maior cooperação.

Mas a Alemanha (e sua Corte Constitucional), em parte obedecendo à opinião pública, vinha se opondo a dar à Grécia a ajuda que ela necessita.

Para muitos, dentro e fora da Grécia, é algo peculiar: bilhões foram gastos para salvar grandes bancos, mas evidentemente salvar um país de 11 milhões de habitantes é tabu! Não está claro se o socorro à Grécia deveria ser chamado de operação de salvamento: enquanto o dinheiro destinado a instituições financeiras dificilmente será recuperado, um empréstimo à Grécia a juros razoáveis tem grande possibilidade de ser pago.

Uma série de meias-ofertas e vagas promessas, destinadas a acalmar o mercado, falharam. Da mesma forma que os EUA pavimentaram a ajuda ao México, há 15 anos, combinando recursos do FMI e do G-7, a União Europeia e o FMI puseram de pé um pacote de ajuda. A questão é: que condições serão impostas à Grécia Qual o tamanho do impacto? Para os países menores da UE, a lição é clara: se não reduzirem seus déficits fiscais, correm sério risco de sofrer um ataque especulativo, com pouca esperança de ajuda por parte de seus vizinhos, a menos que enfrentem restrições fiscais dolorosas e contraprodutivas. À medida que países europeus adotem essas medidas, suas economias tenderão a enfraquecer — com infelizes consequências para a recuperação global.

Pode ser útil olhar os problemas do euro de uma perspectiva global.

Os EUA se queixam dos superávits em conta corrente da China; mas, em percentagem do PIB, o superávit da Alemanha é maior. Vamos levar em conta que a moeda comum tenha sido estabelecida de forma que o comércio na zona do euro estivesse, a grosso modo, equilibrado. Neste caso, o superávit alemão significaria que o resto da Europa estaria deficitário. E o fato de esses países estarem importando mais do que exportando contribui para enfraquecer suas economias.

Os EUA se queixam da recusa da China em permitir a apreciação de sua moeda em relação ao dólar. Mas o sistema do euro significa que a taxa de câmbio da Alemanha não pode se valorizar em relação a outros integrantes da zona do euro. Se isso acontecer, a Alemanha terá mais dificuldade para exportar, e seu modelo econômico, baseado fortemente nas exportações, enfrentaria um desafio. Ao mesmo tempo, o resto da Europa exportaria mais, o PIB aumentaria e o desemprego cairia.

A Alemanha (como a China) vê sua elevada taxa de poupança e seu talento exportador como virtudes, não vícios.

Mas John Maynard Keynes ensinou que superávits levam a uma fraca demanda global agregada — um país com superávit exerce uma “externalidade negativa sobre seus parceiros comerciais.

Na verdade, Keynes acreditava que eram os países superavitários, mais do que os deficitários, que ameaçavam a prosperidade global; ele chegou a recomendar que países superavitários fossem taxados.

As consequências econômicas e sociais dos atuais arranjos deveriam ser inaceitáveis. Os países cujos déficits subiram muito após a recessão não deveriam ser forçados à morte — como foi a Argentina há uma década.

Uma solução é que eles criem o equivalente a uma desvalorização — uma redução uniforme dos salários. Isto, acredito eu, é impossível, e suas consequências, inaceitáveis. As tensões sociais seriam enormes. É uma fantasia.

Há uma segunda solução: a saída da Alemanha da zona do euro ou a divisão desta em duas. O euro foi uma experiência interessante mas, como o quase esquecido mecanismo de taxa de câmbio (ERM) que o precedeu, e se desmanchou quando especuladores atacaram a libra esterlina em 1992, carece de apoio institucional para funcionar.

Há uma terceira solução, que a Europa pode vir a descobrir ser a mais promissora: implementar as reformas institucionais, inclusive o necessário arcabouço fiscal que deveria ter sido feito quando o euro foi lançado.

Não é tarde demais para a Europa adotar essas reformas e se manter fiel a seus ideais baseados na solidariedade, que fundamentaram a criação do euro.

Mas, se não puder fazê-lo, talvez seja melhor admitir o fracasso e seguir em frente do que cobrar um alto preço em desemprego e sofrimento em nome de um modelo econômico falido.

 *Joseph Eugene Stiglitz (Gary, 9 de Fevereiro de 1943) é um economista estadunidense. Foi presidente do Conselho de Assessores Econômicos (Council of Economic Advisers) [1] no governo do Presidente Clinton (1995-1997), Vice-Presidente Sênior Para Políticas de Desenvolvimento do Banco Mundial, onde se tornou seueconomista chefe. Recebeu, juntamente com A. Michael Spence and George A. Akerlof, o Prémio de Ciências Económicas, imprecisamente também chamado de “Prêmio Nobel de Economia”[2] em 2001 “por criar os fundamentos da teoria dos mercados com informações assimétricas”. Stiglitz defende a nacionalização dos bancos americanos e é membro da Comissão Socialista Internacional de Questões Financeiras Globais.

*Com informações de  Joseph Eugene Stiglitz


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