Em seu depoimento sobre o projeto fotográfico Gênesis, Sebastião Salgado oferece uma visão detalhada de sua trajetória artística e pessoal. O trabalho, que busca capturar as áreas ainda preservadas do planeta, representa uma virada na carreira do fotógrafo, marcada por momentos de profunda reflexão sobre a humanidade e o meio ambiente.
Ao concluir o projeto Exodus no final da década de 1990, Salgado se encontrava em uma posição crítica em relação ao mundo. As imagens de violência e sofrimento que registrou ao longo dos anos haviam causado uma ruptura em sua confiança na humanidade. À beira de um esgotamento emocional, ele decidiu retornar à sua cidade natal, Aimorés, no estado de Minas Gerais, Brasil. Foi nesse contexto que ele encontrou um caminho de reconexão, não apenas com sua terra, mas também com sua prática fotográfica.
A propriedade rural de seus pais, localizada na região da Mata Atlântica, havia sido desmatada ao longo das décadas. Diante desse cenário, Lélia Wanick Salgado, sua companheira de vida e trabalho, teve a ideia de iniciar o Projeto Terra, uma iniciativa de reflorestamento que transformou a paisagem desolada da fazenda. Mais de dois milhões de árvores foram plantadas, recriando parte do ecossistema que antes existia. Esse esforço de regeneração não apenas revigorou a região, mas também inspirou Salgado a conceber o Projeto Gênesis.
O projeto fotográfico exigiu uma preparação extensa, com dois anos dedicados à organização e mais oito anos de viagens contínuas por todo o planeta. Salgado documentou desde as paisagens geladas da Antártica até as florestas tropicais da Amazônia, passando pelas ilhas Galápagos e os vastos territórios do Ártico. O objetivo de Gênesis era claro: registrar o que ainda permanece intocado pela intervenção humana, revelando um mundo que, em muitos aspectos, ainda conserva sua pureza original.
Ao final de uma década de trabalho, Gênesis foi consolidado em duas obras literárias, uma das quais se tornou um sucesso de vendas nas livrarias. Além disso, o projeto deu origem a exposições em diversas partes do mundo, incluindo uma importante exibição no Museu do Eliseu, em Lausanne, Suíça. Essa mostra, que permaneceu aberta até janeiro de 2013, destacou a importância do projeto como um manifesto visual pela preservação ambiental.
O trabalho de Salgado em Gênesis não é apenas uma documentação fotográfica das paisagens naturais do mundo. É um convite à reflexão sobre o papel do ser humano no cuidado e na preservação do planeta. A trajetória do fotógrafo, que passou da desilusão profunda ao engajamento com a natureza, oferece uma lição sobre o potencial regenerador da ação humana, tanto no meio ambiente quanto na própria consciência coletiva.
Confira vídeo produzido pela Swissinfo
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Sebastião Salgado revela aspectos da produção fotográfica de Gênesis
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