Itapuã, substantivo mais que feminino | Por Juarez Duarte Bomfim

Recebo notícias do Poeta Fernando Coelho: “Juarez, estou trabalhando na nova edição do ‘Guia de Cheiros, Caminhos e Mistérios’, entre quitutes, farofas, moquecas, acarajés e abarás, esgrimidos no fogão pela mestra-cozinheira Nadir das Neves”.

A seguir, o Prefácio que elaborei quando do lançamento do poema ‘Balada de Itapuã’:

Itapuã, substantivo mais que feminino

O poeta Fernando Coelho é o mais baiano dos baianos, apesar de ter vivido grande parte de sua vida em exílio paulistano. Talvez por isso mesmo. A saudade da Bahia o fez reconstruir — no seu saudoso imaginário — a Bahia mítica, misteriosa, terra da bahiafricanidade.

Ogã do Ilê Axé Opô Afonjá, natural de Conceição do Almeida, amigo de ilustres baianos da gema e baianos por adoção — como Luciano Ferreira, Vivaldo Costa Lima, Carybé e Pierre Verger — esse também ilustríssimo baiano nos brinda com mais uma declaração de amor à Bahia: Balada de Itapuã.

O belo e sonoro nome — Itapuã — de origem tupi-guarani, designa um praieiro e encantador bairro da cidade do Salvador, situado no vértice norte da populosa urbe. Todavia, Itapuã é substantivo mais que feminino, pois, antes de ser bairro, é bela praia nordestina, reino do sol.

Outrora batizado de “Principado Livre e Autônomo de Itapuã”, tinha como principal fidalgo o gravurista Calasans Neto, erigido em príncipe daquelas plagas, pela generosa amizade do poetinha camarada. E foi ele mesmo, o poetinha, quem cantou a delícia que é “passar uma tarde em Itapuã”… ai.

Antes, Dorival Caymmi, cantor das graças da Bahia, bradou: “saudaaade de Itapuã…me deixa… me deixa!” Outro bardo, Caetano Veloso, em feitio de oração, rezou: “Itapuã, o teu sol me queima e o meu verso teima / em cantar teu nome, teu nome sem fim…”

Assim é Itapuã, tão versejada. Do “vento que faz cantiga / nas folhas no alto dos coqueirais” ao “diz-que-diz-que macio / que brota dos coqueirais” sua música persiste, agora no sonho do nosso zoonímico poeta. Diante daquele mar que não tem tamanho, o Coelho poeta saúda a Pedra-Q-Ronca, morada de mãe Yemanjá, reavivando o seu mito.

Qual merecida dama, Itapuã — a Bíblia do mar da Bahia — é aqui cortejada, seduzida, cercada de mimos: “quintal dos meus olhos… você me dá água na boca…” O poeta roga: “me deita em ti, Itapuã…” E prossegue, leiam.

Fernando é o homem de mil ofícios, por isso, listar aqui o seu currículo correr-se-ia o risco de não restar bytes no computador ou tinta no papel. No ofício de escritor, o nosso Coelho é autor de uma outra ode à Bahia, declaração plena de amor, no seu ”Salvador — Guia de Cheiros, Caminhos e Mistérios”, prefaciado pelo Amado Jorge dos baianos.

No sempiterno verão baiano, o autor aproveita o tempo passado entre as areias da praia e retorna à sua confortável vivenda, para organizar a nova edição do seu fundamental guia litero-gastronômico-turístico. Aguardamos, combatendo à sombra dos coqueirais, brindados pela magnitude deste poema quase-épico, mítico e transcendental — a Balada de Itapuã.

“Itapuã, sou o teu carteiro e não sei onde te deixar”. Já nos entregastes, Poeta.

Visite o site: http://www.fernandocoelhoescritor.com.br


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