Desde que o vendaval da Lava Jato atingiu alguns próceres da chamada República da corrupção, o patriarca da família mais poderosa do Brasil, Emílio Odebrecht, dono da maior empreiteira da América Latina, começou a soltar algumas farpas em direção ao ex-presidente Lula e à sua sucessora, Dilma Roussef, ameaçando os dois caso o seu filho, Marcelo Odebrecht, fosse preso.
Em um dos seus arroubos, o empreiteiro disse que “se prenderem o Marcelo, terão de arrumar mais três celas, uma para mim, outra para o Lula e outra ainda para a Dilma”. Tempos depois, na manhã de uma sexta-feira, 19 de junho de 2015, 459 dias após o início da Lava Jato, Marcelo foi preso em sua casa, no Morumbi, em São Paulo. Naquela ocasião, os agentes da Polícia Federal, cumprindo ordens do juiz Sérgio Moro, apresentaram-lhe o mandado de prisão preventiva. Era o começo da arrumação das celas.
A prisão de Marcelo fazia parte de um esquema que abrangia outros empresários, donos de empreiteiras, também envolvidos no cartel do chamado Petrolão. Segundo a força tarefa da Operação Lava Jato, esse cartel fraudara licitações da Petrobrás desviando bilhões de reais dos cofres da empresa, além de pagar propina a seus executivos e a políticos integrantes da base aliada do governo, com destaque para o PT e para o PMDB.
A cela destinada ao Lula ainda está sendo arrumada, mas, como se trata de um ex-presidente da República, deve ser uma cela especial, pois alguns juristas defendem a tese de que o título de doutor honoris causa é um diploma expedido por uma instituição de curso superior, que, por si só, garante a Lula uma cela especial. Ele recebeu o título de pelo menos sete universidades -no Brasil e no exterior-, como a Universidade de Coimbra e o Instituto de Estudos Políticos de Paris, conhecido como “Sciences Po”.
Lula deve a Emilio Odebrecht praticamente tudo, inclusive a cela, se conseguirem arrumar. O patriarca afirmou que ajudou financeiramente um dos filhos de Lula, Luís Cláudio, o lulinha, em relação a um negócio do futebol americano, inclusive com uma mesada de R$ 50 mil mensais durante três anos, a títuilo de patrocínio ao negócio.
Segundo o patriarca, a iniciativa de ajudar o lulinha ocorreu como uma espécie de retribuição à tentativa de Lula em melhorar a relação entre o seu filho Marcelo e a ex-presidente Dilma, pois essa, pelo visto, não se dava muito bem com o empreiteiro. Em troca, “ajudei o Luís Cláudio nesse negócio de futebol”.
Para Emílio Odebrecht, o acordo deu certo: “Marcelo continuou e realmente passou a ter uma relação muito positiva com a Dilma, eu diria até que tenho de admirar isso, porque eu não teria, não tenho afinidade sob nenhum aspecto”, afirmou.
A desenvoltura do patriarca foi criticada pela imprensa, principalmente pela postura que adotou por ocasião do seu depoimento. Emílio apareceu nas telas portando um permanente sorriso, contando -até de forma delirante-, suas peripécias nos bastidores dos governos petistas.
Pelo visto, ele está tentando arrumar a terceira cela para dona Dilma, que, antes de as delações se tornarem públicas, jurava que nada sabia nem que tiivera contato com os financiadores de sua campanha de 2014. Ela sempre alegou que as delações não mereciam nenhum crédito, por “surgirem de criminosos confessos” e não conterem nenhuma prova.
A afirmação de dona Dilma de que as delações não mereciam créditos parece não corresponder à realidade dos fatos. Marcelo Odebrecht não só confessou que pagava as propinas combinadas à cúpuilua petista, como que a ex-presidente sabia de tudo, inclusive de que boa parte dos recursos eram direcionados para o marqueteiro João Santana.
Alguns contatos usavam interlocutores, como o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega e o ex-tesoureiro da campanha, Edinho Silva. Segundo Marcelo, Mantega lhe disse que a ex-presidente queria substituir o ex-tesoureiro Vaccari Neto por Santana e Edinho no recolhimento do dinheiro repassado por fora.
Marcelo ainda declarou que tanto Lula como Dilma sabiam do esquema de propina montado na Petrobrás. “Pela lógica, eles sabiam que a razão pela qual eu estava doando aquela dimensão (de dinheiro) que eles conheciam, é porque eu tinha uma agenda grande”. A agenda que ele se refere diz respeito aos contratos da Odebrecht com o governo.
Para Lula, Marcelo destinou muito dinheiro, primeiramente um depósito de R$ de 35 milhões (ele também fala em R$ 40 milhões), administrado pelo ex-ministro Antonio Palloci. Diante disso, Emílio Odebrecht e Marcelo foram achincalhados pelo senador Magno Malta, que os chamou de rei e principe, dizendo que os dois arquitetavam o roubo, “botavam os senadores e deputados para roubarem e depois davam um cala a boca para cada um”.
As celas a que se refere Don Emílio são apenas bravatas, pois ele sabe que nenhum tribunal deste país, principalmente o STF, manterá as prisões determinadas pelo juiz Sergio Moro, principalmente porque a única prova existente é o depoimento dos delatores, inclusive o dele.
*Luiz Holanda é advogado e professor universitário.
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