Suruba geral | Por Luiz Holanda

José Renan Vasconcelos Calheiros, Romero Jucá Filho, José Sarney e Sérgio Machado, o núcleo de poder do PMDB é conduzido para o centro da conspiração e do esquema de corrupção do Caso Lava Jato.
José Renan Vasconcelos Calheiros, Romero Jucá Filho, José Sarney e Sérgio Machado, o núcleo de poder do PMDB é conduzido para o centro da conspiração e do esquema de corrupção do Caso Lava Jato.
José Renan Vasconcelos Calheiros, Romero Jucá Filho, José Sarney e Sérgio Machado, o núcleo de poder do PMDB é conduzido para o centro de uma conspiração e de um esquema de corrupção do Caso Lava Jato.
José Renan Vasconcelos Calheiros, Romero Jucá Filho, José Sarney e Sérgio Machado, o núcleo de poder do PMDB é conduzido para o centro da conspiração e do esquema de corrupção do Caso Lava Jato.

A canção, se é que podemos assim chamar, dos Mamonas Assassinos, “Vira Vira”, começa dizendo que alguém foi convidado para uma festa de suruba mas não pôde ir, colocando uma Maria em seu lugar. Depois de uma semana, ela voltou “pra” casa toda arregaçada, não podendo, sequer, sentar. “Quando vi aquilo fiquei assustado, Maria chorando começou a me explicar. Daí então eu fiquei aliviado, e dei graças a Deus porque ela foi no meu lugar”.

A frase da canção que fala em festa de suruba deve ter sido a que inspirou o senador Romero Jucá a tentar aliviar a barra com as acusações que pesam sobre sua pessoa dizendo que, se é para acabar com o foro privilegiado, que seja para todo mundo, pois “suruba é suruba. Aí é para todo mundo, não uma suruba selecionada”.

Jucá é um homem visado. Acusado de corrupção por tudo quanto é lado, sempre serviu aos governos para se manter no poder. Quando sente qualquer ameaça ao seu bem estar, simplesmente deixa o governo, sem nenhuma explicação convincente. Rompeu com o PT muito antes do seu partido, o PMDB. Foi um dos maiores aliados de Lula e Dilma. Serve a qualquer governo, pois não aguenta ficar fora do poder.

Em 2005 chegou a ser nomeado ministro da Previdência Social de Lula, mas não ficou muito tempo, pois foi obrigado a deixar a pasta devido ao desgaste causado pelas acusações de que teria oferecido ao Banco da Amazônia (BASA) fazendas inexistentes, como garantia de empréstimo feito pelo banco à empresa Frangonorte, da qual foi sócio entre 1994 e o final de 1996.

Apesar de sua péssima reputação, Jucá tem razão quando diz que suruba é suruba, não dá para selecionar. Se é para diminuir os privilégios da corrupção, que seja pra todo mundo. O problema é que a ideia foi exposta justamente quando ele se encontrava sob fogo cruzado, entre o Ministério Público e o Supremo Tribunal Federal, onde, inclusive, pode ser processado, caso se comprove o suposto lamaçal do qual é acusado.

A suruba sugerida tem dois objetivos: o primeiro é mandar o recado de que sabe muita coisa de gente integrante dos demais poderes, significando, portanto, uma ameaça. A segunda, como não podia deixar de ser, é uma tentativa de blindagem geral, pois sabe que o pensamento do povo em relação aos poderes no Brasil é que todos são independentes, harmônicos e corruptos entre si.

Não se pode esquecer que Jucá foi o primeiro a deixar o governo Temer depois que veio a público a gravação do diálogo entre ele e Sérgio Machado, feita por este último. Nesta ele aparece dizendo que era preciso “estancar a sangria” decorrente da Lava Jato, e fazer um “grande acordo nacional” para derrubar Dilma Roussef e colocar Michel Temer em seu lugar.

O senador já teve cargo no governo Sarney, no de Fernando Collor, no do “sociólogo” Fernando Henrique Cardoso e no governo do ex-presidente Lula, sendo que, nesse último, durou quatro meses, pois teve de se demitir em meio a denúncias de corrupção. Em matéria de ocupar cargo público, Jucá é a própria suruba; serve a todos os governos.

Alguém já disse que para se governar em paz é impossível deixar de fazer composições com esse tipo de político. Também não se pode dizer que não bebeu desta água até se fartar. Ninguém, nem Sarney, nem Collor, nem FHC, nem Lula, nem Dilma pode se eximir da responsabilidade pelo poder que Jucá sempre teve em seus governos.

Jucá sabe que nada lhe acontecerá. Ele e Renan Calheiros comandam o Senado como bem querem, e tanto isso é verdade que, indagado sobre o seu comportamento depois das denúncias, respondeu: “Vou continuar agindo aqui do jeito que sempre agi”, ou seja, dentro da suruba geral.

*Luiz Holanda é advogado e professor universitário.


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