
Foi celebrado em Ajijic, Jalisco, México, entre 23 a 25 de fevereiro de 2018 o Congresso Plantas Sagradas nas Américas. Povos originários das 3 Américas, cientistas e ativistas compartilharam seus conhecimentos, trabalhos e projetos no evento, que contou com a apresentação de 140 expoentes e mais de 1500 participantes de diversos países.

No reino vegetal encontram-se verdadeiras dádivas de Deus: sementes, folhas, flores, frutos, raízes, cactos e cipós com surpreendentes propriedades transcendentais, levando o usuário das beberagens preparadas com tais substâncias a estados elevados de consciência, despertando o Divino que existe em cada um de nós. “Vós sois deuses, todos vós sois Filhos do Altíssimo” (Salmos 82: 6).
Por que somos tão fascinados por estados alterados de consciência? Por que a nossa ânsia, como indivíduos, da incessante busca de estados não-ordinários de consciência?
O impulso do indivíduo a utilizar substâncias que alteram a consciência pode ser visto, mesmo de maneira difusa, como um desejo sincero de experimentar o transcendente, o extraordinário.
A busca universal por estados de consciência elevados se alicerça em uma “sede de plenitude”, no anseio por estados de consciência mais amplos e íntegros. E então acontece o despertar da aventura enteogênica…
Enteógeno significa o advento de Deus e do sagrado dentro de nós. A experiência mística que se revela ao beber o Divino. Porém, a experiência do sagrado em cada um só se dá pela graça: é a planta sagrada que lhe escolhe, e não o contrário.
Existem muitas variedades de plantas sagradas, plantas professoras. Por circunscrição experiencial eu testifico de uma: a milenar bebida ayahuasca, também chamada de Daime ou Vegetal — entre outras denominações.
Todavia, reconheço e respeito a existência de outras dádivas da mãe natureza, como relacionei no início desta breve comunicação. Repetindo: são sementes, folhas, flores, frutos, raízes, cactos e cipós com surpreendentes propriedades transcendentais, levando o usuário das beberagens preparadas com tais substâncias a estados elevados de consciência.
Povos originários dos 5 continentes são detentores dos poderes contidos nas plantas mágicas, plantas maestras, desde tempos imemoriais. Da bebida Soma citada nas escrituras sagradas da Índia, ao peyote da mesoamérica ou a ayahuasca da Amazônia, essas plantas sagradas são usadas como remédio para os males do corpo, mente e espirito.
O uso destas beberagens por povos originários está diretamente imbrincado às suas culturas, suas civilizações milenárias. São partes constitutivas da existência de suas comunidades e relações estabelecidas entre si, suas percepções de mundo, suas cosmologias.
Demais povos, como as civilizações urbanas contemporâneas, podem se apropriar destes conhecimentos ancestrais e ressignificá-los, legitimamente. Dessa apropriação surgiram, por exemplo, as religiões ayahuasqueiras brasileiras.
O campo de estudos e análise dos enteógenos é rico e diverso, e chama a atenção de especialistas nas áreas de conhecimento como antropologia, sociologia, história, psicologia, farmacologia, botânica, psiquiatria, neurociência… entre outros.
Sem esquecer da primazia, nestes debates, dos usuários das substâncias enteógenas: povos originários e comunidades religiosas. Suas vozes, seus conhecimentos mágicos, transcendentais e empíricos. É bom reafirmar isso porque, movidos pela hegemonia do conhecimento científico com status de uma suposta verdade — a verdade científica — a vaidade dos cientistas é alimentada e estes, no autoengano, muitas vezes passam a se considerar os principais protagonistas ao tratar do tema dos enteógenos, quando são, de fato, os últimos.


Plantas Sagradas nas Américas
Foi celebrado em Ajijic, Jalisco, México, entre 23 a 25 de fevereiro de 2018 o Congresso Plantas Sagradas nas Américas. Povos originários das 3 Américas, cientistas e ativistas compartilharam seus conhecimentos, trabalhos e projetos no evento, que contou com a apresentação de 140 expoentes e mais de 1500 participantes de diversos países.
Os três dias da Conferência foram divididos em 12 painéis, que trataram, dentre outros temas, de ayahuasca, peyote, psicodelia, política de drogas, história e antropologia, práticas medicinais atuais e tradicionais e o processo contemporâneo de globalização.
O evento foi organizado pela antropóloga brasileira Bia Labate (Beatriz Caiuby Labate). Bia dispensa apresentações, ela é referência mundial entre os Cientistas Sociais, e faz parte daquele seleto clube de criadores de paradigmas: é dela o conceito mundialmente aceito, que cunhou e definiu: “neoayahuasqueiros” — o fenômeno contemporâneo de novos usos da Ayahuasca.

O Congresso Plantas Sagradas nas Américas foi realizado em confortável Centro de Convenções de um luxuoso hotel às margens do lindo Lago Chapala, em dias quentes e ensolarados, o que contribuiu para um clima de happening festivo, de celebração, que encantou a todos.
Agora, os organizadores disponibilizam no YouTube os vídeos em espanhol (com legendas em inglês) da Conferência Plantas Sagradas en las Américas. Tudo o que ocorreu naqueles profícuos dias foi registrado: 1 documentário, 20 teasers e 42 painéis.
Abaixo, o link do vídeo no YouTube da Palestra Los Indígenas Brasileños como Principales Protagonistas en el Uso de la Ayahuasca y sus Debates Públicos, por Juarez Duarte Bomfim no Congreso Plantas Sagradas en las Américas (Ajijic, Jalisco, México, 23-25/2/2018).
A fala de Juarez começa aos 16 minutos do vídeo, e estou muito bem acompanhado ao lado de Enio Staub e outros, na Mesa Globalización de Ayahuasca,
Assistam!