Ao eminente casal amigo Marcela e Michel Temer
O jovem e brilhante economista francês Thomas Piketty, em seu badalado bestseller Le capital au XXIe siècle, justifica, com delicada compreensão, os graves erros de avaliação cometidos por Marx e Engels, bem como por seus inspiradores e seguidores imediatos, como derivados da falta de acesso a dados da factual realidade econômica do seu tempo, simplesmente por, então, inexistirem. A compilação que permitiu a realização de trabalhos da qualidade dos seus e de outros foi conquista de intenso mutirão acadêmico partilhado pelos mais avançados centros universitários do Ocidente, pondo fim ao wishful thinking, fonte segura de comprometimento da indispensável neutralidade axiológica sem a qual a reflexão científica, no campo social, não seria possível. Daí advêm os erros primários encontrados nesses pioneiros que não deixam de merecer, por isso, o reconhecimento da posteridade. Os equívocos de interpretação cometidos por Engels em seu livro The Condition of the Working Class in England, por ele mesmo reconhecidos, pouco antes de morrer, dão testemunho disso.
O médico e estatista sueco Hans Rosling (1948-2017), demonstra em seu livro Factfulness – o hábito libertador de só ter opiniões baseadas em fatos, traduzido, também para o Português -, como pessoas cultas, mundo afora, alimentam convicções da maior importância para suas vidas e da sociedade, apoiadas em interpretações sem a mínima sustentação factual. Com a maior pompa acadêmica, deitam falação a partir de premissas inteiramente falsas. Perderam para macacos em testes sobre o conhecimento da realidade. Extrapolando exceções, ignoram que o bem estar da humanidade vem melhorando, exponencialmente, em requisitos como a longevidade, o IDH, a segurança pública, a redução da mortalidade infantil, a redução da pobreza, a melhoria das condições habitacionais e sanitárias. Poucos sabem, por exemplo, que enquanto no ano de 1.800, quando a população mundial era de dois bilhões de pessoas, 90% viviam abaixo da linha da pobreza – com, apenas, 10% acima -, hoje, com 7.8 bilhões, esses percentuais se inverteram, de tal modo que os mais pobres, logo acima da linha da pobreza, usufruem de uma qualidade de vida entre igual e superior à de qualquer milionário, cem anos atrás. Basta mencionar o ar refrigerado, a TV, o celular e as facilidades de transporte, à época inexistentes. Por favor, não raciocinem a partir dos dados sociais da população baiana, os piores do Brasil e da América do Sul.
Da geração millenials – os nascidos entre 1980 e 1990 -, ambientados com a cultura tecnológica dos países ricos, 51% se identificam como socialistas e mais 7% se declaram comunistas, com, apenas, 42% optando pelo capitalismo. Essa juventude de países prósperos, não obstante usufrutuária de uma abundância sem precedentes, clama por medidas de cunho marcadamente socialista, como intervenção estatal e limitações da liberdade de mercado, o mesmo mercado que lhe assegura conforto excepcional.
Segundo Camille Paglia, festejada feminista de esquerda, essa postura decorre da ignorância dessa geração em matéria de história da Economia, levando-a a crer que sempre houve e haverá abundância e liberdade de escolha, mesmo ocorrendo a destruição do sistema produtivo e de distribuição dos bens e serviços. Algo assim como se os alimentos e os bens à venda viessem dos shopping centers e dos supermercados. Atuam como se acreditassem que o ideal seria entregar todo o sistema produtivo a cargo do Governo. A juventude atual foi criada com facilidades inéditas, a ponto de perder o senso de realidade. Em outras palavras: pessoas ignorantes sobre história e economia acreditam que a abundância sempre existiu, como na atualidade. Acreditam que, sob o socialismo, toda esta abundância está assegurada, com a vantagem de passar a ser gratuita para todos. Como resistir a tamanho apelo?
Em semelhante conexão, o jornalista, tradutor, doutor em antropologia social e escritor brasileiro Flávio Gordon (1979- ) explica, com argúcia, na linha de muitos outros pensadores, a tendência de alguns milionários fomentarem, com discursos e com dinheiro, políticas e práticas socializantes, Brasil e mundo afora. Uma vez detentores de uma posição de monopólio, esses milionários passam a apoiar o socialismo para se livrarem do desconforto da competição, seguros de que, a exemplo do que tem sucedido com todos os regimes socialistas, logo se converterão ao fascismo, do qual serão o braço econômico. Basta lembrar as “empresas campeãs” do “socialismo fascista” dos governos Lula-Dilma.
Essa e outras questões correlatas são o objeto de nosso livro Esquerdas e direitas: a superioridade da sociedade aberta, já no prelo.
*Joaci Fonseca de Góes, advogado, jornalista, empresário e ex-deputado federal constituinte.
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