Salvador, segunda-feira, 08/08/2022 — O ex-prefeito de Salvador e então candidato ao governo da Bahia nas Eleições 2022, ACM Neto (União Brasil), declarou à Justiça Eleitoral possuir um patrimônio de R$ 41.718.572,69, segundo dados disponíveis no sistema DivulgaCandContas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O valor representa uma multiplicação superior a 40 vezes em relação ao seu patrimônio declarado em 2002, quando ingressou na vida política como deputado federal.
O crescimento patrimonial de ACM Neto ao longo de 20 anos de atividade pública levanta questionamentos sobre a origem dos recursos, considerando que o político exerceu exclusivamente mandatos eletivos e não atuou no setor privado durante esse período.
Evolução patrimonial declarada por ACM Neto
Levantamento realizado pelo Jornal Grande Bahia com base em dados oficiais da Justiça Eleitoral revela os seguintes valores declarados por ACM Neto:
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2002: menos de R$ 1 milhão (valor exato não consta no sistema TSE)
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2006: R$ 820.561,15
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2010: R$ 2.541.751,04
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2012: R$ 13.327.167,12
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2016: R$ 27.886.721,62
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2022: R$ 41.718.572,69
Cargos ocupados e crescimento exponencial de bens
Durante o período entre 2002 e 2022, ACM Neto exerceu três mandatos como deputado federal (2003–2012) e dois mandatos como prefeito de Salvador (2013–2020). A análise dos dados mostra que:
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Entre 2010 e 2022, seu patrimônio passou de R$ 2,5 milhões para R$ 41,7 milhões — um aumento de 1.540%.
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Entre 2012 e 2016, período em que exercia o primeiro mandato como prefeito, o patrimônio passou de R$ 13,3 milhões para R$ 27,8 milhões — crescimento de 108% em quatro anos.
Esses dados apontam para uma evolução patrimonial muito superior ao que seria compatível com a remuneração legal de cargos públicos eletivos, mesmo considerando aplicações financeiras bem-sucedidas ou valorização de bens.
Ausência de explicações públicas sobre a origem do patrimônio
Apesar do crescimento expressivo, não há registro de que ACM Neto tenha apresentado esclarecimentos públicos detalhados sobre a origem dos recursos que possibilitaram a acumulação desse patrimônio. O tema não tem sido abordado com profundidade em entrevistas ou nos debates eleitorais, o que contribui para o aumento das especulações.
De modo geral, espera-se de figuras públicas um nível elevado de transparência, especialmente quando há discrepâncias notáveis entre ganhos oficiais e evolução patrimonial. Embora os dados declarados estejam em conformidade com as exigências legais, a lacuna na comunicação com o eleitorado pode comprometer a percepção de integridade e confiança pública.
Contexto histórico e familiar
ACM Neto é neto do ex-governador e ex-senador Antônio Carlos Magalhães, uma das figuras mais influentes da política baiana e nacional no século XX. Desde o início da carreira, o político esteve vinculado a estruturas tradicionais de poder, com forte presença em campanhas eleitorais e alianças institucionais.
A família Magalhães é reconhecida historicamente por sua atuação no cenário político e pelo controle de estruturas estatais, sobretudo no período em que ACM avô esteve à frente do Executivo estadual e como ministro das Comunicações durante o regime militar.
Transparência, accountability e interesse público
O caso de ACM Neto destaca um debate central sobre a necessidade de mecanismos de controle público do enriquecimento de agentes políticos. A legislação brasileira exige a declaração de bens, mas não impõe critérios objetivos para a verificação da compatibilidade entre renda e patrimônio. Essa brecha permite que aumentos substanciais de riqueza ocorram sem questionamentos formais, a menos que haja investigação judicial ou ação do Ministério Público.
Para fortalecer a confiança nas instituições, é fundamental que o debate sobre patrimônio de políticos seja conduzido de forma técnica, com base em dados, transparência e responsabilidade institucional, evitando tanto o julgamento precipitado quanto a omissão.
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