O voto dos cultos e dos ignorantes | Por Joaci Góes

Livro 'O Voto do Brasileiro', obra de autoria de Alberto Carlos Almeida, é um guia didático e revelador em edição bilíngue sobre o processo eleitoral brasileiro, as carências e desigualdades do país e o que as urnas nos reservam A partir da análise de mapas comparativos inéditos sobre o comportamento eleitoral do brasileiro nos últimos 12 anos, o cientista político Alberto Carlos Almeida destrincha as últimas três eleições presidenciais no Brasil e projeta um possível cenário para as eleições presidenciais de 2018. Do ponto de vista do comportamento eleitoral, as eleições presidenciais brasileiras são bem estruturadas e previsíveis, e em nada devem às eleições nacionais dos países que consideramos exemplo de desenvolvimento. Ao final destas páginas, o leitor certamente vai chegar a uma conclusão sobre as eleições deste ano; mas o livro não se esgota aí. O que tem de melhor é o retrato que faz do Brasil e o olhar que projeta para além das urnas, o que o torna leitura obrigatória a todos que se interessam por política.
Capa do livro 'O Voto do Brasileiro', obra de autoria de Alberto Carlos Almeida.

Para o velho amigo e bom economista João Quadros!

Em livro intitulado ‘O voto do Brasileiro’, o cientista político Alberto Carlos Almeida disseca a tendência eleitoral de cada uma das diferentes regiões do País, consoante, sobretudo, sua escolaridade e renda, a exemplo do que ocorre em praticamente todos os países democráticos, observadas as naturais reduções sociológicas, como recomendou o pensador baiano, de Santo Amaro, Alberto Guerreiro Ramos.

Brasil e mundo afora, os mais pobres e menos cultos votam nos que adotam um discurso de centro-esquerda, enquanto os de melhor escolaridade e mais bem aquinhoados, materialmente, preferem os candidatos de centro-direita.

A rigorosa observância dos mapas eleitorais das últimas cinco eleições presidenciais – 2002, 2006, 2010, 2014 e 2018 – deixa claro que o voto do nordestino, que representa 27% do colégio eleitoral brasileiro, majoritariamente pobre e inculto, é destinado ao PT, enquanto o eleitorado de São Paulo, com melhor escolaridade e renda mais alta, representando 23% do eleitorado nacional, vota nos candidatos que se opõem ao PT. O Sul, também mais educado e mais rico do que o Nordeste, vota, preferencialmente, nos candidatos de centro-direita. As pesquisas eleitorais do momento, que começaram aparentando uma mudança de padrão, avançam no sentido de confirmar essa mesma tendência.

A partir desse levantamento estatístico e factual, o analista dispõe de rico material para fazer projeções de cenários sobre as eleições gerais de outubro próximo, desde que, obviamente, incorpore o que está acontecendo, elemento contributivo do quantum diferencial a cada processo eleitoral, de modo a se libertar, ao máximo, das armadilhas do wishful thinking (pensamento condicionado pelo desejo). Pessoalmente, sempre fazemos um grande esforço para não confundir o que vemos com o que desejamos, o que nem sempre ocorre. A análise a seguir não foge a esse risco calculado.

O quadro que deparamos, neste momento, aponta no sentido de assegurar que as eleições presidenciais serão decididas no segundo turno, entre os candidatos que lideram a corrida, apesar de grande parte desses eleitores reconhecerem que há nomes que seriam preferíveis a qualquer dos dois líderes atuais, tendo em vista que qualquer deles dividirá o País, de um modo que fica difícil saber qual dos dois seria mais odiento.

Para o analista atento, parece claro que cada um dos dois líderes desejou e deseja disputar com o outro, como se Deus e o Diabo fossem, um dependendo do outro para existir. Lula só foi libertado pelo STF porque Bolsonaro nada fez para impedi-lo, desejando mesmo confrontá-lo como meio de destruí-lo e ao PT que, como se sabe, ambos se desviaram do prometido curso da decência e de agir no interesse da sociedade brasileira. Em razão do bom governo que vem realizando, o Presidente Bolsonaro criou uma legião de seguidores apaixonados, paralelamente a uma rejeição de igual tamanho, gerada por sua desmesurada capacidade de marcar gols contra. Esse o grande obstáculo a vencer para renovar o mandato, objetivo central a ser perseguido, ao longo da campanha do segundo turno.

A verdade é que a distância entre o que realizaram os governos petistas e o atual é verdadeiramente abissal. Nada mais a fazer do que a massificação dos dados comparativos entre os dois estilos de governar.

De todo modo, independentemente do resultado, o Mundo ficará sabendo quantos brasileiros há que não se importam em votar em ladrões.

*Joaci Góes, advogado, jornalista, empresário, ex-deputado federal constituinte e presidente do Instituto Histórico e Geográfico da Bahia (IGHB).


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