Localizada no Centro Histórico de Salvador, perto da Praça Castro Alves, a Rua Chile é a mais antiga rua do Brasil, construída em 1549, na mesma data do nascimento da cidade, por Tomé de Souza -primeiro governador-geral do país. Antes se chamava Rua Direita dos Mercadores; depois, Rua Direita do Palácio. A denominação atual veio da Câmara Municipal de Salvador, em homenagem à visita da esquadra da Marinha de Guerra do Chile à Bahia.
Um dos seus famosos edifícios e ponto de encontro era o Hotel Palace, construído sob inspiração do Flatiron Building de Nova York. Cenário do romance “Dona Flor e Seus Dois Maridos”, do baiano Jorge Amado, era nesse luxuoso hotel que Vadinho, o primeiro marido de Dona Flor, costumava passar as noites jogando no cassino que funciou no local até o ano de 1946. Epicentro das comemorações do período de Carnaval, por ela desfilavam os blocos carnavalescos no início dos cortejos, cantando suas marchinhas.
Ao longo dos anos de 1970, uma figura enigmática — e até certo ponto amedrontadora—, por ela perambulava todos os dias. Era a Mulher de Roxo, personagem hilária e folclórica, chamando a atenção dos transeuntes. Todos os dias desfilava com um vestido da mesma cor e muito parecido com o hábito usado pelas freiras. Até hoje não se sabe qual era o seu nome, se Florinda dos Santos ou Doralice. Outra grande figura era o guarda de trânsito Armando Marques da Silva, o Pelé, que ficou famoso por colocar ordem na agonia das ruas enquanto dançava coreografias elaboradas, dignas de verdadeiras performances, aplaudidas pelos que assistiam.
Algumas de suas lojas serviam como “point”: a Slopper, a Adamastor e a Duas Américas. Na Slopper, que na realidade era um magazine, se encontrava de tudo, desde os chamados artigos de cama e mesa a presentes, além de bijuterias, brinquedos, pratarias e moda feminina. Outra loja famosa era a Adamastor, um marco na organização da cidade. Pertencia ao comerciante Adamastor, pai do cineasta Glauber Rocha. A extinta Duas Américas deu espaço à primeira escada rolante de Salvador, em 1958. Outros locais também eram frequentados pela sociedade baiana, mas essas três lojas faziam as vezes dos atuais shoppings.
Para os que conheceram a Rua Chile na época do seu glamour, o Cine Guarany era uma referência. Foi nesse cinema que grandes filmes foram lançados, especialmente depois da reabertura em 1955. E a Sorveteria Cubana? localizada no prédio da parte alta do Elevador Lacerda (Praça Municipal), era ali que as moças iam, à tarde, tomar um sorvete. A Rua Chile é cheia de recordações. Com suas calçadas que o tempo gastou, sempre nos faz recordar o passado, essa longa rodovia da saudade, que nos permite dizer, mesmo de forma nostálgica, que ontem era melhor do que hoje. E como era.
*Luiz Holanda, advogado e professor universitário.
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