Educação ou catástrofe | Por Joaci Góes

Herbert George Wells, conhecido como H. G. Wells, foi um escritor britânico e membro da Sociedade Fabiana.
Herbert George Wells, conhecido como H. G. Wells, foi um escritor britânico e membro da Sociedade Fabiana.

Ao desembargador Ivanilton Santos da Silva!

O título acima foi inspirado no pensador inglês H. G. Wells (Herbert Georges Wells, 1866-1946), ao sustentar que “A história humana é, cada vez mais, uma corrida entre a educação e a catástrofe”. Wells queria referir-se, já nas primeiras décadas do Século XX, à imperiosa necessidade de educar o Homem de modo a impedir a consumação de sua incomparável aptidão para destruir o mundo a seu redor, a ponto de um psicanalista havê-lo definido como “o câncer do meio-ambiente”. Naquele momento, Wells ainda não tinha como saber que, antes daquele temido colapso final, a educação seria instrumento indispensável para impedir a desarmonia das relações sociais entre pessoas educadas e ignorantes, na sociedade do conhecimento em que passamos a viver, a partir dos anos 1970, poucas décadas decorridas de sua morte, aos 80 anos.

Só em países que negligenciam a educação, como o Brasil e as venezuelas do Terceiro Mundo, é que prospera o famoso anátema de Rui: “De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra; de tanto ver crescer a injustiça; de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto.”

Precedendo o Águia de Haia, Nicolau Maquiavel (1469-1527), o famoso autor do clássico O Príncipe, advertiu-nos que “Um povo que aceita, passivamente, a corrupção e os corruptos, não merece a liberdade. Não tem futuro, só tem passado. Merece a escravidão.  Um país cujas leis são lenientes e beneficiam bandidos, não tem vocação para a liberdade. Seu povo é escravo por natureza. Uma nação onde a suposta sociedade civil só se movimenta acionada pela avidez do lucro não é capaz de legar algo de valor à posteridade, apenas dias sombrios. Uma pátria que acha normal o recebimento de dinheiro sujo não é digna desse nome, já que nela é impossível brotar o patriotismo. Em seu lugar, brotam interesses e aparências. Um país em que os poucos que se pautam por valores morais, como honestidade, ética e honra são sufocados e massacrados, já foi tragado pelo abismo da própria indecência, sem que o saiba. Uma sociedade em que muitos homens e mulheres se satisfazem com sórdidos divertimentos e caem em transe profundo, não merece sobreviver. Só os bravos que se rebelam contra este estado de depravação merecem minha admiração. Pelos que aceitam esse estado de calamidade não tenho a menor compaixão, como não tenho a menor consideração pelos que apoiam e protegem bandidos”.

Esse ambiente pantanoso, pautado pela subversão dos valores e valorização da esperteza em lugar do mérito, é o caldo de cultura ideal dos que colocam a conquista do poder, a qualquer preço, como sua aspiração máxima, propósito malsão que tem na manutenção de uma população majoritariamente ignorante seu projeto político maior.

A consequência para nós brasileiros, tolerantes com a corrupção, reside na abissal distância entre o que somos e o que poderíamos/deveríamos ser, tendo em vista o conjunto de nossas riquezas e vantagens comparativas sobre tantas nações que são muito mais do que somos, apesar da ostensiva carência de recursos naturais. O grande diferencial reside no valor que conferem à educação, tornando-a accessível a todos.

Por tudo isso, nunca é demais repetir: a educação é o caminho mais curto entre o atraso e o desenvolvimento; entre a pobreza e a prosperidade; entre o estado de barbárie em que já nos encontramos e o avançado estágio civilizatório que nosso povo aspira.

Numa palavra: temos que escolher entre educação que redime e exalta e a catástrofe da ignorância coletiva.

*Joaci Góes, advogado, jornalista, empresário, ex-deputado federal constituinte e presidente do Instituto Histórico e Geográfico da Bahia (IGHB).


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